Bebé retirado a portuguesa em Inglaterra foi entregue para adopção

A informação é confirmada pela Secretaria de Estado das Comunidades.

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Iolanda Menino, em Abril, junto à embaixada britânica em Lisboa manuel gomes

O filho da portuguesa Iolanda Menino e do inglês Leonardo Edwards, ambos residentes no Reino Unido, foi encaminhado para adopção, segundo a Secretaria de Estado das Comunidades, em resposta a um pedido de informação do PÚBLICO. A decisão final foi proferida nesta sexta-feira pelo Tribunal de Portsmouth. O bebé nasceu 1 de Fevereiro e a 9 foi retirado à família pelos Serviços Sociais de Southampton.

No mês passado, o tribunal já tinha declarado que o destino do filho do casal, que está quase com seis meses, seria a adopção, mas uma audiência final foi marcada para esta sexta-feira. E a decisão manteve-se.

Iolanda e o pai do bebé têm estado em Portugal, em campanha para que o filho lhes seja devolvido. No fim-de-semana passado marcaram presença na concentração promovida pelo Moto Clube de Faro, naquela cidade algarvia, para “alertar para o drama que está a viver”. A mãe levou cartazes e contou com o apoio da organização. À Lusa queixou-se: “Apesar de termos revelado a nossa situação, temos tido muito pouco apoio em Portugal, nomeadamente do Governo.”

Também chegou a abordar o presidente Marcelo Rebelo de Sousa e o primeiro-ministro, António Costa, e a promover vigílias em Lisboa, em frente à embaixada britânica.

Segundo informou há algumas semanas a secretaria de Estado, durante uma das audiências no tribunal as autoridades portuguesas chegaram a solicitar ao Tribunal de Portsmouth algum tempo para tentar estabelecer contacto com os avós da criança, que residem na Figueira da Foz. Mas nem os avós nem os pais responderam às tentativas de contacto feitas.

Só entre Janeiro e Abril, houve 17 crianças retiradas a pais portugueses a viver em Inglaterra, informou em Abril Joana Gaspar, cônsul-geral de Portugal em Londres.

Como tudo começou

O bebé de Iolanda Menino e Leonardo Edwards nasceu em casa do casal, com a ajuda de uma doula e de uma enfermeira do serviço nacional de saúde. A mãe acabou por sofrer uma hemorragia — segundo ela porque a enfermeira puxou indevidamente o cordão umbilical —, o que fez com que tivesse que ir para o hospital, para ser operada. O bebé, contudo, estava bem.

Uma vez regressada a casa começaram os problemas. Funcionários dos serviços sociais e polícia quiseram ver o bebé — mas o casal apenas o mostrou pela janela. Iolanda disse numa entrevista ao PÚBLICO em Abril que desconhecia a obrigação de deixar as “midwives” entrar em casa e avaliar a criança.

Acabou por ser intimada a ir ao hospital com o filho. Internaram-no por apresentar sinais de icterícia. Ainda pôde estar com ele algum tempo, mas a 9 de Fevereiro a criança foi levada.

Apesar de ter recebido “um papel do tribunal” que a proibia de falar do caso e revelar detalhes sobre o processo, Iolanda e Leonardo criaram uma página no Facebook chamada Our baby was snatched by the Social Services, onde foram dando conta, nos últimos meses, das várias diligências que fizeram, dos protestos com cartazes que organizaram, das entrevistas que deram. Também foram publicando vários artigos sobre adopção forçada e tráfico de crianças e solicitando donativos para continuarem a “luta”. “É desumano pensarem que eu maltratei o meu bebé e que sou um risco para o meu bebé”, escreve Iolanda.

A portuguesa é técnica de cardiologia. Leonardo Edwards, o companheiro, foi notícia no ano passado, na BBC, por vender uma substância na Internet que, diz, ajuda a tratar várias doenças, como o autismo, mas que segundo a BBC pode, na verdade, ser muito perigosa. O casal tem sempre negado que seja perigosa, mas há documentos no processo do bebé que mostram que as notícias sobre as actividades do pai, tal como o facto de o casal não querer receber em sua casa os funcionários que iam ver a criança, terão preocupado os serviços sociais desde o início.

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