Pintura atribuída a Tintoretto doada ao mosteiro de Singeverga deverá ser classificada

Técnicos do Museu Nacional de Arte Antiga estiveram em Santo Tirso para uma primeira apreciação da obra

a José Alberto Seabra, conservador da colecção de pintura do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), está convencido de que a Adoração dos Reis Magos atribuída ao pintor veneziano Tintoretto, actualmente exposta no mosteiro de Singeverga, em Santo Tirso, ao qual foi doada em 2003, deverá vir a ser classificada. Seabra esteve ontem à tarde no mosteiro beneditino, acompanhado de outros técnicos, para uma primeira apreciação desta pintura a óleo de grandes dimensões (5,25 metros de comprimento por 2,25 de altura), e, no final da visita, afirmou-se convicto de que o seu relatório irá levar a tutela a classificar a obra. Para este técnico, a pintura mereceria ser classificada, mesmo que não venha a ser possível comprovar que é de Tintoretto ou de alguém da sua oficina.
A classificação tornaria mais difícil que a pintura saísse do país, mas essa é uma eventualidade que não parece estar em questão, uma vez que o mosteiro pretende conservá-la.
A existência desta obra em Singeverga foi divulgada recentemente, mas a pintura já se encontra no mosteiro desde 2003, ainda que só ali esteja em exposição desde 2005. Antes disso, esteve durante décadas nas mãos de familiares do empresário e financeiro Jaime Pinho, católico fervoroso e cavaleiro da Ordem do Santo Sepulcro, que, ainda em vida, manifestou o desejo de que a pintura fosse doada aos monges beneditinos.
A viúva de Jaime Pinho contemplou a vontade do marido no seu testamento, e acabou por ser um sobrinho do doador, Carlos Pinho - que ontem acompanhou a visita dos técnicos do MNAA - a formalizar a entrega.
Seabra admitiu que Portugal não tem meios para estudar convenienetemente a obra e defendeu que deveria ser criada uma equipa internacional para o efeito, designadamente com técnicos do Museu do Prado, em Madrid, que ainda este ano realizou uma grande exposição dedicada ao pintor veneziano. Uma equipa que, a formar-se, deverá envolver o professor de História de Arte Vítor Serrão, considerado o maior especialista português na obra de Tintoretto e que vem investigando esta tela desde Abril passado, quando um seu amigo, o musicólogo Manuel Morais, lhe chamou a atenção para a sua existência.
A tela foi "descoberta" quase por acaso. Manuel Morais, especialista na música do período maneirista, estava em Singeverga em Abril passado, quando ali deparou com esta Adoração dos Reis Magos. Ficou logo convencido de que estava a olhar para um Tintoretto e informou o seu amigo Vítor Serrão, que se encontrava no Museu do Prado a ver a exposição dedicada àquele artista. Segundo Vítor Serrão, tratar-se-ia de um Tintoretto tardio, com provável intervenção do seu filho Domenico.
Há também a hipótese de a tela corresponder a uma Adoração dos Reis Magos realizada por Tintoretto para uma igreja de Veneza. A obra é dada como desaparecida, mas conhecem-se referências a ela até ao século XVIII. A própria igreja já não existe, mas Manuel Morais admite que possam vir a encontrar-se referências documentais que ajudem a testar esta possível identificação.

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