A diferença que faz fazer perguntas

Quero tanto as respostas para estes porquês que ficaria feliz se fosse a concorrência a chegar a elas. Porque isto não é sobre nós. É sobre eles.

Tenho um amigo na concorrência que pergunta em público: porquê o "porquê"? Para que serve fazer perguntas? Quem as fez fui eu, aqui mesmo, repetidamente (não as fiz sozinho, estou acompanhado).

Ao Paulo Baldaia, director do DN, tenho que responder que gosto da pergunta, porque a liberdade também se faz disso. Também somos livres quando ficamos em silêncio. Também somos livres quando ficamos à espera. Mas tenho que perguntar de volta: somos livres se perguntamos? Somos livres se pressionamos, se achamos que as perguntas não podem esperar? Somos, ambos sabemos que sim. E sabemos também que bastaram dois dias de perguntas para que o primeiro-ministro as tenha tido que repetir, como uma ordem.

Mas não basta – e também sabemos disso. Não basta que a GNR, o IPMA e a Protecção Civil respondam a António Costa. Porque são parte interessada, porque são parciais. Porque para isto não há uma resposta única, como escreveste. E aí, fazemos o quê? Esperamos? Não, perguntamos. Se não formos nós, quem mais o fará?

Perguntamos, sim, todos os dias. De que serve? Pelo menos para que nos cheguem outras respostas, porque há mais gente incomodada, triste, revoltada. Para lá das vias oficiais. Perguntamos em público porque queremos respostas, mas também porque queremos pistas para as procurar, enquanto outros não as dão (e mesmo quando as derem). E agora pergunto eu: se não as fizermos, chegaremos perto das respostas? Só das deles, as oficiais. E serão a verdade?

E pergunta esse meu amigo se fazem sentido as perguntas que fazemos. Todas as que aqui fizemos (e vamos repetir) partem de outras perguntas, as que fizemos a quem sabe disto. E partem deles também – os especialistas são eles, nós só sabemos fazer as perguntas.

E ele insiste: mas há perguntas que precisam de tempo para alguém responder. E eu respondo: umas sim, outras não. Até aposto que ao primeiro-ministro chegarão rápido. E que quanto mais rápido chegarem, menos riscos corremos nos próximos incêndios (não me vão perguntar se virão, pois não?)

Aos outros caberá darem, ou não, as respostas. Mas a nós, acredito eu, cabe-nos fazer as perguntas. É claro que também há um papel para quem fica a ver o relógio a andar. Se eu quisesse ser injusto, como ele foi para uma jornalista desta casa que aqui escreveu sobre um homem que falou da sua dor, eu diria que há um papel, mas já nem é em papel. Chama-se Diário da República.

O Paulo, que me conhece bem, sabe que eu nunca levei a mal que me perguntassem tudo. E que me apontassem o dedo dizendo que estou errado. E também sabe que não desisto assim. Por isso acrescento isto, sem pergunta e com certeza: quero tanto as respostas para estes porquês que ficaria feliz se fosse a concorrência a chegar a elas. Porque isto não é sobre nós. É sobre eles.

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