Luaty Beirão estará, em vídeo, na rentrée do BE

“Impossível meter Angola e democracia na mesma frase”, diz activista sobre o presente. Fórum Socialismo 2016 do BE decorre em Santa Maria da Feira e terá cerca de 50 debates.

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Vídeo de Luaty Beirão

Educação, direito do trabalho, economia, sistema financeiro, banca, ambiente sustentável, segurança social, saúde, política internacional, com destaque para as situações do Brasil e de Angola: são muitos os temas que vão estar em debate no Fórum Socialismo 2016que decorre entre sexta-feira e domingo, na Escola Secundária de Santa Maria da Feira, e que marca a rentrée política do Bloco do Esquerda. No evento, será exibido também um vídeo de Luaty Beirão, no qual o músico e activista defende, entre outras ideias, que neste momento não se pode pôr “Angola e democracia na mesma frase”.

O BE tentará ainda que Luaty Beirão participe, sábado à tarde, no debate Angola: libertar a democracia, via Skype, para responder a perguntas. Luaty Beirão faz parte do grupo de activistas angolanos que foram presos em Luanda por “actos preparatórios de rebelião”, que estiveram em greve de fome e que foram recentemente abrangidos por uma lei de amnistia (Luaty Beirão e outros activistas consideram, porém, que não devem ser perdoados por um crime que dizem não ter cometido). No excerto do vídeo enviado ao PÚBLICO, e ressalvando que é a sua opinião, o músico considera que “dizer as palavras Angola e democracia na mesma frase é abuso de linguagem. No máximo teria de ter também nesta frase, e na sequência, luta pela democracia ou tentativa de instaurar uma democracia”.

Para Luaty Beirão, “a mentalidade das pessoas que estiveram no poder e que continuam no poder, porque são as mesmas", sempre foi "de aproveitamento do bem público para seu próprio enriquecimento pessoal”. No excerto, pode ainda ouvir-se o músico dizer que “as perseguições, as ameaças de morte, as cocaínas nas bagagens, as tentativas de incriminação de toda e qualquer pessoa que tente, sequer, levantar a voz, dizendo que isto está mal, que isto precisa de melhorar, por considerar as pessoas que estão no poder hoje incompetentes, usando do seu direito de expressão e opinião” fazem “com que se torne impossível meter Angola e democracia na mesma frase e manter um ar sério”. Recorde-se que o BE não esteve presente, ao contrário de outros partidos portugueses, no recente congresso do MPLA.

“Não podemos e não devemos considerar Angola um estado democrático de direito, porque as leis estão lá, mas os seus executores, as pessoas que têm responsabilidade de ler, interpretar, executar, fazer cumprir a lei são pessoas que estão exclusivamente ao serviço do poder instituído”, diz ainda Luaty Beirão, para quem o estado angolano prefere “deixar morrer pessoas” a cumprir a “lei vigente”. O excerto ao qual o PÚBLICO teve acesso termina com a seguinte a frase: “A democracia ainda é uma utopia, mas é uma utopia pela qual vale a pena lutar.”

Para além desta sessão, na qual se espera conseguir estabelecer contacto via Skype com Luaty Beirão, o fórum terá muitos outros debates. “Alguns são temas relacionados com o próximo Orçamento do Estado, mas não nos ficamos por aí”, diz o deputado bloquista Moisés Ferreira, referindo-se, por exemplo, a discussões sobre a actividade estudantil, os direitos dos animais, a sexualidade, temas nos quais, frisa, ainda é preciso “fazer muito caminho”.

No evento marcará presença, por exemplo, o deputado federal pelo Rio de Janeiro Jean Wyllys e a deputada do BE Joana Mortágua que participarão num debate com o tema Perspectivas da esquerda para o Brasil. No sábado, a discussão Os paraísos da corrupção terá como oradores o socialista João Cravinho e o líder da bancada parlamentar Pedro Filipe Soares. O ex-coordenador do BE, Francisco Louçã, falará sobre Maquiavel, a Guerra dos Tronos e a luta pelo poder da Europa”. No domingo, faz também parte do programa um debate sobre Desobedecer à Europa, com o antigo socialista Alfredo Barroso e o deputado bloquista José Manuel Pureza.

O tema da desobediência à Europa não é novo no seio do BE: “Somos um partido europeísta, mas que não se conforma com regras prejudiciais do directório europeu para os povos”, justifica Moisés Ferreira, para quem o fórum serve para “debater propostas para Portugal, Europa e o mundo”. No domingo à tarde, Moisés Ferreira destaca ainda a discussão em torno da eutanásia, que contará com as presenças do bloquista João Semedo, o psiquiatra Júlio Machado Vaz e a deputada socialista Antónia Almeida Santos. O encerramento será feito pela coordenadora do Bloco, Catarina Martins, às 15h45.

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