Almaraz: Comissão da Assembleia da Extremadura recusa convite de deputados portugueses

“Há uma atitude que parece pouco dialogante por parte de algumas entidades de Espanha sobre esta matéria”, diz presidente da comissão parlamentar de Ambiente.

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As três empresas espanholas que são as principais proprietárias da central nuclear de Almaraz — Iberdrola, Endesa e Union Fenosa — também declinaram a vinda ao Parlamento português ANTÓNIO JOSÉ / LUSA

A comissão parlamentar do Ambiente convidou a congénere da Assembleia da Extremadura para uma reunião sobre a central de Almaraz, mas esta recusou, uma atitude apelidada de “pouco dialogante” pelo deputado português Pedro Soares.

“A comissão parlamentar do Ambiente solicitou um encontro com a comissão da Assembleia da Extremadura, que também trata destas matérias de ambiente e energia, para trocarmos impressões e debatermos o problema de Almaraz e da construção do armazém de resíduos nucleares”, disse nesta sexta-feira à agência Lusa Pedro Soares.

“Recebemos a resposta de que declinavam esse convite para conversarmos e remetiam-nos para o congresso dos deputados em Madrid com o argumento de que não teriam competências” a este nível, avançou o presidente da Comissão de Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação.

Para o deputado do Bloco de Esquerda, “há uma atitude que parece pouco dialogante por parte de algumas entidades de Espanha sobre esta matéria”.

“Ao contrário do que a senhora ministra do Ambiente espanhola tinha dito há dias, que haveria toda a abertura, transparência, diálogo entre Portugal e Espanha para tratar este assunto, o que vemos é um fechamento completo de todos os canais de diálogo”, sobretudo a nível parlamentar, realçou.

Recordou que os deputados do congresso espanhol pediram à presidente do Parlamento para se deslocarem a Lisboa e contactar os seus homólogos portugueses e “foram proibidos de vir”, depois de Pedro Soares se ter deslocado a Madrid.

As três empresas espanholas que são as principais proprietárias da central nuclear de Almaraz — Iberdrola, Endesa e Union Fenosa — também declinaram a vinda ao Parlamento português.

O Movimento Ibérico Antinuclear (MIA) já lamentou a atitude da presidente da Assembleia da Extremadura: “Lamentamos que, para a presidente da Assembleia [da Extremadura], a protecção dos interesses nucleares esteja à frente de uma boa vizinhança entre a Extremadura e Portugal.”

A construção de um armazém de resíduos nucleares na central de Almaraz, a 100 quilómetros da fronteira portuguesa, e a falta de informação sobre o projecto levou Portugal a apresentar uma queixa na Comissão Europeia, depois retirada, com a promessa de Espanha fornecer os dados pedidos, nos próximos dois meses.

Se os resultados deste trabalho forem “inconclusivos”, Portugal poderá voltar a apresentar queixa na Comissão Europeia.

No final de Fevereiro, 16 técnicos de Portugal, três dos quais de entidades independentes e os restantes da administração pública, nomeadamente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e da Direcção-Geral da Saúde, visitaram a central de Almaraz e estão a preparar um relatório sobre a instalação.

Vários sectores da sociedade, como ambientalistas e partidos políticos, receiam que a construção do armazém signifique que Espanha se prepara para autorizar o prolongamento do funcionamento da central nuclear além dos 40 anos, quando deveria terminar em 2020.

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