"Tem de ser a última vez", uma frase de Costa... e de Passos

O primeiro-ministro e o líder da oposição concordam que o país não pode voltar a cair nos erros do passado. Mas cada um vê um caminho diferente para que o país não volte a ter problemas nas finanças públicas.

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António Costa fez uma comunicação ao país nos jardins de São Bento Nuno Ferreira Santos

A ideia é a mesma: não repetir erros antigos para que o país não volte aos problemas do passado. E foi dita quer por António Costa, quer por Passos Coelho. "Tem de ser a última vez que passamos por um processo tão traumático", disse o primeiro-ministro, numa comunicação ao país para celebrar o fim do Procedimento por Défice Excessivo. Se a frase ficasse só por aqui, estaria Governo e oposição de acordo, mas a forma para não voltar aos défices altos não é igual para o primeiro-ministro nem para o líder da oposição. E é aí que os dois falam linguagens económicas e financeiras diferentes.

António Costa e Passos Coelho querem distanciar-se do passado de défices altos e foi só aí que estiveram em sintonia no dia em que o país viu a Comissão Europeia (CE) recomendar ao Conselho Europeu a saída de Portugal do Procedimento por Défice Excessivo (PDE). Neste dia, até viram o Presidente da República apelar ao trabalho de todos e a dar os parabéns aos dois "pelo trabalho dos respectivos Governos", mas a concordância terminou aqui.

Depois de um dia de um "sucesso nacional", António Costa falou aos portugueses para dizer que a decisão da CE aconteceu por esta mostrar "confiança no futuro da economia e confirma que nos encontramos num ponto de viragem". Não "é o fim do caminho" e tem de significar "a última vez que passamos por um processo tão traumático", referindo-se ao programa da troika. "Não podemos voltar a perder o que hoje alcançámos", resumiu. Até porque esta saída já é a terceira vez que acontece.

Costa não resistiu à política nas palavras e deu resposta a Passos Coelho, que de manhã tinha dito que o país "não pode voltar a cometer os mesmos erros", referindo-se não só à actuação do Governo de José Sócrates que levou ao resgate, mas apelando a que este Governo tenha "a humildade suficiente para não ignorar os desafios que temos à nossa frente". O primeiro-ministro ouviu e respondeu dizendo que o que a decisão da CE mostrou foi que o caminho do actual governo é o correcto porque mostrou ser "possível respeitar a Constituição" enquanto se "repõe rendimentos". "Não recuperamos competitividade por via do empobrecimento colectivo. As reformas que estamos a fazer são outras e pedem continuidade e persistência", frisou.

Essa continuidade vai virar-se agora para o médio prazo para "não deixar ninguém para trás". "Temos motivos para estar satisfeitos. Agora é o tempo de nos focarmos numa visão de médio prazo que devemos prosseguir com estabilidade para vencermos os desafios estruturais". E parte dessa estratégia continuará a ser a redução do défice para permitir reduzir a dívida.

No geral, seriam palavras que cruzavam bem com os pedidos da oposição, contudo não o são na prática. Passos tinha pedido para que se debatessem os "problemas estruturais", mas admitiu à partida estar satisfeito com os resultados do défice, mas não com o caminho seguido pelo Governo. "Poderia haver outras formas de chegarmos a um défice abaixo dos 3%; não teria de ser feito à custa do sacrifício do investimento e de cortes cegos em saúde e educação. Havia outras possibilidades, mas o importante é que conseguimos chegar aos 3%", disse. E aqui não há concordância possível a não ser com o CDS, que enquanto dava os parabéns ao actual Governo, dizia que o sucesso se devia "muito mais ao anterior governo do que aos partidos que hoje apoiam o Governo”, defendeu João Almeida.

Os partidos da esquerda pediram mais ao executivo de Costa. A deputada do BE, Mariana Mortágua pediu que fosse utilizada "toda a margem adicional" para "reconstruir o que foi destruído pela austeridade" e o deputado do PEV, José Luís Ferreira, defendeu que "não se baixem os braços". O PCP foi mais comedido, desvalorizando a saída apesar de ser "o fim de um instrumento de pressão" e que o país tem de "atacar os problemas estruturais", como são o crescimento anémico, disse João Oliveira. Com M.L.

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