PS quer criar museu nacional da emigração e a sua história ensinada na escola

Seria uma forma de combater o estigma que ainda paira sobre os emigrantes portugueses e de reparar “injustiças históricas”, argumenta o deputado Paulo Pisco. O PSD concorda.

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Presidente da República falou do assunto em 2016. Rui Gaudencio

Fazer pedagogia junto da sociedade portuguesa sobre a importância da emigração para o nosso país e para os países de acolhimento; conhecer a emigração para melhor compreender as dinâmicas económicas, sociais e políticas que em diferentes épocas geraram migrações tão expressivas – são dois dos fundamentos do deputado socialista Paulo Pisco para apresentar dois projectos em que recomenda ao Governo a criação de um Museu Nacional da Emigração e o ensino da história da emigração portuguesa no secundário.

“Sendo um país de emigrantes é paradoxal que haja dificuldade em lidar com isso, e se mantenha um preconceito em relação aos emigrantes. Sentem-se estrangeiros nos países onde estão e no seu próprio país”, lamenta o deputado do PS eleito pelo círculo eleitoral da Europa, Paulo Pisco. “Vivemos apenas de ideias em função do volume das remessas e de dados estatísticos – quantos, quando e de onde partiram.”

“É preciso uma pedagogia sobre a forma como os emigrantes mudaram as sociedades de acolhimento, como ultrapassaram as condições económicas e sociais adversas e adquiriram estatuto, o que sofreram com as dificuldades de integração, sem conhecimento da língua nem grandes trunfos escolares, como criaram uma imagem positiva deles e do país”, acrescenta. Apesar de a realidade dos emigrantes portugueses ser hoje muito diferente, Paulo Pisco afirma que a comunidade em França ainda está marcada pelo estigma dos anos 60 e 70 - das passagens a salto na fronteira quando três quartos da emigração eram clandestinos e alvo de repressão pelo regime -, pela vida difícil nos bidonvilles na periferia de Paris como Champigny, Nanterre ou La Courneuve.

Apesar de retratada hoje em grandes museus em França, Alemanha ou Suíça, em Portugal a temática é abordada apenas a nível municipal. Paulo Pisco afirma que a decisão do Presidente da República e do primeiro-ministro de comemorarem em Paris, em 2016, efectivamente, a terceira faceta do 10 de Junho – as comunidades portuguesa - “constituiu um ponto de viragem na forma como o país olha para elas”.

As referências à emigração nos programas de história, geografia e economia do ensino secundário que o deputado analisou resumem-se às “considerações estatísticas”. Para ajudar a reduzir o preconceito, propõe o reforço da história da emigração portuguesa nos currículos escolares e o apoio estatal a uma linha de investigação sobre o tema em universidades nacionais e estrangeiras, em especial em países com comunidades portuguesas.

Ao PÚBLICO, o deputado do PSD José Cesário eleito também pelo círculo da emigração disse que a sua bancada concorda na generalidade com os projectos e está a considerar avançar com iniciativas que já tem alinhavadas na área. Cesário conta que “a questão do museu gerou polémica noutros tempos”, sobretudo devido à localização – hoje há um municipal em Fafe. Quando foi secretário de Estado das Comunidades Portuguesa encomendou um estudo e a Direcção-Geral dos Assuntos Consulares concluiu que “em vez do museu faria muito mais sentido um centro de documentação para reunir matéria documental que existe nos municípios, no ministério, nos consulados.

José Cesário, que foi professor do ensino básico, recorda que a emigração é abordada na disciplina de Estudo do Meio, mas admite que “seria bom algum aprofundamento”.

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