A semana de tudo

Esta é a semana pela qual esperámos todo o ano, a semana que já não volta mais, a semana de todas as frutas, a semana de tudo.

Comemos pêssegos carecas e peludos, ginjas anãs, cerejas pretas, os melhores damascos de sempre, morangos atrasados, ameixas amarelas, pêras verdes, nêsperas das árvores mais sombrias. Fiquei com barriga de pomar. Já não podia comer mais. Esta é a semana pela qual esperámos todo o ano, a semana que já não volta mais, a semana de todas as frutas, a semana de tudo.

Diz-se mal da fartura, que a fartura também farta e outras inanidades paradoxais do género. Quanto mais fresca é – e mais próxima fica – mais barata é a fruta. Há nesta época do ano um desgoverno das árvores que é contagiante. Há tanta fruta que a única solução para não deixá-la apodrecer no chão é apanhá-la e comê-la.

Só faltam os figos, as uvas, os melões e, ainda antes deles, importantíssimos, os pêssegos mais sérios – aqueles com que não se brinca, diante dos quais nos ajoelhamos religiosamente, com o sumo a escorrer-nos das beiças embevecidas.

É estranhíssimo que esta fruta esteja em toda a parte excepto nos restaurantes que só retêm as cerejas e os morangos em tristes tacinhas com as mesmas sovinas miligramas. De que investimento europeu precisarão para poder custear, para alegrar a vista dos comensais, uma boa travessa cheia da “fruta da época”, na única altura do ano em que a expressão faz sentido?

Faço um inquérito discreto para aprender que “isso só em casa” e que “comercialmente não se justifica”, porque “o pessoal gosta mais de mangas e assim”. Só em Portugal é que a fruta é comida caseira. Assim seja.

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