“A maneira portuguesa de estacionar os carros” impede pessoas de sair à rua

Mais de 1,3 milhões de visualizações são um indicador de que este vídeo põe o dedo na ferida, diz Associação Salvador.

“A maneira portuguesa de estacionar os carros” impede pessoas de sair à rua Público

O vídeo começa por dizer em que dia estamos e onde estamos: 2 de Abril de 2016, em Lisboa. Depois mostra “a maneira portuguesa de estacionar os carros”: pular o passeio, deixá-los lá bem no meio a impedir a passagem, tantas vezes “só por cinco minutos” para ir ali tratar de uma coisa. As câmaras ocultas mostram a reacção de condutores quando voltam e encontram um papel no pára-brisas: “Bati no seu carro.” O bilhete tem ainda um número de telefone. Os condutores observam, não encontram amolgadelas na viatura, mas ligam para o número, aguardam. Pouco depois, quem “bateu” aparece de cadeira de rodas. E os rostos dos condutores mostram, aí sim, embaraço.

O novo vídeo feito pela empresa de publicidade Havas Worldwide Portugal, com Salvador Mendes de Almeida, o fundador da Associação Salvador, arrancou há uma semana e já teve mais de 1,3 milhões de visualizações. Talvez porque, diz Maria Lopes da Costa, directora-geral da Associação Salvador, muitos portugueses se revejam nas imagens: já estacionaram o carro num passeio ou numa passadeira (seis em cada dez, informa o vídeo, confessam que já o fizeram), às vezes “só por cinco minutos”, sem pensar que um carro num passeio ou numa passadeira para quem tem uma cadeira de rodas pode representar um obstáculo intransponível e sem pensar que as ruas estão cheias de obstáculos intransponíveis para quem tem mobilidade reduzida.

“A ideia foi da Havas. O vídeo, que foi feito pro bono, foi partilhado pela primeira vez na sexta-feira pelo Ricardo Teixeira, que também entra”, diz Maria Lopes da Costa. Só na página dele, no Facebook, registam-se 1,3 milhões de visualizações do vídeo, conta.

“O Ricardo Teixeira, tal como o Salvador, são pessoas inspiradoras. O Ricardo é um empresário, é casado, tem dois filhos”, diz Maria Lopes da Costa, e desde os 21 anos que está numa cadeira de rodas, devido a um acidente durante um mergulho.

Salvador sofreu um acidente de moto, em 1998, quando tinha 16 anos, que o deixou tetraplégico. Criou a Associação Salvador, que tem como objectivo ajudar a integração das pessoas com deficiência motora na sociedade e melhorar a sua qualidade de vida. Na página do Facebook da associação também pode ser visualizado o vídeo.

A próxima campanha da Associação Salvador deverá abordar a questão das acessibilidades. “Em 2016 termina o prazo limite para que a lei de há dez anos, que determina a adaptação de todos os espaços às pessoas que não têm mobilidade, seja aplicada”, diz. É sabido, sublinha, que não vai acontecer. Para as pessoas com mobilidade reduzida, sair de casa continuará a ser um desafio.

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