Regionais açorianas: O continente não entra aqui

Perto de 250 mil açorianos vão neste domingo às urnas escolher um governo para os próximos quatro anos. A campanha, sem Passos nem Costa, incidiu sobre temas regionais como o emprego e as sucessivas maiorias socialistas.

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Manuel Roberto

Desemprego para cá. Emprego para lá. A campanha das regionais açorianas, que se decidem neste domingo, foi muito marcada pela falta de trabalho que assola a região. Mas o mar e, já na recta final, o futuro da Base das Lajes e a proposta de Orçamento de Estado para 2017 também tiveram tempo de antena. O que ficou praticamente fora do debate político foi Lisboa, ou melhor, o continente.

Com um eleitorado fragmentado em nove ilhas, nos Açores o xadrez político joga-se em vários tabuleiros, por isso a principal preocupação da maioria dos partidos foi estar presente em todos eles. Ao longo das duas semanas de campanha eleitoral, o discurso foi-se adaptando às diferentes geografias do eleitorado, daí ter sobrado pouco espaço para a entrada de temas nacionais na campanha.

Fosse em São Miguel, a maior das ilhas do arquipélago, que elege 20 deputados, ou no Corvo, a mais pequena, onde os 350 eleitores registados têm direito a apenas dois dos 57 lugares do parlamento açoriano, a dialéctica política foi essencialmente regional. Só a espaços é que a palavra ‘República’ foi introduzida nas intervenções.

Uma dessas raras excepções envolveu os recursos marítimos, trazendo de novo para o debate a Lei de Bases de Ordenamento e Gestão do Espaço Marítimo, aprovado pelo governo de Passos Coelho com os votos do PSD, CDS e PS. A nova legislação nunca foi consensual nas duas regiões autónomas – que consideraram uma perda de direitos territoriais –, e a presença, assídua de Assunção Cristas na campanha trouxe à superfície esse tema.

Cristas, a par de Catarina Martins, foram, das lideranças nacionais, as mais presentes na campanha. Jerónimo de Sousa também por lá passou numa ocasião, mas António Costa e Pedro Passos Coelho preferiram manter alguma distância, visitando os Açores apenas durante o período de pré-campanha.

O futuro das Lajes também esteve na agenda, a reboque da visita oficial do primeiro-ministro à China. O investimento chinês é bem-vindo, mas militares na Terceira, defendem os diferentes partidos, só mesmo norte-americanos.

A proposta de Orçamento só foi conhecida no último fôlego da campanha. Os Açores vão receber menos dois milhões de euros em relação a 2016, mas essas contas mereceram apenas breves comentários dos principais candidatos, porque o tempo já era escasso e a prioridade foi sempre os assuntos regionais.

O emprego atravessou a agenda das várias forças políticas. Todos os 13 partidos que concorrem às regionais apresentaram propostas para combater o desemprego, fosse através de programas de admissão para a administração pública ou pelo caminho dos incentivos à economia.

Tudo feito sem muito ruído e com pouco investimento em cartazes de campanha. Os ‘outdoors’ foram poucos, inexistentes até em algumas zonas, em nome da preservação da paisagem natural. A aposta foi nos contactos com as populações. Arruadas mais ou menos discretas, reservando-se os cabeças-de-lista para jantares de apoiantes e comícios que tiveram alguma dimensão na Terceira e em São Miguel.

Num país onde mora uma das abstenções mais elevadas da Europa, os Açores batem recordes. Nos últimos actos eleitorais, a percentagem de abstencionistas foi sempre superior a 50% e esse espectro esteve sempre presente nas mensagens políticas que foram passando. Em Janeiro desde ano, nas presidências, perto de 70% dos eleitores ficaram em casa, e nas últimas regionais, em 2012, a abstenção fixou-se nos 52,14%.

Com pouco mais de 228 mil eleitores inscritos, e numas eleições divididas em 10 círculos, um por cada uma das nove ilhas e o décimo de compensação, todos os votos contam. É verdade que é em São Miguel, onde os 127.206 eleitores elegem 20 parlamentares, e na Terceira que tem direito a 10 lugares, que as grandes decisões acontecem, mas nas ilhas mais pequenas, um candidato popular, pode facilmente ser eleito mesmo concorrendo fora dos partidos mais tradicionais.

Por isso, nas regionais açorianas, normalmente não há tempo para falar de política para lá do horizonte do arquipélago. Este ano, não houve excepção à regra.

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