Carne de frango é fonte de infecção animal mais comum na Europa

Portugal não fornece dados sobre vários dos agentes que provocam doenças de origem animal, refere relatório da Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar.

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Portugal não fornece quaisquer dados sobre presença de bactéria Campylobacter na carne de aves Fernando Veludo

A campilobacteriose, infecção gastrointestinal causada pela bactéria Campylobacter, continua a ser a doença animal transmitida a humanos (zoonose) mais frequentemente reportada na União Europeia (UE), tendo a carne de frango como principal fonte de infecção. Mas o relatório refere que Portugal não deu dados sobre a notificação desta bactéria na comida à Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar, tal como aconteceu com outras substâncias que estão na origem de outras zoonoses e cuja vigilância é recomendada. A Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária diz que nem sempre se justifica a recolha. As conclusões fazem parte de um relatório europeu divulgado esta quinta-feira.

A Campylobacter continua a ser a infecção mais reportada em humanos na UE, como acontece desde 2005. O número de casos confirmados ascendeu a 214.779, refere o relatório europeu que faz a síntese das tendências acerca das principais zoonoses em 2013, tendo envolvido 32 países (28 da União Europeia).

A campilobacteriose tem um período de incubação de dois a cinco dias, tendo como sintomas mais comuns dores abdominais, diarreia com presença de sangue ou febre. A Campylobacter costuma existir em animais como aves, mas também em porcos e outros animais. Como medida de prevenção, as autoridades europeias recomendam o seu controlo em aves, assim como rigorosas medidas de higiene no processamento de carne.

A boa notícia é que, apesar de tudo, a campilobacteriose estabilizou. Mas o relatório deixa um alerta: as opções de tratamento para algumas das infecções de origem animal mais comuns, tal como a Campylobacter, mas também a Salmonella, estão a diminuir devido ao aumento de resistência das bactérias aos antibióticos, tanto em seres humanos como em animais.

“Os níveis altos de resistência às fluoroquinolonas [classe de antibióticos de largo espectro, que supostamente já atingem um grande número de espécies de bactérias] observados na Campylobacter, tanto em humanos como em frangos, são motivo de preocupação, tendo em conta que uma grande proporção das infecções humanas por Campylobacter resulta do manuseamento, preparação e consumo de carne de aves. Estes níveis de resistência reduzem o leque de tratamentos eficazes destinados a infecções graves por Campylobacter”, notou Mike Catchpole, cientista do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças que fez este documento juntamente com a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar.

O documento refere que "informações sobre a notificação de Campylobacter não foram fornecidas por Portugal", lê-se na página 23. A este respeito, a Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária (DVAV) respondeu ao PÚBLICO que “existem dados de amostras colhidas em alimentos em Portugal”. Além de Portugal, há vários países em que se aponta a ausência de dados de notificação – são analisadas 16 zoonoses. No caso desta bactéria,  também Chipre, França, Lituânia, Luxemburgo e Malta também não deram dados.

No caso português, refere-se a ausência de dados sobre vários agentes analisados no relatório: a Listeria em animais, notando-se que o país também não faz a sua vigilância em humanos. A listeriose é causada pela bactéria Listeria monocytogenes e pode representar riscos graves de saúde, sobretudo no caso de grávidas, recém-nascidos e adultos com sistema imunitário enfraquecido, explica o site do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças.

Fonte oficial do Gabinete do Secretário de Estado da Alimentação e da Investigação Agroalimentar responde que a DGAV não considera a Listeria uma “fonte relevante de infecção para o homem pelo que não é pertinente a sua pesquisa". Portugal também não forneceu dados, em humanos e animais, sobre a Yersinia, em que os agentes de transmissão são muitas vezes os porcos e que pode causar gastroenterites. A DGVAV responde que “esta pesquisa foi efectuada em carne suíno e seus derivados em anos anteriores (2008-2010) sempre com resultados negativos, pelo que da avaliação de risco efectuada resultou a decisão de interromper a sua pesquisa.”

No que diz respeito apenas à comida e animais, as autoridades portuguesas não disponibilizaram, por exemplo, dados sobre a Echinococus, que pode estar presente em fezes de cães e pode afectar o fígado. A este respeito, a DGVAV nota que “em Portugal todos os matadouros pesquisam activamente quistos parasitários onde se inclui a equinococose.” Acrescenta-se ainda que deram inicio, em Janeiro de 2014, a um plano de acção nacional para a redução do uso de antibióticos nos animais.

No total, em 2013 foram reportados na União Europeia 5196 surtos de doença de origem alimentar, incluindo também os que tiveram como causa a água contaminada. A maior parte tiveram origem na Salmonella, seguida de vírus, bactérias tóxicas e da Campylobacter; em 28,9% dos surtos o agente causador era desconhecido.

Em situações em que houve confirmação laboratorial dos surtos de doença com origem alimentar “um importante veículo de transmissão foram os ovos e produtos derivados dos ovos, assim como o peixe e produtos derivados”, lê-se.

No caso da salmoneliose assinala-se um decréscimo a nível europeu. Foram reportados um total de 85.268 casos em 27 estados-membros em 2013, o que representou um decréscimo de 7,9% de notificações em comparação com 2012, com descidas assinaladas em 21 países.

As taxas de notificação mais altas de salmoneliose foram na República Checa (93,1 casos por 100 mil habitantes) e na Eslováquia (70,3 por 100 mil habitantes). Já as taxas mais baixas foram notificas por Portugal e Grécia (mais ou menos 4 por 100 mil habitantes).

As proporções mais altas de hospitalizações com esta causa foram no Chipre, na Roménia, na Grécia e em Portugal (80 a 95% dos casos resultaram em internamento). Uma vez que três destes países (caso de Portugal) também tiveram as taxas mais baixas de salmoneliose, os autores do relatório concluem que “os sistemas de vigilância destes países captam sobretudo os casos mais graves”.

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