APRENDER COM O PÚBLICO

Sugestão de atividade: Portugal no 25 de Abril e agora

Para que os alunos vivam as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril como agentes mobilizadores, propomos a criação de uma instalação onde se manifeste quem sempre viveu em liberdade.

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Matilde Fieschi
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Proposta

Criação de uma instalação para a comemoração dos 50 anos de Abril por quem sempre viveu em liberdade: “Quase 50 anos depois, é mais o que nos une do que aquilo que nos separa”.

Destinatários

Alunos de todos os níveis de ensino, em colaboração com elementos de toda a comunidade educativa.

Disciplinas

Todas as disciplinas devem colaborar na preparação e concretização da instalação.

Duração

Esta proposta implica tempo para planeamento e concretização. Foi concebida no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril e cabe a cada escola decidir a dimensão (em envolvimento, tempo e espaço) que lhe quer atribuir. Inclusivamente, equacionar se é uma possibilidade para o plano de atividades do próximo ano letivo, ou se é um ponto de partida para Domínio de Autonomia Curricular (DAC). Divulgamo-la hoje. Porque hoje faz todo o sentido.

Contextualização

Liberdade, democracia e pensamento crítico

Aos alunos, e a muitos professores, a vida em ditadura, assim como as vivências relacionadas com a Revolução dos Cravos, chegam-lhes de forma indireta, através de variadíssimos testemunhos, dos mais próximos aos mais distantes. A família, a escola, os media, a literatura, a música e as expressões artísticas em geral são, provavelmente, as formas mais comuns de contacto com este período da nossa História.

A conquista da democracia e da liberdade trouxe inegáveis melhorias nas condições de vida, mas a sociedade atual vive descontente com muitos aspetos que continuam a dificultar o seu quotidiano e, por isso, mobilizada para exercer a cidadania de uma forma que todos desejamos seja cada vez mais ativa, consciente e responsável.

Acima de tudo, interessa que os alunos percebam, e tenham bem presente, que as conquistas de Abril não estão esgotadas, nem asseguradas, e que que lhes cabe ter um papel ativo na luta pelas causas em que acreditam.

Para comemorarem o 25 de Abril como agentes mobilizadores, propomos uma série de atividades para as quais podem olhar de forma seletiva, optando por só uma das propostas ou, idealmente, de uma forma global para a concretização do grande objetivo – a criação de uma instalação que envolva o maior número de pessoas, de disciplinas, assim como as mais diversas formas de expressão. Com os alunos sempre no centro das decisões e das ações e com destaque para as suas “leituras”, visões, perspetivas e opiniões.

O que se pretende?

A criação de uma instalação ("obra artística que consiste em diferentes materiais e objetos expostos ou compostos num espaço" in Dicionário Online Priberam de Português) que resulte numa verdadeira experiência, tanto para quem a constrói, como para quem posteriormente a visite.

Quem constrói deve estar verdadeiramente envolvido e implicado. Consciente dos objetivos e dos recursos de que necessita, deve elaborar o plano de ação com os diferentes atores para que resulte num trabalho coeso e consistente e não num conjunto de trabalhos desligados. Este plano deve contemplar as questões mais genéricas que caraterizam qualquer projeto (objetivos, meios necessários, pessoas envolvidas, distribuição de funções, criação de equipas, definição das ações a desenvolver, cronograma, formas de divulgação...).

Aos visitantes deve ser proporcionada uma experiência sensorial, o mais completa e interativa possível.

Preparação

Fundamentação

Qualquer trabalho deve ser fundamentado e contextualizado. A História dá-nos um contributo indispensável para o conhecimento dos factos e dos contextos em que eles aconteceram. A sua ajuda é fundamental para evitarmos desinformação e leituras simplistas dos fenómenos. Também os media têm esta responsabilidade.

Estes são alguns recursos que podem explorar para terem uma visão mais sólida do período da nossa História aqui em questão, mas existe uma grande oferta, quer no PÚBLICO (a que podem aceder através da lupa de pesquisa em https://www.publico.pt/), quer em outras fontes que tenham a certeza que são credíveis.

Questões mobilizadoras:

Para ajudar neste processo de preparação, lançamos uma série de questões desbloqueadoras do processo criativo cuja discussão pode ajudar a traçar o esqueleto da iniciativa e a mobilizar diferentes meios.

