31 de Agosto

Hoje é o último dia de Agosto. Mesmo para quem ainda tenha uns dias de descanso, esta data marca, pelo seu simbolismo, o fim das férias. Para muitos, amanhã inicia-se o mês do regresso ao trabalho, do recomeço das aulas e do Outono, com os dias mais curtos e as primeiras chuvas. Para alguns, o fim do Verão traz sempre alguma tristeza, pelo muito que se viveu e por tudo o que se imaginou poder desfrutar. 

Neste final de Agosto, oiço a desilusão em muitas conversas com pais de adolescentes. As queixas são sempre as mesmas: os filhos estiveram pouco em casa e privilegiaram os amigos; deitaram-se muito tarde e perderam as melhores horas de praia; alimentaram-se mal, porque beberam demasiada cerveja e saltaram o pequeno-almoço, a refeição mais importante do dia; não telefonaram aos avós, sozinhos em casa; estiveram sempre a pedir dinheiro para gastar em discotecas e jantares com amigos. 

Os mais desiludidos parecem ter perdido um combate com os filhos. Marcaram horas de regresso a casa ou proibiram saídas, mas não tiveram força para fazer cumprir essas determinações; não permitiram temporadas em casa de amigos, mas os jovens foram à mesma; pediram para os adolescentes não trazerem ninguém para passar férias com a família, mas de repente apareceram vários jovens lá em casa; nos casos mais graves, houve duras zangas a propósito dos festivais de Verão, frequentados sem licença familiar. 

Estes pais não recordam Agosto com alegria e anseiam pelo regresso às aulas dos mais novos, na esperança de que possam, finalmente, sentir alguma paz. Em Setembro, existirão outras preocupações, como os estudos dos filhos, mas não voltará a confusão das férias.

Andar desiludido com um filho é das piores coisas que podem acontecer a um pai. Educar sem esperança e sem alegria é ter a certeza de que o fracasso estará à espreita. O amor por um filho, que sempre existe à partida, depressa será comprometido por sentimentos de culpa, críticas destrutivas ou ameaças de ruptura entre pais e adolescentes. Os pais deixam de confiar, os filhos afastam-se cada vez mais. A interrupção do diálogo e da negociação são garantia de que acontecimentos problemáticos estão no horizonte.

Se pais e filhos fizerem hoje a revisão do seu mês de Agosto, poderão concluir que, nos casos mais difíceis, tudo poderia ter corrido melhor, bastaria ter alguns “cuidados antecipatórios” para o período de férias. Por exemplo, é sempre bom reservar um período só com a família, sem compromissos com amigos e sem idas para fora. As refeições poderão ser liberalizadas, mas os mais novos não deverão ser dispensados de jantares ou almoços com significado especial para a coesão familiar.

A frequência de festivais de Verão, de que o do Sudoeste é paradigma, assume hoje características de ritual de autonomia em relação aos pais, mas tem exigências e desafios difíceis de ultrapassar para jovens com menos de 16 anos, facto que pais e filhos deveriam ter sempre em conta. Os adolescentes com menos de 16 poderão iniciar esse percurso para a autonomia, começando com concertos em festivais menos intensos, ou frequentando acampamentos e colónias de férias com jovens da mesma idade.

Agosto pode ser o melhor mês do ano se, à partida, o planearmos com algum cuidado, sem esquecer o imprevisto que sempre faz parte da magia do Verão. Com esse cuidado, as férias de 2015 serão por certo ainda melhores.

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