Sobre o estilo de Passos Coelho

Deve Passos manter a pose de primeiro-ministro ou soltar-se e falar sobre um futuro melhor? No PSD, há ideias em choque

Se há coisa que se pode dizer sobre Pedro Passos Coelho, sem criar qualquer polémica, é que é um político que não vive para as sondagens.

O ex-primeiro-ministro do PSD nunca se posicionou como líder que quer agradar, que antecipa o mood nacional e diz o que os portugueses querem ouvir.

Quando fala, percebe-se que Passos acredita no que diz e que quer dizer as coisas como pensa que elas são, por desagradáveis e duras que se revelem. No partido, alguns dos seus seguidores, como o jovem Hugo Soares, vice-presidente da bancada social-democrata, vêem-no como o homem que “fala verdade aos portugueses” e assume com orgulho os custos políticos resultantes desse estilo.

Mas não é fácil para muitos sociais-democratas, que perderam o poder e querem regressar a ele depressa, continuarem a ouvir o discurso negativo, técnico, financeiro, económico, derrotista, da catástrofe e da desgraça, que Passos não quer largar.

Marques Mendes, que já foi líder do partido e agora tem a vida simplificada como comentador na televisão, sugere que Passos deve “mudar o discurso”, demasiado concentrado no passado, e propôs uma fórmula: “As pessoas querem ouvir falar no futuro”, querem um discurso “gerador de esperança”, “mais abrangente” e voltado para questões “sociais, culturais e científicas”. O mesmo dissera Miguel Albuquerque no congresso de Espinho, ao perguntar “se o PSD tem a capacidade de apontar caminhos mobilizadores para o futuro” e ao afirmar que “o PSD precisa de mudar de registo” e de se “abrir à sociedade”.

Para o partido, Marques Mendes quer “figuras do futuro”, Albuquerque quer um “novo paradigma”. Muitos, sem vontade de o dizer abertamente, partilham em off esta mesma leitura.

Passos Coelho sabe tudo isto. E o que fez no Pontal, o primeiro tiro da rentrée política portuguesa? O oposto. Centrou-se na economia e não falou do futuro, nem da cultura, nem da ciência, nem dessa “luz de esperança” que o partido lhe implora.

Mas porque haveria Passos de mudar o discurso se ele acredita que a dose de austeridade que infligiu a Portugal foi a certa? Se não concorda sequer com os que, dentro do próprio PSD, criticam as medidas aplicadas aos mais pobres e aos reformados?

Para o bem e para o mal, que Pedro Passos Coelho seja e mostre o que é. Que não se transforme num político demasiado artificial em nome do partido ou da estratégia de regresso ao poder. Do mesmo modo, deixem António Costa ser “irritantemente optimista” e Marcelo Rebelo de Sousa "demasiado hiperactivo"

Mudem os líderes e faça-se o debate dos programas e das ideias. Mas deixem os estilos em paz. Se acreditam que Passos não é o que o PSD precisa - e há boas razões para pensar isso -, substituam-no.

Os políticos não podem mudar de personalidade quando há um novo ciclo e calçam novos sapatos. Isso é o mínimo que lhes podemos pedir.

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