Leal Coelho foi abençoada por um Pedro que não era o Pedro que ela queria

Candidata do PSD à câmara de Lisboa percorreu a Avenida da Liberdade para falar do trânsito e das propostas que tem para a reanimação do Parque Mayer. Pelo meio, foi ouvindo as queixas dos comerciantes das bancas de artesanato que se estendem pela avenida.

Fotogaleria
Rui Gaudêncio
Fotogaleria
Rui Gaudêncio

Chegou com 20 minutos de atraso, mais coisa, menos coisa. O combinado era estar no Marquês de Pombal, ao meio-dia, junto ao outdoor que a candidata do PSD à autarquia lisboeta, Teresa Leal Coelho, ali tem. 

E, logo no início, teve dois nomes de peso do partido pelo qual se candidata à câmara de Lisboa: Alberto João Jardim e Pedro Santana Lopes. Não fisicamente, é certo, mas pela voz de Canto e Castro, conhecido dos lisboetas pelo talento a imitar vozes, que, já na quinta-feira, tinha estado noutra arruada da candidata.

Da voz roubada a Alberto João Jardim, recebeu o elogio de ser “um jardim plantado”, como os “da Madeira que já foi sua”. Mas Teresa Leal Coelho pediu-lhe mesmo Pedro Passos Coelho, só que Canto e Castro deu-lhe outro Pedro: o Santana Lopes. "Queria agradecer imenso à doutora Teresa Leal Coelho que é, de facto, uma pessoa fantástica. E eu posso dizer, como homem da Santa Casa da Misericórdia, só um santo para abençoar esta senhora. Muito obrigada. Eu ando sempre por aí, nunca deixei de andar por aí". 

Reunida uma pequena comitiva, cerca de três dezenas de jovens com a t-shirt laranja que, de quando em vez, lá gritavam "Teresa! Teresa! Teresa!", acompanhados por assessores, responsáveis da campanha, o cabeça de lista à assembleia municipal, José Eduardo Martins, e o presidente e recandidato à Junta de Freguesia de Santo António, Vasco Morgado.

Entre o barulho dos carros, as buzinadelas constantes numa rotunda congestionada, começou-se a arruada que percorreria toda a descida da Avenida da Liberdade e só findaria com a chegada ao Parque Mayer. 

E a primeira paragem seria mesmo enquanto se esperava que o semáforo abrisse. Esse tempo foi aproveitado para se falar de um assunto que não passava despercebido perante o pára-arranca mesmo ali diante dos nossos olhos: o trânsito, no próprio dia em que se celebrava o Dia Europeu Sem Carros, facto repetido vezes sem conta pela candidata durante o percurso. 

“Será uma das medidas que tomaremos logo que, e se, eu for eleita presidente da câmara: recolocar o sentido ascendente e o sentido descendente da Avenida da Liberdade”, atirou Teresa Leal Coelho. Uma medida “muito simples”, que “custa pouco dinheiro” e que, na opinião da candidata social-democrata, facilitaria a fluidez do trânsito naquela zona em que tem sido “caótico” circular “mesmo com essa grande obra de Pedro Santana Lopes que foi a construção do túnel do Marquês”. Referiu ainda os “inúmeros” lugares de estacionamento que foram “anulados” sem terem sido criadas “alternativas”.  

Vasco Morgado, o autarca da freguesia de Santo António, anuía ao admitir que o trânsito era depois escoado para as paralelas da avenida e que era um problema “a volta que a gente tinha de dar para chegar a qualquer lado”.  

E Teresa Leal Coelho não se inibiu de mandar uma farpa a Fernando Medina quando disse que o autarca queria apenas um carro por casa, no decorrer de uma acção de campanha em Campo de Ourique. 

“Está a dizer às pessoas para venderem o segundo ou terceiro carro. Mas nós não dizemos às pessoas como é que vivem, nós apenas garantimos alternativas para que as pessoas possam fazer as suas escolhas”, atirou Leal Coelho. 

Os turistas "lowcost"

O sinal verde lá abriu e a verdadeira arruada começava agora com a descida da avenida. Numa alameda que tem pouco de português nos negócios que alberga, a primeira paragem, de resto, como todas as outras, deteve-se sobre as bancas nas feirinhas que se estendem pela avenida. E as perguntas foram-se repetindo ao longo das bancas por onde ia passando: “Então como está a correr o negócio? E quem compra mais, turistas ou portugueses?”. 

As respostas eram invariavelmente as mesmas: o negócio está “assim-assim”, quando não está mau. “Os portugueses estão com problemas de plim-plim", atirava Leal Coelho. Já os turistas – os que compram – gastam pouco. “Andam com pouco dinheiro. São todos lowcost", dizia uma vendedora atrás da banca de artesanato. 

Compra aqui, compra acolá, José Eduardo Martins, o candidato à Assembleia Municipal e principal obreiro do programa político autárquico do PSD para Lisboa, ia recheando o saco. Ora com um chutney de cebola, ora com um dominó de colecção. Para contrariar a ideia de que só os turistas “lowcost” paravam para comprar alguma coisa. 

O mesmo apontava para os corações de Viana, dizendo que se Sharon Stone já tinha um, era preciso, agora, mostrá-los “no Instagram da Madonna”, a mais recente estrela internacional inquilina na capital. 

Entre beijinhos e cumprimentos, houve até tempo para pegar ao colo a cadela,  a Carlota Joaquina, de uma vendedora que ali estava, mas que às terças e sábados vai para a Feira da Ladra. Tal e qual José Santos, a quem Teresa Leal Coelho teve de ouvir as queixas de quem quer estender arraiais lá na feira, mas não consegue porque os carros ocupam o espaço que lhe está reservado. “Nós pagamos o nosso lugar, alguém estaciona lá e não podemos fazer feira”, queixava-se. Recebeu a garantia de Leal Coelho que lhe disse que “ia ver isso da feira da ladra”. 

Já na recta final da acção de campanha, mesmo à entrada do Parque Mayer, a candidata social-democrata falava aos jornalistas para defender a criação de uma “marca Lisboa, Cidade das Artes”. Que passava por instalar ali, no velho e abandonado quarteirão artístico do Parque Mayer, “não só escolas de artes, do teatro, do cinema”, mas uma “sede de indústrias de entretenimento”, e um “conjunto de restaurantes”, numa “mostra gastronómica não só de Portugal, mas de todo o mundo”. 

E o que é que faltou ser feito naquela zona da cidade? “Basta olhar à volta. Está uma ruína o parque Mayer”, diz a candidata, mandando mais uma farpa a Medina por um projecto que terá sido aprovado, em 2009, pela câmara de Lisboa, com o voto contra do PSD. E que, ressalva, “não foi executado”. 

No final da arruada, é tempo de acender um cigarro e de sentar nas escadas do renovado Capitólio. Já eram quase duas da tarde e a caravana social-democrata não pararia. A próxima paragem seria às cinco na Penha de França. 

Sugerir correcção
Comentar