Valerá a pena criticar?

Seria mais cómodo nada fazer e dizer, mas ser “livre” é uma opção política.

Pessoas como eu, que gostam de criticar e chamar à atenção para o que acham que não é correcto e está mal, têm mais inimigos do que amigos. Recentemente fui alvo de processo-crime pelo presidente da CM Gaia, por alegada difamação. As minhas críticas sempre tiveram por base as razões e nunca ataques pessoais.

O problema para quem escreve, opina, intervém publicamente, tem que ver entre uma linha de se incomodar e uma linha de não ligar e tudo aceitar. A tentação de nada fazer por vezes é mais forte e cómoda do que actuar e intervir.

Os políticos tudo fazem para que acreditemos nas suas boas intenções, especialmente perto de eleições. O que é que eu pretendo ao intervir das mais variadas formas: escrita, debates, rádio, televisão? Informar, denunciar, alertar, revelar, demonstrar e por vezes acusar quando tenho provas evidentes. No fundo, procurar melhorar a vida pública.

Mas por vezes sinto-me cansado de estar a pregar no deserto. Nada se modifica e ninguém faz o menor caso. Porém não posso ser pretensioso ao ponto de pensar que o que faço consiga mudar o curso dos acontecimentos. No fundo, sinto que não tenho nenhum papel (apesar de me dizerem que tenho), daí, achar que caio no ridículo por não me calar e conter, não tendo a mínima influência em nada.

Critico muitas vezes o governo e recentemente presidentes de Câmara (Gaia, Porto, Matosinhos, Maia, etc.) e nada muda. Deste modo tenho de dar razão a quem acha que não vale a pena insistir e que não passo de um sonhador, que caio no ridículo, sendo acusado de querer protagonismo.

Na cabeça dos governantes, nacionais ou locais, está a sua vitória nas eleições e têm quatro anos para fazerem o que lhes apetece. Não importa, nem conta, não cumprir promessas eleitorais, rasgar compromissos assumidos, enganar e trair os cidadãos e causar danos irreparáveis nos cidadãos e no futuro.

Todavia, pensando bem, não consigo conter-me e deixar de denunciar abusos de poder, injustiças, denunciar gente sem escrúpulos e canalhadas constantes neste país. É importante tratar de abrir os olhos a quem os tem fechados, procurar que as pessoas reparem no que se passa à sua volta e quem detém o poder, argumentar contra as arbitrariedades, denunciar práticas ditatoriais exercidas em democracia, protestar contra decisões tomadas, abuso dos direitos e liberdades e advertir como formas menos lícitas de actuar e governar.

Seria mais cómodo nada fazer e dizer, mas ser “livre” é uma opção política. Se falamos, caímos no ridículo e julgam-nos por segundas intenções. Se nos calamos e nada fazemos, portamo-nos como cobardes e mansos.

Acredito que a influência é mínima ou zero, mas de uma coisa estou certo: se não incomodarmos um pouco e não estivermos atentos ao que se passa, será ainda pior.

Os políticos e quem governa querem aplausos, vénias e reverência. Tenho a certeza que gostariam que desaparecêssemos, mas ao não conseguirem fazê-lo, ou tentam silenciar-nos, ou não nos querem como inimigos declarados.

Vivemos uma crise de governação democrática representativa. Com frequência vemos claros excessos do poder executivo, invadindo outros poderes do Estado, como o Parlamento, ou submetendo o poder judicial, ou limitando a liberdade de imprensa, ou perseguindo a opinião de adversários políticos.

O equilíbrio de poderes e as liberdades básicas ficam em risco pelo abuso de poder. O voto dos cidadãos é manipulado nestas circunstâncias e a democracia deteriora-se a favor do poder estabelecido.

Eu costumo dizer que tenho uma má relação com a verdade. Dizer as verdades traz-me problemas. Winston Churchill dizia que “ a verdade é tão preciosa que deve ser sempre protegida por uma guarda de mentiras”. O problema é que eu não sei mentir…

Fundador do Clube dos Pensadores

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