Bastonário dos médicos espera “solução rápida” para blocos de parto

Miguel Guimarães levou nesta segunda-feira ao Presidente da República as preocupações dos clínicos com a falta de investimento no SNS. A situação mais complexa é aquela que se vive nos serviços de obstetrícia.

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Enric Vives-Rubio

O bastonário da Ordem dos Médicos está muito preocupado com a “situação complexa” que se vive actualmente nos blocos de parto dos hospitais públicos e espera que seja encontrada uma “solução rápida” entre as reivindicações dos enfermeiros e o Governo.

“Trata-se de uma situação muito complexa, em que de um lado estão os enfermeiros especialistas a entregar os seus títulos profissionais, de outro as necessidades das nossas grávidas, e os médicos ginecologistas e obstetras estão no meio: não podemos manter esta situação ad eternum, tem de ser encontrada uma solução rápida entre enfermeiros e Governo, têm de sentar-se à mesa e conversar”, disse Miguel Guimarães ao PÚBLICO.

O bastonário teme mesmo que esta situação venha a ter “repercussões” no futuro relacionamento entre médicos e enfermeiros, sobretudo porque a actual situação afecta “uma área em que as equipas multidisciplinares melhor funcionavam”. E essa é uma preocupação que já terá transmitido à bastonária dos enfermeiros, Ana Rita Cavaco, com quem Miguel Guimarães tem falado “regularmente” nas últimas semanas.

Num momento em que está em curso a greve dos enfermeiros, o bastonário dos médicos recusa pronunciar-se sobre a paralisação, mas não deixa de lembrar que esta ainda agrava mais a situação dos blocos de parto: “São dois processos que estão a correr em simultâneo, a greve e a entrega dos títulos, logo é natural que os blocos de parto estejam muito deficitários”. Isto apesar de a greve ter uma vantagem em relação ao protesto por entrega do título profissional: “É que numa greve existem serviços mínimos, para assegurar os serviços de urgências onde se encontram os blocos de parto”, explicou.

Audiência de mais de uma hora

O bastonário falou ao PÚBLICO depois de uma audiência, nesta segunda-feira, de mais de uma hora com o Presidente da República, a primeira desde que Miguel Guimarães foi eleito, em Janeiro, e a primeira das três reuniões com os bastonários do sector da Saúde que Marcelo Rebelo de Sousa anunciou na semana passada. Mas sobre esta reunião pouco quis concretizar. “Levamos ao senhor Presidente a nossa visão do que é mais importante em matéria de saúde, preocupações que já expusemos ao ministro da Saúde”, disse, referindo-se a questões relacionadas com as desigualdades sociais e regionais no acesso à saúde, a dificuldade de fixação de jovens médicos no país, o envelhecimento e a carga excessiva de trabalho aos clínicos.

Embora tenha ficado “mais tranquilo” depois desta reunião com o chefe de Estado, a quem reconhece uma importante “função moderadora”, Miguel Guimarães não esconde a sua preocupação com o futuro do Serviço Nacional de Saúde (SNS). “Era importante que o Governo percebesse que a aposta na saúde é uma aposta no presente e no futuro. E não conseguimos fazer as reformas necessárias sem investir no SNS durante algum tempo”, disse.

Questionado sobre a greve dos médicos pré-agendada para o início de Outubro, depois das eleições autárquicas, o bastonário dos médicos afirmou que “todos os profissionais da saúde têm hoje um motivo para protestarem, seja devido à carreira, a melhores condições de trabalho, a remunerações”. À Lusa, afirmou mesmo que poderá apoiar a paralisação, se ela se concretizar: “Se houver uma greve dos médicos [esse apoio] depende daquilo que forem as reivindicações dos médicos. Os médicos têm muitos motivos para poderem aderir a uma greve que seja convocada pelos sindicatos. Se a Ordem dos Médicos concordar com as reivindicações obviamente que apoiará os médicos que decidirem aderir a grave”.

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