PSD envolve Costa nas tentativas de condicionar liberdade de expressão

PS, PCP e BE estão alinhados na desvalorização da demissão de João Soares. CDS considera saída do ministro “inevitável”.

O líder da bancada social-democrata, Luís Montenegro, acusou o Governo e o primeiro-ministro em particular de assumir uma atitude sistemática de tentar condicionar a comunicação social, a propósito do caso do ministro João Soares. À esquerda, só o BE condena as declarações do socialista mas considera – tal como o PS - que o Governo “não sai fragilizado” deste episódio.

Luís Montenegro começou por dizer que João Soares se demitiu por causa das declarações de António Costa e não pelas suas próprias, o que revela a “relação interna no Governo”. Mas o dirigente social-democrata sublinhou que a questão política se mantém e que tem um âmbito mais geral. “Os membros do Governo pressionam, condicionam a liberdade de expressão e a liberdade de informação dos profissionais da comunicação social”, acusou, defendendo que “o Parlamento deve prosseguir o seu esforço para avaliar a relação dos membros do Governo com a comunicação social”. Essa postura de condicionamento “tem feito escola”, afirmou Montenegro, referindo-se a atitudes de António Costa. “O primeiro-ministro é alguém que tentou condicionar a comunicação social através de um sms a um director de um jornal [Expresso] e a instar aqui mesmo [nos Passos Perdidos] os senhores jornalistas a perguntar ao principal partido da oposição qual a posição sobre o Orçamento”, apontou.

A bancada social-democrata mantém assim o requerimento apresentado esta manhã, ainda antes da demissão, para ouvir João Soares, o conselho regulador da Entidade para a Comunicação Social, presidido por Carlos Magno, e a directora do PÚBLICO, Bárbara Reis.

Depois das declarações do próprio primeiro-ministro, António Costa, ontem à noite, a bancada parlamentar quebrou o silêncio. O líder parlamentar e presidente do partido, Carlos César, disse "compreender" e "respeitar" as razões que João Soares invocou para a sua demissão e não se alonga nos comentários. "Agora compete ao primeiro-ministro, tendo aceite essa demissão, proceder à nomeação do novo ministro da Cultura e o assunto está encerrado", disse Carlos César aos jornalistas à saída do plenário ao início da tarde, na Assembleia da República.

Questionado sobre se a saída prematura de um ministro fragiliza o Governo, o dirigente do PS negou e argumentou apenas que a demissão "não ocorreu por razões políticas ponderáveis mas por coisas um pouco marginais à essência política da governação". O mesmo afirmou o líder da bancada bloquista, Pedro Filipe Soares.  “Não me parece que o Governo fique fragilizado”, respondeu aos jornalistas.

A posição assumida pelo BE é de desvalorização do caso, mas é também de condenação das ameaças. “Foi um ministro que disse o que não devia”, afirmou Pedro Filipe Soares, embora considere “não haver nenhum problema político” em causa.

Na mesma linha com as restantes bancadas da esquerda, a deputada comunista Ana Mesquita quis minimizar este episódio, preferindo questionar a política da Cultura que será seguida pelo próximo titular da pasta. “Mais do que nos focarmos no episódio do ministro João Soares, queremos saber qual vai ser a política do ministério da Cultura”, afirmou. A deputada repetiu a resposta quando confrontada com a pergunta sobre o motivo do silêncio da bancada do PCP sobre as ameaças de dar bofetadas lançadas no Facebook pelo então-ministro a dois colunistas do PÚBLICO.

O CDS, pela voz do deputado António Carlos Monteiro, considera este episódio “lamentável” e a demissão “inevitável” sobretudo "depois das declarações de António Costa" em que foi omisso sobre se mantinha a confiança no ministro. “Desejamos que se aproveite a oportunidade para ter um ministro da Cultura porque se tem falado de João Soares mas por motivos que não os da cultura”, afirmou o centrista. 

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