PSD e CDS: Às vezes cooperam, outras vezes marcam território

No Parlamento, as bancadas do PSD e do CDS já há muito que não articulam votações ou requerimentos para chamar ministros. E muito menos apresentam projectos de lei conjuntos como acontecia no passado. Mas trocam informações entre si.

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Nuno Magalhães e Luís Montenegro Rui Gaudêncio

Desfeita a aliança por Passos Coelho e Paulo Portas, PSD e CDS-PP estão a fazer oposição cada um por si e a líder centrista já disse que é normal cada partido apresentar-se sozinho a eleições. A nova relação entre os dois antigos parceiros de coligação tem sido marcada por algumas tensões (não muito evidentes), mas ainda há alguma cooperação, sobretudo a nível parlamentar.

O pacote de propostas da natalidade foi um dos exemplos que deixou PSD e CDS de costas voltadas. A presidente dos centristas, Assunção Cristas, agarrou naquela que foi uma das bandeiras da coligação PSD/CDS na anterior legislatura e colocou-a na agenda mediática. Muitas das propostas estavam no programa eleitoral com que a coligação Portugal à Frente se apresentou aos eleitores em Outubro passado e os sociais-democratas não ficaram agradados. Em alguns casos, discordaram das medidas (as que eram novas nos projectos de lei do CDS) e optaram pela abstenção para não ferir susceptibilidades. Os centristas, que até esperavam ver viabilizadas algumas das suas iniciativas pela esquerda, ficaram decepcionados com o comportamento dos sociais-democratas.

Mas o despique é mútuo. Horas antes deste debate sobre natalidade, em plenário marcado pelo CDS para 14 de Abril, o PSD fez uma conferência de imprensa com um tema que prometia roubar protagonismo mediático aos centristas: a apresentação da proposta de redução de deputados e do voto preferencial. O CDS não gostou.

A marcação de terreno entre os dois partidos tem sido uma constante e a inspiração em medidas preparadas pelo anterior Governo também. É o caso da regulamentação do lobbying que esteve a ser trabalhada pelo gabinete do ex-secretário de Estado-Adjunto Pedro Lomba, mas que acabou por não ser aprovada e entregue na Assembleia da República. O CDS agarrou a ideia e avançou agora com um projecto de lei, surpreendendo os sociais-democratas.

O contrário também acontece. O turismo, que era uma bandeira do CDS (a secretaria de Estado pertenceu aos centristas na última legislatura), foi aproveitado pelo PSD para fazer um agendamento próprio em plenário, na passada sexta-feira.

Como partido mais pequeno da coligação, o CDS descolou mais depressa das políticas do anterior Governo. Assunção Cristas, numa entrevista ao jornal Sol em Fevereiro deste ano, chegou mesmo a dizer que o CDS testou até ao limite como é que o Governo podia ser “menos austero” nos rendimentos e que talvez seja Passos Coelho quem sinta mais necessidade de “pedir desculpa”. Declaração que o PSD considerou deselegante vinda de uma ex-ministra de um governo que era presidido por Passos Coelho.

Apesar de algumas fricções, os dirigentes de um e de outro partido desvalorizam o que consideram ser “naturais incomodidades”. No Parlamento, as bancadas do PSD e do CDS já há muito que não articulam votações ou requerimentos para chamar ministros. E muito menos apresentam projectos de lei conjuntos como acontecia no passado. Mas trocam informações entre si. “Continuamos a articular coisas, embora não tenhamos de chegar a entendimentos como acontecia quando havia uma coligação”, afirmou ao PÚBLICO o líder da bancada social-democrata Luís Montenegro. Essa colaboração passa por não repetir agendas para “deixar espaços para que cada um afirme as suas ideias”, acrescenta, recusando “qualquer competição” entre os dois partidos.

O mesmo espírito de colaboração é sublinhado pelo líder da bancada centrista, Nuno Magalhães: “Dentro de dois partidos que são diferentes continua a haver cooperação reforçada”. Os líderes das bancadas asseguram que as tensões são casos pontuais entre PSD e CDS ou na “caranguejola” como lhe chama o PS.  

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