Cardeal do escândalo do Banco Ambrosiano morre nos Estados Unidos

Paul Marcinkus foi responsável pelo "banco" do Vaticano entre 1978 e 1989

O arcebispo norte-americano Paul Marcinkus, que protagonizou um dos maiores escândalos financeiros do Vaticano, morreu ontem, aos 84 anos, em Phoenix, no Sudoeste dos Estados Unidos, anunciou a diocese da cidade. A causa da morte não foi explicada. Responsável pelo Instituto das Obras Religiosas (IOR), conhecido como o "banco do Vaticano", entre 1978 e 1989, foi obrigado a deixar o lugar depois do escândalo que rodeou a falência do banco privado italiano Banco Ambrosiano, de que o IOR era o principal accionista.
Tudo começou quando Roberto Calvi, um simples empregado do banco privado, se tornou o patrão da instituição com o apoio de Marcinkus, gestão que resultou num primeiro buraco de 1,4 mil milhões de dólares, seguido de um segundo, de 250 mil, este nas caixas da IOR.
Pouco depois, no dia 18 de Junho de 1982, o gerente aliado do arcebispo foi encontrado morto, enforcado num pilar da ponte dos Blackfriars, em Londres. O inquérito que se seguiu apontou inicialmente para suicídio, mas novos elementos conduziram à abertura de uma nova investigação, por assassínio, e à prisão de cinco pessoas, algumas ligadas à Cosa Nostra, a máfia siciliana, que neste momento estão a ser julgadas em Itália.
O destino do dinheiro, uma assinalável parte dele pertencente à máfia, nunca foi conhecido. O caso acabou por se afundar em puras e simples conjecturas, resumiu ontem a AFP. Contas privadas, apoio à loja maçónica dita P2, ou ao sindicato polaco Solidariedade, proibido na época, correu um pouco de tudo. A justiça italiana acusou Marcinkus sobre a questão. Mas o cardeal americano obteve o apoio do Papa João Paulo II, deixando o Vaticano só em 1990 para se retirar para Phoenix, nos Estados Unidos, onde residia.
O seu sucessor, em 1989, à frente da IOR, Ângelo Caloia, um banqueiro originário do Norte da Itália, mostrou-se muito crítico relativamente à sua pessoa e comportamento, classificando-o como uma pessoa "superficial" e "sem dúvida mal aconselhada", embora de uma "honestidade pessoal absoluta". "Marcinkus, como bom americano, jogava golfe e basebol, gostava de cigarros. Fazia parecer que conhecia o mundo dos negócios, mas foi a primeira vítima", acrescentou.

Sugerir correcção