Banco de Leite Humano tem um quarto das dadoras de que necessita

Só três mães entregam neste momento o seu leite à Maternidade Alfredo da Costa. Desde 2009, foram alimentados mais de 1000 bebés.

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Serviço foi criado há oito anos na Maternidade Alfredo da Costa e desde então cerca de 200 mulheres já doaram leite ao banco Nuno Ferreira Santos

O Banco de Leite Humano da Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, tem um quarto das dadoras de que necessita para fazer face às suas necessidades. Apenas três mulheres entregam, neste momento, o seu leite àquele serviço. Os custos da logística e recolha e transporte e a dificuldade em convencer as mães a serem doadoras explicam a situação. Desde a sua criação, em 2009, o banco já ajudou a alimentar mais de 1000 bebés. Nesta sexta-feira assinala-se o Dia Mundial de doação de leite materno.

O “número ideal” para que o Banco de Leite Humano funcione regularmente são 12 mães doadoras “em simultâneo”, explica a neonatologista da Maternidade Alfredo da Costa Ana Melo, que é uma das clínicas responsáveis por este serviço criado há oito anos. Desde então cerca de 200 mulheres já doaram leite ao banco, que chegou a ter 45 pessoas a fazerem dádivas ao mesmo tempo. No entanto, o serviço sofreu nos últimos meses “uma quebra grande” no número de doadoras e actualmente apenas três mulheres entregam o seu leite, o que está a limitar as acções do banco.

Na Maternidade Alfredo da Costa, o leite do banco é ministrado em particular a bebés prematuros. Como as mães dos prematuros têm ocasionalmente quantidade insuficiente de leite para os seus filhos – por motivo de doença ou em consequência do stress causado pela prematuridade – a doação de leite de dadoras saudáveis é fundamental para suprir estas carências.

Além dos bebés que estão internados no serviço de neonatologia da Maternidade Alfredo da Costa, o Banco de Leite Humano tem alimentado também recém-nascidos nos hospitais Fernandes da Fonseca, na Amadora, e Garcia de Orta, em Almada. “Precisamos de aumentar o ritmo de doações para conseguirmos estender o serviço a outras unidades de saúde da Grande Lisboa como é nossa intenção”, explica Ana Melo.

400 a 600 litros por ano

O Banco de Leite Humano recolhe e processa entre 400 a 600 litros por ano, o que significa qualquer coisa como 3500 litros desde a sua entrada em funcionamento. Este leite alimenta cerca de 150 recém-nascidos por ano, o que significa que, desde 2009, já mais de 1000 bebés receberam leite de outras mulheres que não as suas mães.

A cada mãe doadora é entregue uma bomba de extracção de leite. A mulher retira o leite em casa, podendo conservá-lo durante alguns dias. Depois disso, este é recolhido e levado para o Banco de Leite Humano. As dificuldades desta operação são o principal motivo para explicar a quebra do número de doações. A empresa que faz este serviço está neste momento a fazê-lo gratuitamente. Caso este fosse pago, a maternidade “não teria capacidade de fazer face a essas despesas”, segundo Ana Melo.

Outra questão que contribui para a diminuição do número de doadoras são as dificuldades em recrutar novas mães. Apesar de o banco lidar com as mulheres “numa altura particular da sua vida”, o que torna “fácil fazê-las compreender” a importância da doação de leite humano, “é mais difícil” concretizar a dádiva, por causa do trabalho que isso implica e da conciliação com outras tarefas exigidas às mães de recém-nascidos, explica a médica especialista.

Para que possa ser dadora do Banco de Leite Humano uma mãe tem que responder a uma série de requisitos: não pode ser fumadora, nem tomar medicação regular e tem que estar a amamentar em exclusivo o seu filho, que tem que ter nascido há menos de quatro meses. A avaliação das condições para uma mulher poder tornar-se doadora é feita pelos clínicos da Maternidade Alfredo da Costa, em duas consultas de triagem.

A Organização Mundial de Saúde recomenda que os bebés mamem em exclusivo até aos seis meses e que depois mamem pelo menos até aos 2 anos. No Banco de Leite Humano, é feita a caracterização bacteriológica de cada dádiva de leite, sendo este posteriormente submetido a um processo de pasteurização, que permite ter garantia total da segurança do alimento. “Quando estamos a administrar este leite é como se estivéssemos a dar um medicamento: está tudo rigorosamente controlado”, assegura Ana Melo.

O consumo de leite humano nesta fase precoce da vida ajuda a prevenir complicações habituais em bebés prematuros como a Enterocolite Necrotisante (uma ruptura da parede do intestino que, em situações limite, pode causar a morte da criança) ou infecções adquiridas durante o internamento. Além das vantagens para a saúde dos bebés, o Banco de Leite Humano tem também ajudado as mulheres: ao perceberem os benefícios da aleitação materna, acabam por receber um estímulo positivo para que mais rapidamente possam estar em condições de serem elas próprias a aleitar os filhos.

Estrutura única no país

Oito anos após a sua criação, o Banco de Leite Humano da Maternidade Alfredo da Costa continua a ser a única estrutura do género no país. Mesmo quando atinge a situação ideal de número de doadoras, fornece apenas hospitais da Área Metropolitana de Lisboa. Por isso, Ana Melo, médica responsável pelo serviço defende que faz “todo o sentido” que o Norte do país passe a ter a curto prazo um banco de leite materno.

O investimento inicial para a instalação de um serviço como estes é “caro”, classifica a clínica. A Maternidade Alfredo da Costa gastou 35 mil euros na compra dos equipamentos necessários para a análise, processamento e armazenamento do leite humano. Todavia, o retorno para a unidade de saúde sente-se de forma “relativamente rápida”. O leite humano permite uma melhoria na saúde dos recém-nascidos, reduzindo as complicações associadas à prematuridade e reduzindo o tempo de internamento dos bebés. 

Notícia corrigida às 11h37: onde se lia "um terço das dadores" corrigiu-se para "um quarto"

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