2016: pragmatismo e sensatez

Pode ser que o diabo ainda apareça por aí, acompanhado pelos reis magos. Ninguém sabe ao certo. Sabemos que isso faria as delícias de um Passos Coelho atormentado por uma oposição dissimulada, cuja sobrevivência política está dependente de uma desgraça sem reparação e da coragem de adversários hesitantes. É a isto que se chama oposição? Talvez seja melhor chamar a isto outra coisa qualquer. O que podemos dizer é que quem viveu acima das suas possibilidades foi uma data de pessoas, entre as quais uma catrefada de banqueiros, que confundimos com uma elite à qual não conseguimos associar um impropério por causa de uma reverência ingénua e medrosa. O que podemos dizer é que a tal zona de desconforto, que atirou para fora do país uma geração inteira, se tornou menos incómoda. Que a coligação António Costa-Marcelo Rebelo de Sousa aliviou a conjuntura crispada e estéril da última legislatura e permitiu soluções governativas inesperadas e estáveis, capazes de aguentar uma legislatura. A mudança de estilo é evidente: entre Marcelo e Cavaco há uma discrepância do tamanho de uma cratera e essa percepção é devidamente captada por uma população descrente e titubeante. As “selfies” com Marcelo têm um significado político que vai para além da futilidade de uma fotografia.

Quem diria? Precisamos de mais auto-estima? Claro. Quem não precisa? Precisamos do entusiasmo de Fernando Santos, da confiança de António Guterres e dos resultados do PISA. E, já agora, de vez em quando, de um golo do Eder.  Não precisamos nem de ficções nem de cenários catastróficos. Precisamos do realismo e do pragmatismo que nos conduziu a este ano improvável. Precisamos sempre, e essa é um característica saloia portuguesa, do reconhecimento “lá fora” para obtermos o reconhecimento “cá dentro”, como diz José Gil? Do que não precisamos é desse sentimento de culpa que emana do Norte da Europa e que uma certa nomenclatura reproduz caseiramente com obediência bovina. Precisamos de um parlamento que seja isso mesmo; que represente e traduza as ideias e interesses da uma população e eleitorado plural. Precisamos de partidos mais interessados nas necessidades das pessoas e menos focados nos interesses dos respectivos aparelhos. Precisamos de sinceridade, sob pena de todos nos desinteressarmos das políticas que realmente interessam. José Gil diz que “Portugal é uma ilha de sensatez neste mundo caótico”. Se ele o diz.

 

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