Um herói

Se ele conseguisse que Portugal inteiro jogasse regularmente no “Euromilhões” talvez pagasse a dívida e pudesse mesmo marchar sobre Vigo e prender o alcaide.

Esta semana, o dr. Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, começou uma guerra e descobriu um novo princípio de governo. A guerra começou com um insulto ao alcaide de Vigo. Numa audaciosa metáfora que mal me atrevo a repetir, Rui Moreira declarou que o alcaide de Vigo se sentia como uma salsicha numa francesinha e que, além disso, Vigo tinha um aeroporto miserável. O espanhol, ou galego, como quiserem, não levou o comentário a bem e exigiu desculpas, que o bravo Moreira se recusou a dar. Pela continuação da história se verá a importância deste incidente fronteiriço. Mas, primeiro, é preciso dizer que o Porto borbulhava de ódio a Lisboa, que aparentemente não lhe fizera mal nenhum, a não ser o mal que Lisboa faz sempre ao Porto.

Só que neste caso havia uma razão particular para a fúria do Porto e, claro do dr. Rui Moreira, seu defensor e condestável. Depois da renacionalização da TAP, se assim se pode chamar ao confuso negócio do dr. António Costa com os senhores que a tinham comprado, o Estado ficou com 50 por cento da coisa; e não sei se com 50 por cento da dívida e dos poderes. Sucede que os privados desta nova espécie de parceria resolveram cortar ao Porto quatro carreiras, como se Rui Moreira não existisse. Ora Moreira existe e, como seria de esperar, ameaçou imediatamente Lisboa que se ela não usasse os seus 50 por cento, que pertencem também ao Porto, ele exerceria represálias. Ninguém percebeu como, porque não consta que o Porto, ou mesmo o Norte, tenham um exército privativo; e os mouros cá de baixo descansaram.

Erro deles. No dia seguinte, Rui Moreira revelou o seu plano. Iria esperar até que lhe saísse a sorte grande no “Euromilhões”. Com esse dinheiro comprava a TAP de fio a pavio e, a seguir, transferia as carreiras de Lisboa para o Porto. Todas, sem faltar uma. E, assim, como ele explicou com um sorriso feroz, qualquer português que quisesse sair de Portugal, especialmente os políticos, seria obrigado para seu castigo a passar pelo Porto. Estamos daqui a ver o Benfica no aeroporto do inimigo depois de um daqueles desastres vexatórios que lhe costumam suceder pelo estrangeiro e o sorriso subtil de Rui Moreira perante a vitória. Um César. Se ele conseguisse que Portugal inteiro jogasse regularmente no “Euromilhões” talvez pagasse a dívida e pudesse mesmo marchar sobre Vigo e prender o alcaide. Isso, sim.

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