Serviços de segurança apontam para crime organizado no assalto a Tancos

A mão terrorista começa a ser descartada no assalto aos paióis de Tancos. Não houve encerramento das fronteiras nem reforço da segurança nos postos fronteiriços.

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mmm miguel madeira

O roubo de material militar nos Paióis Nacionais de Tancos terá sido levado a cabo por operacionais do crime organizado internacional com fontes de informação no interior da base e não por elementos ligados às redes terroristas, segundo crêem membros dos serviços de segurança ouvidos pelo PÚBLICO.

A convicção de que o roubo de Tancos nada tem a ver com um grupo terrorista prende-se com o facto destas organizações na Europa estarem a revelar um modos operandi em que não é usado este tipo de equipamento. Os mais recentes atentados foram cometidos com explosivos chamados caseiros, feitos pelos próprios grupos, ou recorrendo a meios alternativos denominados como primários, com o uso de viaturas como “armas” para ataques ou recorrendo a facas.

A informação agora apurada pelo PÚBLICO junto de vários membros dos serviços de segurança foi avançada pelo jornal El Mundo na tarde de ontem, que, citando fontes do Ministério do Interior espanhol, adiantava que a rede que roubou as armas em Tancos estaria ligada ao tráfico internacional de armas e não ao jiadismo. O jornal citava fontes do Ministério do Interior de Espanha, que teriam sido passadas pela ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, durante um reunião do G4, (Portugal, Espanha, França e Marrocos). O Ministério da Administração Interna, através de um comunicado, desmentiu a notícia do El Mundo.

Apesar de actualmente não existirem informações da presença constante de indivíduos estrangeiros ligados ao crime organizado internacional em Portugal, a principal pista dos serviços de segurança apontam para uma força deste tipo. Até porque no passado recente foram detectados crimes levados a cabo por estas redes, uma ligada ao leste da Europa e outra a uma organização chilena, que fez diversos assaltos a residências, em alguns casos usando violência.

Os diversos membros destes serviços ouvidos pelo PÚBLICO acham, por outro lado, "quase impossível" que este crime possa ter sido levado a cabo sem uma fonte de informação no interior da base, que tivesse fornecido aos assaltantes os locais exactos do armamento que pretendiam, quais as horas de ausência de vigilância física desses locais, entre outros detalhes sobre a base.

Uma hipótese que, aliás, já foi avançada pelo Chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, que reconheceu que quem roubou o material de guerra do quartel de Tancos tinha "conhecimento do conteúdo dos paióis", admitindo a possibilidade de fuga de informação.

Logística exigente

Por outro lado, este crime terá tido uma logística de alguma envergadura, nomeadamente no transporte do material de guerra. Segundo especialistas ouvidos pelo PÚBLICO, se o material furtado “foi só o que tem sido revelado”, seria suficiente uma carrinha de caixa fechada. O material roubado não tem grande volume, mas porque está acondicionado em caixas de madeira pesadas, como as usadas, por exemplo, para acondicionamento das 44 Granadas antitanque 66 mm e para as 240 granadas de diversos tipos furtadas em Tancos, poderá indicar o envolvimento de diversos assaltantes.

Outro pormenor importante é o facto de se suspeitar que o veículo usado estaria dotado de meios de estabilidade de carga, a única forma transportar explosivos sensíveis em segurança.

Os membros das forças de segurança ouvidos pelo PÚBLICO acreditam que o material roubado não tenha sido enviado para o estrangeiro, pelo menos para já, o que aumentaria significativamente o factor de risco para os assaltantes. A ficar em Portugal, parte desse material poderá ser utilizado em crime violento, como assaltos a caixas Multibanco e veículos de transportes de valores.

Segundo uma fonte do SEF, não houve encerramento das fronteiras nem reforço da segurança nos postos fronteiriços após o assalto aos Paióis Nacionais de Tancos.

Baixo valor monetário no mercado oficial

Embora seja de grande gravidade, como têm salientado vários membros do Governo e militares, o valor do material roubado no mercado legal não será milionário.

Embora seja difícil saber qual o valor aproximado – depende da forma como foi comprado e em que ano, entre outras circunstâncias -, os preços no mercado oficial de algum material chega a ser irrisório. O equipamento de valor mais elevado será o das granadas antitanque 66 mm, que estarão entre os 800 e 1000 euros a unidade. Já os cartuchos (balas) de 9mm (foram furtados 1450) são vendidos a cerca 20 euros cada caixa de 50 unidades. Os diversos tipos de chamados explosivos plásticos, usados também em meios profissionais civis, como pedreiras, estarão entre os 20 e os 80 euros a unidade. Claro que, no mercado negro, o valor de todo este material será substancialmente mais elevado.

O roubo aos Paióis Nacionais de Tancos foi conhecido na quarta-feira e de imediato confirmado pelo Exército. Na sexta-feira, esta força militar divulgou uma lista com algum do material roubado, mas sem especificar, nomeadamente as quantidades. Já no domingo o jornal online El Español revelou uma lista detalhada do equipamento furtado, que até agora ainda não foi desmentida.

No sábado à noite, o Exército emitiu novo comunicado a anunciar o reforço de segurança física aos paióis de Tancos e outros, nomeadamente com o reforço de militares e o aumento da frequência das rondas móveis motorizadas e apeadas. Foram ainda instaurados diversos processos de averiguações. com Ana Dias Cordeiro

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