Põe a tua escola no mapa

“A forma como nos vestimos é também uma forma de expressão e nem sempre a sociedade respeita essa liberdade”

Calar um ser humano pode ser sinónimo de embrulhá-lo. Alunos de escola profissional de Coimbra escolheram a liberdade de expressão para tema de uma curta-metragem, merecedora de uma menção honrosa na última edição do concurso Cineastas Digitais

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Luís Carvalho, Francisco Freire, Ana Pereira e Tiago Tavares, os quatro alunos autores do filme

A ideia “surgiu do nada”, explicam os alunos. “Quando se tem que trabalhar um tema, por vezes alguém aparece com uma ideia e logo outro pergunta: ‘E porque não?’” No momento de decidir como fariam o filme, foi assim que aconteceu. O contexto ajudou. A abordagem proposta remetia para uma situação concreta que lhes era familiar: “Na verdade, houve um certo enquadramento que motivou o assunto, teve a ver com o facto de alguns alunos na nossa escola se vestirem de forma pouco usual e, por isso, muitas vezes serem julgados ou até ridicularizados por outros colegas. A forma como nos vestimos é também uma forma de expressão e nem sempre a sociedade respeita essa liberdade.”

A curta-metragem de Ana Pereira, Francisco Freire, Luís Carvalho e Tiago Tavares, alunos do curso de Multimédia no Instituto Técnico Artístico e Profissional de Coimbra, chama-se WRAPPING FREEDOM OF EXPRESSION e recebeu uma menção honrosa na XII edição do Concurso Cineastas Digitais. Foi recentemente dada a conhecer ao PÚBLICO na Escola através da rubrica “Põe a tua escola no mapa”.

Recorre à imagem do “embrulhar” (daí o wrapping) o ser humano, impedindo a sua livre expressão, “para denunciar e ao mesmo tempo alertar para a importância deste assunto”, informa a sinopse.

Na resposta, enviada por escrito, às perguntas do PÚBLICO na Escola, os quatro alunos autores do filme justificam a escolha do tema: “Apesar de a nossa sociedade viver em democracia e, aparentemente, podemos exprimir as nossas opiniões, isso nem sempre é verificado. Por exemplo, muitas das vezes se a nossa opinião não for de acordo com o que outros pensam, podemos ficar marcados ou ser excluídos só por manifestarmos o que pensamos. Então, isso significa que existe uma ameaça à forma como nos expressamos.”

“Tocar-lhes no âmago”

Conquistar a atenção dos jovens para grandes temas da atualidade funciona muito desta maneira: fazendo-os perceber como um assunto, que à partida não lhes suscitaria grande interesse, lhes é familiar e está presente no seu dia a dia. “Se não sentirem essa aproximação, rejeitam-no. É preciso fazer uma certa integração, mostrar de que forma estes temas têm que ver com as suas relações pessoais e com o mundo” que os rodeia, resume o professor Paulo Calhau, que coordenou o trabalho da curta-metragem.

O meio ambiente, acrescenta o professor desta escola profissional privada, destaca-se como uma das áreas em que isso se torna mais evidente. A alusão a uma catástrofe não terá necessariamente grande impacto, “mas quando falamos em coisas que não aconteciam no tempo dos avós e que agora acontecem”, e na velocidade a que estão a acontecer... O longe aproxima-se. Então, sim, a questão consegue “tocar-lhes no âmago”.

Fazer essa ponte, ir mostrando como determinada situação afinal diz respeito aos alunos, “é também um trabalho do professor”, lembra Paulo Calhau. Até porque muitas vezes são os chamados influenciadores, “nomeadamente outros jovens que vêm das redes sociais e que os alertam para uma série de questões”, quem pela primeira vez capta a sua atenção e assume o papel de voz ativa na transmissão de uma mensagem a ter em conta.

A próxima edição do concurso Cineastas Digitais, destinado a alunos do 3.º ciclo do ensino básico e do ensino secundário, está já em marcha. Iniciativa do Centro de Competência entre Mar e Serra, organizada em parceria com a Direção-Geral da Educação, tem como tema geral os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, definidos pela ONU. Os filmes terão de ser submetidos até 30 de junho de 2020.