A primeira sardinha

É uma estupidez sazonal. Como sempre uma sardinha no mês de Junho da qual me arrependo histericamente até chegar à altura em que engordam e ficam deliciosas que nunca é antes do grande calor de Agosto. A sardinha que comi era magra e seca. Não sabia a sardinha. Chamar sardinha (versão diminutiva de sarda) ao melhor peixe português é tão estúpido, enganador e preguiçoso como chamar andorinhões às aves apus apus que nada têm a ver com as diferentíssimas andorinhas, a não ser o facto de serem tão admiráveis, inspiradoras e lindas. A primeira sardinha de 2016 era magra, seca e horrível, como acontece sempre no tempo nefasto e mentiroso dos santos populares. A sardinha é um peixe azul - como o carapau, o chicharro, a sarda e o atum - que está mais saboroso, grande e gordo nos meses do Verão. Os peixes cinzentos - os robalos, as douradas e os sargos - só começam a estar bem no Outono. São comidos no Verão pela força enorme da ignorância. Nos meses soalheiros de Maio, Junho e Julho, são os peixes encarnados que saborosamente prevalecem, desde os ruivos e cantaris até aos salmonetes. A sardinha de Junho é muito má. Arranje-se outro peixe para os santos
populares de Lisboa e do Porto. A sardinha está longe de estar pronta. Proponho a sarda. É um peixe adorável. Grelhado é magnífico mas também é bom cozido, cru ou grelhado. As sardinhas de 2016 serão sempre mais pobres e miúdas, comparadas com as de 2015, que já deixavam muito a desejar. Falta pouco.

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