Abusadores há muitos

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Uma semana em que o país discutiu hora a hora, com profundidade e paixão, a importância do nome do treinador do FCP — podemos chamar Lotopegui a Lopetegui ou vice-versa, e como é que o homem se chama afinal? —, o Parlamento despachou em menos de uma hora a discussão sobre a criação de uma lista de pedófilos condenados. Em resumo: para uns, tem de ser porque eles merecem, são incuráveis e temos todos de lhes dar na cabeça; para outros, não pode ser porque a Constituição e tal, e o princípio da igualdade e os cortes nos organismos de protecção de menores e pronto. Fim e adiante que se faz tarde. Ponto seguinte da ordem dos trabalhos da Assembleia da República (antes da hora do almoço): em 2016, a batata deve ser plantada antes ou depois de grelar?

Vida facilitada para a sociedade portuguesa: se os deputados discutem a correr um tema grave e profundo como a criação, para consulta pública, de listas de nomes e moradas de abusadores sexuais de crianças e jovens, outras listas de abusos não poderão criar-se sem esforço, para acesso público? E se por acaso alguns nomes errados caírem no meio da populaça e na primeira página dos tablóides, foi só azarinho?

Os vários grupos parlamentares podem agora dedicar-se, com igual rapidez, à necessidade, urgência e constitucionalidade de outros problemas que ensombram o nosso futuro colectivo.

Para já, seguem-se propostas para a nova coligação PSD-CDS (que surgiu sem nome oficial mas que, segundo fontes mal informadas, não se irá chamar nem Lopetegui Democrática nem Aliança Irrevogável):

Lista dos Desempregados que ainda recebem Subsídio de Desemprego:

é urgente que os portugueses com espírito de iniciativa e empreendedorismo tenham acesso aos abusadores laborais (de todas as idades) que não encontram trabalho na sua área de residência e que subsistem por aí a receber dinheiro do Estado em vez de emigrarem como lhes foi pedido.

Lista dos doentes que insistem em ser tratados no Serviço Nacional de Saúde:

é um caso particular e grave de abuso que muito tem prejudicado a nossa economia. Grande parte destes prevaricadores é comprovadamente incurável, segundo estudos de vários especialistas que Paula Teixeira da Cruz tem para lá metidos no meio da papelada, mas não lhe façam perguntas complicadas com estatísticas contestadas que ela a isso não responde. Mas é certo que tais indivíduos vão continuar na sua conduta pouco saudável até morrerem, isto é, a extorquirem tratamentos hospitalares caríssimos perto da sua área de residência, em vez de se inscreverem em clínicas privadas com diárias ao nível de um hotel no Dubai, para no fim morrerem à mesma! Como diz o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, os Estados devem fazer tudo para salvar vidas mas não “custe o que custar”. E como diz Franz Kafka, no seu diário, “que o homem selvagem faça discursos humanamente incompreensíveis e literariamente tão grosseiros que temos vontade de fechar os olhos”.

Lista de Abusadores que desceram a Avenida no 25 de Abril e não trabalharam no Dia dos Trabalhadores: sendo intenção do próximo Governo, com uma coligação renovada, acabar com mais alguns feriados improdutivos, é do interesse nacional ter à mão uma lista dos indivíduos que querem o regresso do 1.º de Dezembro e a manutenção do 1.º de Maio. Trata-se de um grupo numeroso de incuráveis ideólogos de cariz antiliberal. Temos de continuar vigilantes no desenvolvimento da nossa maneira de desenvolver alguns empobrecendo quase todos.

Lista de organismos do Estado não envolvidos em corrupção, abusos fiscais e actos criminais: Ministério dos Negócios Estrangeiros, Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e Ministério das Finanças são alguns dos nomes que não constam desta lista.

Lista de pessoas responsáveis pela dimensão do escândalo do BES, além de Ricardo Salgado: a lista está completa, não há mais ninguém, só Ricardo Salgado, todos se esqueceram do que fizeram. E outros, como Cavaco Silva e Carlos Costa, esqueceram-se de estar calados.

Lista de Indivíduos que acham que um Presidente da República deve agir e ser outra coisa: é um grupo activo nos últimos tempos, designadamente o grupo de indivíduos antiausteridade que persistem em dizer que o Presidente da República é fraquinho, não deixando Aníbal Cavaco Silva terminar em paz o mandato numa cabanita da praia da Coelha ao som da palavra que mais repete e que menos pratica: “consenso”. As autoridades estão em condições de adiantar o nome de um tal Sampaio da Nóvoa (primeiro nome desconhecido), pessoa que lidou de perto com muitas pessoas vulneráveis (foi professor em tempos) e que foi visto a rondar as imediações do Palácio de Belém. Estava acompanhado de dois ex-presidentes da República, Mário Soares e Jorge Sampaio (dois indivíduos que usam nome próprio). Estes comportamentos suspeitos devem ser monitorizados pelas autoridades e conhecidos pelas populações antes das eleições legislativas e presidenciais. Contamos consigo, vizinho.

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