PSD lembra que Fitch já tinha dado e tirado outlook positivo a Portugal

Costa garantia ontem que era “a primeira vez em muitos anos” que tal acontecia, mas afinal não é assim. Passos lembrou-o. Mas também foi por causa da sua governação que Portugal não saiu do “lixo” daquela agência mais cedo.

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Passos lembra anterior retrocesso da Fitch LUSA/NUNO VEIGA

António Costa garantiu ontem, à comissão política do PS em Lisboa, que era “a primeira vez em muitos anos” que a agência de notação financeira Fitch dava uma visão positiva sobre a dívida portuguesa. Mais ou menos à mesma hora, Passos Coelho dizia o contrário em Paços de Ferreira, na apresentação dos candidatos autárquicos: lembrou que "não é a primeira vez que acontece" e que Portugal já esteve "à bica" de sair do 'lixo'.

É verdade o que diz o líder do PSD. Em Abril de 2014, a Fitch colocou a perspectiva sobre o rating em positiva, o que sinalizava a probabilidade de retirar Portugal de "lixo". Foi confirmando esse outlook assim até Setembro de 2015, nas vésperas das legislativas, mas em Março de 2016 cortou-o para estável, de onde voltou a tirá-lo na sexta-feira.

"Já tivemos, portanto, à bica de poder sair do lixo mas a Fitch, em Março de 2016, baixou outra vez a perspectiva para estável (...) Isto aos mais atentos deve querer dizer que nós perdemos um ano. Alguma coisa se passou para que, em vez do passo seguinte ter sido tirar Portugal do 'lixo', ter sido voltar a pôr em 'estável', para ver o que se ia passar", apontou o líder do PSD.

Mas a “culpa” desse retrocesso não foi apenas da ‘geringonça’, como poderia ser interpretado das palavras do social-democrata. O primeiro motivo apontado pela Fitch para a mudança de perspectiva nessa altura foi a execução orçamental de 2015, por ter ficado “muito aquém dos objectivos”. “Mesmo excluindo o custo extraordinário com o Banif, o défice poderá ter ficado acima de 3%”, afirmava a agência, considerando que, assim, “o país não irá sair do Procedimento por Défice Excessivo nesta primavera, como estava previsto”.

Num momento em que ainda não tinha sido aprovado o Orçamento do Estado para 2017, a Fitch dizia também que os planos de redução do défice para 2016 estava em risco, apontava a “incerteza sobre como o novo governo vai financiar a despesa associada às reversões de política anunciadas” e considerava haver “riscos políticos significativos no curto prazo”.

Mais de um ano depois, e com a aprovação da saída de Portugal do Procedimento por Défice Excessivo, a Fitch voltou a colocar o rating do país em perspectiva positiva. E numa coisa, Passos Coelho e António Costa estão de acordo – em linha, aliás, com o Presidente da República: não pode haver “deslumbramentos” porque “há muito trabalho a fazer”.

Disseram-no os três, à vez, neste sábado: Marcelo Rebelo de Sousa ao fim da manhã, retomando o tom da véspera, congratulou-se com a “boa notícia” da Fitch, mas advertiu contra "deslumbramentos", lembrando que é preciso esperar pela confirmação definitiva da agência de rating e continuar a trabalhar.

"Se temos bons motivos de orgulho pelos resultados alcançados, temos de estar determinados a fazer aquilo que falta fazer. Não podemos estar conformados nem nos deixar deslumbrar. Há muito ainda por fazer", afirmou ao início da tarde António Costa, perante a Comissão Nacional do PS.

Também Passos Coelho se mostrou "satisfeito", mas... “Lembrei-me de que muitas vezes as pessoas fazem as festas, atiram as canas, vão buscá-las e depois esquecem-se de que, se queremos ter uma sequência positiva, temos de trabalhar para ela", afirmou.

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