Benigna é a saúde

Como se pode chamar benignos a tumores que matam pessoas? Benigno, em português, quer dizer uma coisa que faz bem, que é afectuosa e bem-intencionada ou, quando muito, não é grave. Ser benigno, em suma, é sempre uma coisa boa.

Pelo que vi, há até tumores cancerosos que, por não se prestarem a metástases, ficarem no mesmo sítio, crescerem pouco e, finalmente, não serem a causa da morte, são considerados benignos.

Benigno, por isso, nem sequer diz que um tumor não é canceroso. Embora seja isso que queira dizer a maior parte das vezes. Erradamente. O adjectivo "benigno" deveria ser abolido da terminologia médica. O mais das vezes apenas significa "tem sorte, poderia ser pior, é improvável que morra por causa disso".

Assim como existe o pré-canceroso (por exemplo com o HPV-16 e HPV-18 no colo do útero) deveria existir o canceroso potencialmente não-letal. A palavra "cancro" e as palavras "cancerosa" e "canceroso" são parva e perigosamente evitadas desde que se começou a saber alguma coisa (pouca) sobre o cancro e as maneiras como cada caso de cancro pode diferir de todas as anteriores.

O maniqueísmo estúpido do "benigno e maligno" tem de ser abandonado para beneficiar a clareza, as distinções e a fundamental honestidade da importância das diferenças, cada vez mais vivas e vividas e complexas.

Penso nas pessoas amigas que conheci e que morreram pouco ou muito depois por causa de tumores que tinham sido descritas como sendo benignos. E choro. Mais ainda.

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