Semedo regressa à política para tentar eleger um vereador para o Bloco no Porto

Ex-coordenador é o candidato do BE às próximas autárquicas no Porto, onde não há “geringonça” possível: “O PS tem estado a apoiar a direita e já anunciou que continuará a fazê-lo”

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João Semedo estava afastado da política desde 2015 paulo pimenta

Com os objectivos de eleger pela primeira vez um vereador e apresentar uma “verdadeira alternativa de esquerda” à Câmara Municipal do Porto, o Bloco de Esquerda convidou João Semedo para ser o candidato à autarquia portuense. A direcção da concelhia aprovou a proposta na passada quarta-feira, mas o assunto estava ainda a ser discutido à hora de publicação desta notícia. Contactado pelo PÚBLICO, o ex-coordenador do partido confirmou estar disponível mas fez depender a sua decisão final dessa reunião.

Ainda não há data prevista para o anúncio formal da candidatura bloquista, que além de Semedo terá João Teixeira Lopes, candidato à câmara em 2009, a bater-se pela Assembleia Municipal do Porto. Escusando-se a falar como candidato oficial, João Semedo adiantou estar “cheio de energia” para agarrar “uma candidatura de esquerda socialista que responda aos problemas” do Porto. “A esquerda não pode fechar os olhos e deixar de lutar por uma cidade onde todos se sintam melhor”, sublinhou em conversa telefónica.

Nas últimas eleições autárquicas, com o agora deputado José Soeiro como candidato, o Bloco não conseguiu cumprir o objectivo de eleger um vereador mas conquistou dois lugares na Assembleia Municipal.

Para João Semedo, lisboeta a viver no Porto há quase 40 anos, a cidade teve nos anos de governação de Rui Moreira “mudanças limitadas e sectoriais, longe das expectativas anunciadas” e “há velhos e novos problemas por resolver”.

No Porto, admite, não há “geringonças” possíveis. “O que se passa na cidade é o contrário do espírito e do conteúdo da chamada geringonça”, lamenta: “O PS tem estado a apoiar a direita e já anunciou que continuará a fazê-lo. Tem um comportamento político contra-natura olhando para o que se passa no plano nacional”.

Com a CDU “é conhecida a convergência de pontos de vista”, diz, mostrando abertura para futuros acordos: “Estaremos na vereação com toda a disponibilidade para contribuir com propostas para melhorar a cidade.”

Aos 65 anos, depois de ter combatido um cancro na laringe e nas cordas vocais, João Semedo está de “óptima saúde”: “Estou curado, tenho apenas uma voz de robot.” A doença fê-lo compreender melhor a “hierarquia dos problemas, das dificuldades, dos obstáculos, das contrariedades”, disse ao PÚBLICO numa entrevista por escrito em Agosto de 2016. “Somos todos feitos da mesma massa e isso percebe-se muito bem numa enfermaria, durante uma doença grave.”

Filho de uma professora, “mulher progressista e humanista”, e de um engenheiro, militante comunista, João Semedo viveu em Lisboa até perto dos 30 anos e despertou para a política durante as cheias de 1967 na capital. Fez-se militante do Partido Comunista Português em 1972, viveu na clandestinidade, foi preso pela PIDE. E por essa mesma altura começou a dividir-se entre a Medicina e a política.

Mudou-se para o Porto em 1978, por um trio de razões: “pessoais, profissionais e políticas”, recorda. Dirigiu o Hospital Joaquim Urbano e resistiu a “todas as tentações” para abandonar a cidade. “A capital tem uma força centrípeta enorme, mas gosto muito de viver no Porto”, graceja. Em 2016, a autarquia portuense distinguiu-o com a Medalha de Mérito da cidade.   

O médico, já reformado, permaneceu no PCP até 2000, ainda que a ruptura com o Comité Central do Partido se ter dado bem antes, em 1991, depois da tentativa de golpe da União Soviética. Lutou pela renovação do PCP, mas acabou por se aproximar do BE do qual foi coordenador, ao lado de Catarina Martins, durante dois anos. Em 2013 foi o candidato bloquista à autarquia lisboeta e dois anos depois, por causa da doença, renunciou ao cargo de deputado que exercia desde 2006, dando lugar a José Soeiro.

Com João Semedo fica completa a lista de candidatos partidários à autarquia portuense, à qual vai voltar a concorrer Rui Moreira como independente, com apoio do PS e do CDS, o social-democrata Álvaro Santos Almeida pelo PSD e o regresso de Ilda Figueiredo como candidata da CDU.  

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