“Se este Governo não se portar muito mal, vá lá…”

CGTP anuncia semana de luta de 16 a 20 deste mês, com “greves e manifestações” para exigir o “aumento dos salários”, a “contratação colectiva”, e as “35 horas de trabalho semanal” nos sectores público e privado.

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No desfile, em que participaram milhares de pessoas, já não se pede o derrube do Governo Miguel Manso
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No desfile, em que participaram milhares de pessoas, já não se pede o derrube do Governo Miguel Manso

Sentado à sombra de uma árvore da praça do Martim Moniz, José Guerreiro, 74 anos, diz que já não vale a pena pedir o derrube do Governo – “isso já foi em Outubro” – mas só lhe dá o benefício da dúvida: “Se este não se portar muito mal, vá lá…”. Enquanto espera pelo início do desfile do 1.º de Maio organizado pela CGTP, o antigo taxista em Lisboa reconhece que esta solução governativa ainda não é do seu gosto. “Se tivesse muita força, a banca era nacionalizada. Pagamos milhões pelos bancos para quê?”, interroga-se este alentejano, assumido comunista, que nunca falta às comemorações “do Abril”.

Ao seu lado, outro simpatizante do PCP aceita este Governo com apoio parlamentar dos comunistas e bloquistas mas com reservas: “O PS é o PS. Temos de ser nós a vigiar”. José Gaspar, 68 anos, justifica as suas dúvidas com a “fama e o proveito do PS de se encostar à direita”. O importante – sublinhou um antigo trabalhador da Lisnave – é que o ciclo de 40 anos foi interrompido. “Agora é o stop. Estamos numa encruzilhada e vamos ver o sinal que aparece, o verde é esperança e o vermelho é o fascismo”, comenta Joaquim Pires da Silva, comunista “desde 76”.

Eram poucos os que se juntavam na praça Martim Moniz, à hora marcada, para o início do desfile da CGTP, mas onde circulavam muitos turistas. Os vendedores de cravos cruzavam-se com mulheres desempregadas que vendiam autocolantes com a flor de Abril estampada. Não pertenciam à central sindical. “Isto somos nós que fazemos, é nosso. Não temos reforma porque não descontámos”, diz uma das mulheres, já com 70 anos.

No desfile, em que participaram milhares de pessoas, já não se pede o derrube do Governo. Aliás, as palavras de ordem “a luta continua, o Governo para a rua” foram substituídas por “a luta continua nas empresas e na rua”. Os cartazes da CGTP inscreviam exigências como “contratação colectiva”, “direitos” e “aumentos salariais”. Nem uma palavra de ordem contra o Governo. Nem mesmo ao longo da Avenida Almirante Reis, onde os novos lemas que soavam no megafone – como o “defender, repor e conquistar, continuamos a lutar” – conviveram com o clássico “o povo unido jamais será vencido”.

O benefício da dúvida ao Governo PS foi também o tom empregue por Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP, quando falou aos jornalistas, logo no início da marcha, ou quando minutos depois cumprimentou a secretária-geral Adjunta socialista Ana Catarina Mendes. “Há uma inversão das políticas mas não basta, é preciso ir mais longe”, disse o dirigente sindical. Ana Catarina Mendes, num diálogo com o sindicalista em que os microfones dos jornalistas estavam ligados, sublinhou que o Governo “virou a página da austeridade” e mostrou ter pontos de convergência com Arménio Carlos: “Concordo consigo, temos de resistir às pressões internacionais, mas isso não significa rompermos com a Europa”. A socialista deixou uma mensagem de celebração mas com uma nota de compromisso: "É isto que é bom, festejar Abril, festejar o 1.º de Maio, em clima de compromisso, de diálogo e de reforço do diálogo social, que é absolutamente essencial".

Alguns metros depois, Arménio Carlos cumpriu outro ritual tradicional e cumprimentou a porta-voz do BE, Catarina Martins. “Acreditamos que agora vai. Ainda há pouco dissemos à Catarina [Mendes] estamos contra a austeridade”, disse Arménio Carlos, que foi interrompido pela bloquista: “Neste momento, vivemos num país de avanço, de dizer que nem mais um passo atrás. Queremos mais: combater a precariedade, mais emprego, mais direitos no trabalho, mais respeito pelo trabalho”.

A ideia de “andar para a frente” foi também deixada por Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, quando se juntou à marcha, a meio da Avenida. “Foi uma luta que teve depois aliado o voto da maioria dos portugueses que afastou definitivamente esse governo e encetou uma nova solução política que, ao contrário do que se diz, não vem travar ou esmorecer a luta", afirmou o líder comunista. Mais uma vez, e em linha com o que já tinha dito Arménio Carlos, Jerónimo de Sousa sublinhou que os “avanços verificados” na reposição de “direitos e de salários” são “importantes” mas são “limitados”. Essa foi também a ideia repetida pelo líder da CGTP no discurso de encerramento da manifestação, já na Alameda D. Afonso Henriques, e que justifica uma maior intensificação das exigências públicas. Arménio Carlos anunciou, por isso, que a central sindical vai promover uma semana de luta, de 16 a 20 deste mês, com “greves e manifestações” para exigir o “aumento dos salários”, a “contratação colectiva”, e as “35 horas de trabalho semanal para os trabalhadores do público e privado” bem como a “revogação das normas gravosas da legislação laboral”.

O combate à precariedade é outra das linhas de acção da maior central sindical e que diz muito a Mafalda Silva, 27 anos, que esperava o desfile a meio da Almirante Reis. “Houve pessoas que morreram para que este dia fosse possível”, disse ao PÚBLICO esta trabalhadora precária. Mafalda avalia o “momento político” como muito importante para “reverter uma recessão social” mas só isso: “Este não é um Governo de esquerda. Tem é um orçamento importante e medidas importantes para repor direitos laborais”. 

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