Rui Rio teme que Portugal esteja a viver "um momento de excesso de confiança"

Ex-presidente da câmara do Porto pede que se olhe mais para o longo prazo.

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ADRIANO MIRANDA/Arquivo

O ex-presidente da Câmara Municipal do Porto Rui Rio defendeu nesta terça-feira que os governos devem olhar mais para o futuro a longo prazo do que "para o dia de amanhã" e alertou para os perigos "do excesso de confiança".

Em declarações à Lusa e RTP à entrada para um jantar-conferência em Lisboa, e questionado sobre a possibilidade de se candidatar à liderança do PSD no próximo Congresso, Rui Rio manteve essa possibilidade em aberto. "Tudo aquilo que eu disse numa entrevista em Novembro está válido a 100%", afirmou.

Em Novembro, em entrevista ao Diário de Notícias, Rui Rio admitiu candidatar-se no congresso do PSD previsto para Abril de 2018 se, até lá, não aparecer uma alternativa credível ao actual presidente, Pedro Passos Coelho. Sem querer acrescentar mais nada sobre este tema, Rui Rio disse temer que em Portugal se viva "um momento de excesso de confiança", quando o país ainda tem um percurso longo a percorrer para conseguir uma "competitividade a sério da economia". "Estruturalmente continuamos com os mesmos problemas", alertou.

Questionado se concorda com o Presidente da República e considera o primeiro-ministro, António Costa, um "optimista irritante", respondeu: "Irritante não diria, mas optimista sim. Não é mau ser-se optimista, outra coisa é, no quadro desse optimismo e por causa desse optimismo, não tomarmos as medidas necessárias para salvaguardar o futuro". "É melhor vivermos felizes do que infelizes, uma pessoa optimista é sempre melhor que uma pessoa pessimista, mas tem de ser um optimismo consciente e responsável", reforçou.

A conferência Portugal, as razões da Crise Económica, organizada pela plataforma Portugal com Futuro, foi fechada à comunicação social por o país estar em luto nacional e por respeito às vítimas do incêndio que deflagrou no sábado em Pedrógão Grande.

Sobre esta tragédia, o ex-autarca, que participou na conferência na qualidade de economista e consultor da multinacional de recursos humanos Boyden, disse ser necessário apurar responsabilidades, mas voltou a inserir o problema num quadro mais vasto. "Aquilo que eu sou sempre adepto é olharmos muito mais para a componente estrutural do que conjuntural. Portugal sabe o que deve ser feito, as responsabilidades políticas estão mais nos vários governos do que no que aconteceu na semana passada", afirmou, defendendo que, também neste sector, "Portugal tem de olhar mais para o futuro e menos para o amanhã, para o presente".

Sobre as razões da crise portuguesa, Rui Rio apontou o "brutal endividamento" como um dos principais problemas do país, que afecta não só a dívida pública, mas também as famílias. "Temos um percurso muito longo a fazer até termos um nível de endividamento equilibrado que seja aceite pela Europa, pelos mercados", defendeu.

O economista apontou ainda a realização de muita despesa pública "e muita má despesa pública" como outra das razões dos problemas do país. "Há despesa pública boa e má (...). Fazer dez estádios de futebol para um campeonato que dura três semanas é má despesa pública; gastar o mesmo dinheiro, se o tivermos, para reequipar e construir escolas e hospitais é boa despesa pública", exemplificou.

Conferir direitos que o país não pode sustentar a longo prazo é outro erro apontado por Rui Rio a vários governos, que deu como "exemplo maior" a área da Segurança Social. "Durante muitos anos, facilitou-se demais as pré-reformas e Portugal não estava em condições de isso ser sustentável e depois vieram aqueles cortes que ninguém gosta e que não são justos", lamentou. Para evitar esses problemas, traçou um caminho: "De cada vez que tomamos uma decisão não olhar apenas àquilo que vai acontecer passado um ano ou dois, mas olhar a dez, vinte ou trinta anos".

No jantar-conferência, estava prevista a presença de cerca de duzentos convidados, entre economistas e académicos e personalidades da área do PSD, como a ex-líder Manuela Ferreira Leite ou António Capucho, que já estavam no local, e de outros como Nuno Morais Sarmento ou Ângelo Correia.

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