ARS culpa anterior administração pelo desinvestimento no hospital de Faro

Moura Reis anuncia novo director do serviço de Neurocirurgia, a contratação de anestesistas, um ortopedista e um pediatra para resolver ruptura nos serviços.

Foto
Recrutamento de especialistas está a ser feito através de concurso VIRGILIO RODRIGUES

O presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve, Moura Reis, responsabiliza o anterior Conselho de Administração (CA), presidido por Pedro Nunes, pela “falta de investimento nos serviços” do hospital de Faro que integra o Centro Hospitalar do Algarve (CHA) ao longo de quatro anos. Uma estratégia que, considera, não potenciou a fixação de médicos nesta região do país.Na semana passada, os anestesistas do hospital enviaram uma carta ao ministro da Saúde, denunciado o "caos" e a falta de médicos para assegurar os serviços na unidade.

“O anterior conselho de administração não investiu nos serviços, optando por investir, essencialmente, na parte da emergência e da urgência e ao investir nesta parte deteriorou, um pouco, a parte dos serviços, que são quem sustenta o hospital”, afirma Moura Reis. O responsável revelou que a actual administração “está a inverter” esta prática com o propósito de “criar serviços de referência” ligados à cirurgia.

Contactado pelo PÚBLICO, Pedro Nunes refuta as acusações do presidente da ARS e afirma que Moura Reis foi um “obstáculo” à anterior administração, que “tudo fez para contratar médicos com qualidade para trabalhar no Algarve quer na área dos cuidados intensivos, quer na área da anestesia”.

“Se não conseguem administrar o hospital [de Faro] não atirem as responsabilidades para quem em quatro anos pôs as contas em dia – tínhamos uma dívida de 200 milhões de euros e quando saímos há três meses deixamos zero de divida e o pagamento a [fornecedores] a 90 dias”, atira Pedro Nunes, declarando que “ao contrário da actual administração”, não cometeu “o disparate de demitir pessoas” nos quatro anos que esteve à frente do CHA.

Moura Reis tenta virar a página e, em declarações ao PÚBLICO, garante que a situação no CHA, que tem passado uma fase conturbada com demissões e críticas à actual administração, está agora controlada com a contratação de novos médicos nas especialidades onde existe falta de recursos humanos: neurocirurgia, anestesia, ortopedia e também pediatria. A mais recente contratação é a do neurocirurgião Joaquim Correia (que trabalha no Hospital Egas Moniz, em Lisboa) e que vai dirigir em breve a Neurocirurgia, cuja directora, Alexandra Adams, pediu a demissão por discordar da estratégia da nova administração.

Mais contratações

Mas há mais contratações na calha. “Não queria centrar muito as mudanças do CHA no serviço de Neurocirurgia. Queria deixar muito claro que todas as mudanças irão ser feitas noutros serviços para imprimir uma maior eficácia e eficiência em termos de resposta de saúde aos algarvios e aos utentes que passam pelo Algarve”, disse Moura Reis, sublinhando que a estratégia da nova administração, liderada por Joaquim Ramalho, passa por tentar combater a falta fixação de médicos no Sul. “Todos nós queremos mudar este paradigma e é nesse sentido que temos estado a tomar iniciativas que achamos que são necessárias e eficientes seja no serviço de Neurocirurgia, seja no serviço de Ortopedia, para melhorarmos a prestação do Serviço Nacional de Saúde do Algarve, mais particularmente no Centro Hospitalar do Algarve”, revela o médico.

“Desde que tivemos conhecimento de que foram suspensas as urgências, imediatamente, contratamos dois médicos que têm feito as urgências de Neurocirurgia e vão continuar a fazer”, assegura, garantindo que o “hospital de Faro voltará a assegurar todos os dias a urgência” naquela especialidade.

O recrutamento de especialistas na área da anestesia, ortopedia e pediatria está a ser feito - segundo explicou - através de concurso, do sistema da mobilidade total e também da mobilidade parcial e ainda através da prestação de serviços. A aposta, adianta Moura Reis, “é reforçar as equipas, principalmente, as equipas cirúrgicas”. A partir desta semana devem começar a trabalhar no CHA novos anestesistas (“quatro a cinco”), que vão permitir ter mais tempo operatório. “Uma das coisas que vamos implementar neste momento é a parte da produção interna através do SIGIC [Sistema Integrado de Gestão de Inscritos em Cirurgia] Interno”, adiantou o presidente da ARS.

Assegurada está também a contratação de um ortopedista de Lisboa que pretende fixar-se no Algarve. Moura Reis assume a “aposta” nos serviços do hospital mais do que na urgência, porque o que a nova administração ambiciona é criar serviços de referência”. A este propósito, destaca o protocolo celebrado com a Universidade do Algarve no sentido de fazer do centro hospitalar um “pólo universitário”. “Já temos a garantia de que os internos que queiram vir para aqui podem ter uma carreira de investigação e podem fazer um percurso que, de outra forma, só o poderiam fazer em Lisboa, Porto ou Coimbra”, enfatiza o médico, referindo que, assim, será possível fixar internos no Algarve.

Sobre as declarações proferidas pelo ministro do Saúde, Adalberto Campos Fernandes, em Março, na tomada de posse da nova administração, em que assumiu que os problemas do CHA estariam resolvidos até ao dia 31 de Março, Moura Reis diz que “a maior parte desses assuntos estão resolvidos”.

Sugerir correcção
Comentar