Revisitamos as palavras de Sérgio Godinho (álbum Liberdade, 1974) como ponto de partida para a reflexão:

“Só há liberdade a sério
Quando houver

A paz, o pão, habitação
Saúde, educação
(...)”

- Nesta perspetiva, será que na atualidade todos temos liberdade “a sério”? Quais os principais impedimentos?

- Qual a realidade de cada uma destas questões em 2023 (paz, pão, habitação, saúde, educação)?

- Quase 50 anos passados, quais as novas causas que incluirias nesta lista?

- Quais as formas de luta/ativismo na atualidade? São as mesmas? São outras? Ou algumas coexistem?

- Democracia e liberdade, as grandes conquistas de Abril estão adquiridas, ou identificas e receias algumas ameaças? Quais?

- A censura foi um poderoso bloqueador da liberdade. Na era da informação e das novas tecnologias, identificas alguma forma de censura e coerção? Qual ou quais? O que representam? Como as ultrapassar?

Na mesma canção:

"Só há liberdade a sério quando houver
Liberdade de mudar e decidir"

Qual o papel da escola e dos seus principais agentes (alunos e professores) para contribuir para cidadãos mais atentos, interventivos, justos, empáticos e tolerantes? E qual o papel dos media?

Criação da instalação

Sugestões e recursos para pesquisa:

1. Recriação digital de cartazes da época, à luz da atualidade;

2. Criação de uma playlist com música da atualidade que considerem ter caraterísticas de intervenção (protesto);

3. Recriação de slogans/palavras de ordem tendo em conta as causas mobilizadoras na atualidade;

4. Construção de uma primeira página do jornal para a comemoração dos 50 anos do 25 de Abril;

5. Dinamização de um concurso de fotografia/vídeo sobre democracia e liberdade;

6. Recolha de testemunhos áudio/vídeo de pessoas que vivenciaram o período de ditadura, a revolução e o pós-revolução, emigração ou exílio, guerra colonial;

7. Seleção de obras literárias que tenham sido censuradas e leitura encenada de alguns excertos;

8. Criação de um ambiente sonoro “Os sons de Abril” (sons de manifestações, de armas, de passagens da rádio, marcha ...)

9. Convite a jovens que representem diferentes quadrantes da sociedade para participarem numa tertúlia com o seguinte mote “Quase 50 anos depois, é muito mais o que nos une do que aquilo que nos separa”.

Esta tertúlia pode ter como ponto de partida uma montagem dos testemunhos sugeridos no ponto 6 desta lista. Para orientar a conversa sugere-se regressar às questões mobilizadoras mencionadas na fase da preparação. Sugestão de painel: músico, realizador de cinema, encenador, artista plástico, escritor, autarca/aluno da Associação de Estudantes, jornalista, professor, influencer/youtuber, emigrante/refugiado; ativista.

Montagem da instalação

A montagem da instalação deve estar incluída na fase de preparação do projeto.

Em função dos materiais construídos, os espaços da escola e os recursos disponíveis para o efeito, devem escolher a melhor forma de proporcionar a experiência.

Painéis para exposição das primeiras páginas de jornais, dos cartazes recriados e das fotografias do concurso; formas de expor/projetar os slogans; colunas de som para "passar" a playlist das músicas de intervenção (da época e da atualidade); tela para projeção dos áudios/vídeos dos testemunhos recolhidos; espaço central com cadeiras dispostas em círculo para a realização da tertúlia; um pequeno espaço fechado para instalação sonora e visual dos sons de Abril são alguns dos aspetos a ter em conta. Uma sugestão alternativa, em caso de dificuldade em concentrar tudo num mesmo espaço, pode ser a criação de um percurso por diferentes locais.

Mais sugestões

Criação de um mapa digital onde assinalem as regiões do globo que vivem em ditadura ou sob regimes autocráticos.

Construção de gráficos que comparem os dados referentes ao acesso à escolaridade em 1974 com os da atualidade.

Construção de gráficos que comparem os dados referentes à mortalidade infantil ou esperança média de vida em 1974 com os da atualidade.

O PÚBLICO na Escola tem muito interesse em acompanhar e divulgar as diferentes fases da criação da instalação. Caso considerem esta possibilidade, agradecemos que nos contactem para publiconaescola@publico.pt.

Nota: O jornal PÚBLICO não é escrito segundo o Acordo Ortográfico de 1990.