Moscovici, Costa e Sampaio. Foi quase um mar de rosas

A semana em revista, passando pela surpresa económica, o fim das sanções, as melhores ideias para o Orçamento. E uma certa confusão na Educação.

O comissário europeu anda há semanas a desafiar Schäuble, mas desta vez mudou a política. António Costa ganhou com isso (como Renzi). Mas sobretudo ganhou com o INE. Na prática, vivemos uma semana quase cor-de-rosa. Quase, não fosse um pequeno senão (e o facto de as boas notícias não serem ainda definitivas).

Jorge Sampaio, ex-Presidente: 17

Continua a ser o mais interventivo de todos os ex-presidentes da República. Usa a sua influência com peso e medida, no momento em que julga ser mais necessária uma palavra que ponha os portugueses a pensar. O seu artigo aqui no PÚBLICO, esta segunda-feira, pode ser rebatível (como aconteceu, e bem, em alguns casos), mas é um notável momento de clareza na discussão política pós-Trump. E de independência, porque há naqueles 20 mil caracteres que nem ao seu partido agradam. Se há alguém que merece a o título de senador da República, Jorge Sampaio é certamente o primeiro na lista.

António Costa, primeiro-ministro: 15

E, quando menos se esperava, a economia voltou a crescer. Os dados preliminares do terceiro trimestre foram uma bênção para o primeiro-ministro — mesmo sabendo que se baseiam nas exportações e não no consumo interno, mesmo sabendo que os sinais de risco continuam todos presentes e que o PIB subirá menos do que Costa previa no início do ano. Ainda assim é justo reconhecer o básico: Portugal cresceu acima de todos os parceiros da zona euro; Costa ganhou uma arma
(pelo menos por três meses) para deixar Passos Coelho sem discurso político. Mais ainda na semana em que a Comissão Europeia deu luz verde ao Orçamento e enterrou o processo das sanções. Não fosse a Caixa e a semana era, para Costa, um mar de rosas.

Pierre Moscovici, comissário europeu: 14

Passou despercebido, mas há duas semanas apenas o comissário europeu escreveu um artigo de opinião criticando abertamente o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, pela sua perspectiva ortodoxa das políticas orçamentais da zona euro. Esta semana o socialista voltou à carga, contrariando-o no que respeita à economia portuguesa. Definitivamente, a Comissão Juncker é muito mais política do que foi a Comissão Barroso (também porque a conjuntura é diferente). Mas a verdade é que, na correlação de forças, é Juncker quem está a ganhar força — e Moscovici quem está a flexibilizar a interpretação das regras do euro. A melhor prova disso é a forma como acabaram as sanções a Portugal — os desvios continuam lá, mas em Bruxelas já ninguém se importou; e a discrição com que se aliviou o peso a Mateo Renzi, à beira de um referendo decisivo.

André Silva, líder do PAN: 13

No meio da habitual guerra das propostas do Orçamento (na especialidade), o PAN de André Silva parece o mais esclarecido dos partidos. Pede a redução do IVA nos ginásios, que os produtos à base de gorduras de porco sejam retirados da lista de bens essenciais (em IVA), sugere a introdução de leite vegetal nas escolas — e mais umas tantas ideias, promovendo um estilo de vida mais saudável para os portugueses. Sabemos que o PAN não é um partido com voto de qualidade no Parlamento. Mas até por isso se deve louvar a atitude construtiva como André Silva tem encarado este seu mandato.

Graça Fonseca, secretária de Estado: 12

Discreta, a secretária de Estado
responsável pela modernização administrativa lançou um processo com impacto real no nosso dia-a-dia: uma plataforma informática que pretende pôr os serviços do Estado a enviar notificações por email, pondo fim aos tradicionais e custosos envelopes de cartas. Pena é que a decisão do Conselho de Ministros não tenha um carácter mais vinculativo e que não envolva, pelo menos ainda, os tribunais (como aqui no PÚBLICO chegámos a perceber, erradamente). Como sabemos, no Estado que temos, ou há uma data para acabar, ou a burocracia nunca tem fim.

Passos Coelho, líder do PSD: 9

O líder do PSD já tinha visto Rui Rio desafiá-lo, já tinha visto vários dos críticos a aparecer pelos jornais com avisos. E assim ficou com um retrato fiel das primeiras movimentações no partido para o desafiar. Mas esta semana o registo positivo da economia deixou-o quase sem discurso (naquele que tem sido o eixo central da sua oposição a Costa). Os próximos meses serão, no mínimo, um desafio difícil.
 

Tiago Brandão Rodrigues, ministro da Educação: 7

A semana começou com o Expresso a dizer o que o Governo ia colocar os precários no quadro — imagina-se que começando pela Educação, que é onde existem mais (31 mil, diz a Fenprof). Mas, depois, vieram alguns dados: a média de alunos por turma é pouco superior a 21, bastante abaixo da europeia. E nos próximos cinco anos o número de alunos vai descer drasticamente — menos 110 mil. Chegados aqui, temos de perguntar: os dados oficiais servem para se definir políticas ou apenas para as meter na gaveta?

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