Vá em frente, case por dinheiro!

Ginie Sayles, que gosta da palavra "mercenária", percebeu que podia ganhar dinheiro usando a sua própria história. Ela, que consegui caçar um milionário, ensina agora a homens e mulheres truques para conseguirem um bom casamento. Ensina-os a entrar em festas sem convite, a vestir roupas sedutoras, a entrar e sair com elegância de limousines, a procurar herdeiras ricas e bazares de caridade...

Não perca tempo à procura do amor. Vá em frente, case por dinheiro. Este é o conselho que ouvem os que frequentam uma aula que se chama simplesmente "Como casar com um rico", um dos cursos para adultos mais populares da cidade norte-americana de Nova Iorque. "Não se sinta culpado. Os ricos têm que casar. Porque não consigo?", ensina Ginie Sayles num seminário que dá regularmente. Os seus alunos, na sua maioria mulheres, acenam com a cabeça e tiram notas. Na aula de quatro horas dão-se pistas para se encontrar um parceiro rico - PR, como diz a professora - e, mais importante, encontrar um PR que vá direitinho para o altar.Abordando o tema com o fervor de um pregador e o cálculo de um homem de negócios, Ginie Sayles sugere que se tracem objectivos com cuidado. Há que tentar herdeiras ricas, que normalmente frequentam cursos de arte e eventos de caridade; empresários que correm riscos nos negócios, conhecidos por se declararem no segundo encontro; homens ricos que se sentem culpados por terem tanto dinheiro e estão mais disponíveis para casar com mulheres que têm filhos, afirma a professora.Mas isto é apenas uma amostra do que Ginie Sayles diz em apenas 15 minutos de aula. Ainda faltam as dicas sobre como entrar em festas chiques sem se ser convidado (é preciso reparar nos letreiros que as anunciam nos hotéis), sobre roupa (as fibras naturais batem sempre os tecidos sintéticos) e sobre boas maneiras (saber ser gracioso quando se sai de uma limousine é essencial). Tal como acontece quando se compra uma casa, os três factores mais importantes para se arranjar um PR são a localização, a localização e a localização. Encontre um homem rico através do emprego (um corrector de Wall Street), da religião (sinagogas e igrejas episcopais são valores seguros), do jornal (leia os obituários), de um vizinho (mude-se para uma zona rica da cidade) e até através do lugar em que estaciona o carro (deixe sempre o carro junto do mais caro do parque)."Saia apenas com gente com saúde, que ainda respire", recomenda Ginie Sayles. Mas exija tratamento de primeira: "Se alguém lhe disser que o ama, mas não gasta dinheiro consigo, é porque mente". E o "timming" é tudo. Se a proposta de casamento não surgir nos primeiros sete meses do namoro, as possibilidades de surgir caem vertiginosamente. Ginie Sayles não só veta compromissos de longa duração, como não permite que alguém interfira na relação. Enquanto vai falando com uma pronúncia do Texas, Ginie Sayles gesticula com a mão esquerda faiscante de diamantes. Os alunos ouvem em respeito e com atenção. Afinal, as muitas mulheres e os poucos homens na sala querem ouvir os seus conselhos que compraram por 35 dólares (pouco mais de seis contos).A maior parte das mulheres veste-se como empregadas de escritório, tem as unhas cuidadosamente tratadas e sapatos de ténis que, ao final do dia, substituem os sapatos que usam enquanto estão no emprego. Muitas trabalham em escritórios nos limites e subúrbios de Nova Iorque, mas deram-se ao trabalho de fazer a viagem até Manhattan para frequentar a aula. "Vamos ser francos: é mais fácil de aturar um pateta rico do que gostar de um pateta pobre", diz uma das alunas, uma estudante de enfermagem. "Já temos alguma consolação por ele ser rico", acrescenta outra mulher, uma desenhadora de software que ainda não chegou aos 30 anos. O curso é o mais concorrido e a que há mais tempo é leccionado em The Lerning Annex, que promove a educação de adultos em Nova Iorque e na Califórnia. O marido de Ginie Sayles, Reed, assiste às aulas sentado num canto, contando o dinheiro que os alunos pagaram para estar ali. Obviamente que é rico, afirma Ginie Sayles, que o descreve como um industrial do petróleo de sucesso. Conheceram-se e casaram há 14 anos.Apesar de não dizer uma palavra, Reed ri das piadas que a mulher conta e parece totalmente imperturbável ao ouvi-la falar sobre o que mais não é do que a descrição da forma como foi conquistado. Terá sido dele a ideia de Ginie Sayles transformar as aulas sobre a arte do "flirt" - aquilo que fazia antes - em aulas sobre casar com um rico. "Ele disse-me que eu ia fazer um favor aos ricos. Os ricos sentem-se perdidos nos relacionamentos e isto é uma forma de lhes arranjar um companheiro", explica a professora.Ginie Sayles - a primeira a admitir, com orgulho, ter conseguido casar com um homem com dinheiro - já não precisa de um homem rico pois transformou o seu casamento numa indústria. Além das aulas que dá em todo o país, publica livros (as receitas foram transformadas em bolsas de estudo para mulheres solteiras), vende cursos em cassetes, faz palestras e aparece em "talk-shows".O seu novo livro, "Como conhecer os ricos para fazer negócios, amizades e casamentos", deverá ser lançado na Primavera. Ginie Sayles também dá consultas privadas a 175 dólares à hora (uns 45 contos). Sessões mais longas podem chegar aos mil e quinhentos dólares (270 contos). Apesar de não haver forma de se saber quantos alunos já tiveram sucesso com estes conselhos, Ginie Sayles mostra testemunhos de antigos alunos. Recebe notícias de antigos alunos que casaram bem e lhe mandam postais de praias exóticas e estâncias de luxo. Uma das suas histórias de sucesso preferidas é a de uma mulher que usou os ensinamentos que recebeu na aula não para casar com um homem rico mas para voltar para a faculdade e conseguir um diploma. "Se não for por mais nada, já é um sucesso se uma pessoa aumenta a sua auto-estima e se sente mais à vontade para circular num ambiente social diferente do habitual", diz a mestra.Por mais calculista que possa ser, a estratégia de Ginie Sayles não é fria pois, explica, os seus alunos procuram o amor e o amor no casamento. "Nunca digo a alguém: tens que casar com um milionário. Trata-se de permitir esta possibilidade às pessoas. Quero que as pessoas sejam felizes", garante Ginie Sayles. Mas acrescenta que não tem qualquer mal aspirar-se ao anel que tem mais diamantes. "Mercenária? Gosto dessa palavra", diz Ginie Sayles, que conclui: "Não concordo que isto signifique que nos estamos a vender. Significa que somos os melhores amigos de nós próprios. Devemos dar os parabéns a quem sabe que merece o melhor da vida".

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