Abaixo o fasismo

O fasismo fascista - a deturpação regular da realidade previsível - atinge um auge durante a adolescência

À medida que se envelhece - talvez à força do traumatismo acumulado de ouvir repetir as mesmas mentiras - percebe-se que quase tudo o que para aí se diz não é mais do que a mais baixa e vil propaganda.

Começa logo antes de nascermos. À minha mãe - cujo conselho principal e amoroso a toda a gente que a ouvisse era nunca ter filhos - também disseram que o mal da gravidez passaria mal nascesse cada um dos quatro filhos, desde a Kristine à Diana.

Quando cada um de nós nasceu disseram-lhe que os recém-nascidos eram só uma "fase". Tudo melhoraria quando começassem a poder andar. Depois de começarem a andar e de a trabalheira continuar, garantiram-lhe que a chatice acabaria quando começassem a falar.

Este fasismo fascista - a deturpação regular da realidade previsível - atinge um auge durante a adolescência ("também isso há-de passar") mas hoje estende-se aos filhos de trinta e tal anos que ainda vivem com os pais.

O fasismo é como o envenenamento mais eficaz e indetectável de todos: o lento. O castigo de viver é dividido em prestações aceitáveis em que cada uma promete a eliminação (inteiramente mentirosa) da seguinte.

"É só uma fase" é uma frase propagandística e nociva para a nossa saúde que significa, prosaicamente "aguenta-te à bronca, minha filha ou meu filho, porque o sofrimento consecutivo é a nossa sina nesta vida de merda em que pensar que podemos fugir-lhe é a droga poderosa que nos mantém, certinhos, no horrendo caminho que nos coube".

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