Esquerda acusa direita de fazer aproveitamento político-partidário da tragédia de Pedrógão

“Não pode valer tudo em política”, avisa Ana Catarina Mendes, que diz que PSD e CDS “estão sem rumo e tomados pelo mais absoluto populismo” ao exigirem que Governo “viole o segredo de justiça”.

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Daniel Rocha

PS, BE e PCP acusaram esta terça-feira a direita de se aproveitar politicamente da tragédia do incêndio de Pedrógão Grande - o PSD por exigir que o Governo peça o levantamento do segredo de justiça sobre a lista nominativa das vítimas mortais e o CDS por ameaçar com uma moção de censura ao Governo caso este não a divulgue. Os sociais-democratas pediram a Ferro Rodrigues que convoque a comissão permanente da Assembleia da República para discutir a questão da lista e o presidente do Parlamento já marcou para amanhã, quarta-feira, uma reunião da conferência de líderes. 

As críticas mais contundentes vieram do PS, com Ana Catarina Mendes a dizer que direita está a fazer um “inaceitável aproveitamento” da tragédia para “querelas político-partidárias”, criticando a “ausência do sentido de Estado” do PSD e CDS por quererem que o Governo peça o levantamento do segredo de justiça em que se encontra a lista.

O Bloco e o PCP usaram o mesmo argumento, embora de forma menos efusiva. A dirigente bloquista disse que o partido "não está disponível para uma discussão que instrumentaliza as vítimas", mas no caso de Pedrógão exige "que sejam apuradas responsabilidades do que aconteceu, que as populações sejam devidamente apoiadas e que se trabalhe e concretize uma nova estratégia para a floresta". "O que nunca fizemos foi instrumentalizar a dor das pessoas para jogos político-partidários", vincou aos jornalistas durante uma visita a Tomar.

No Parlamento, o deputado do PCP António Filipe também considerou "absolutamente lamentável o espectáculo de chicana política" levado a cabo pelo PSD. Embora defenda ser "legítimo pretender esclarecimentos cabais sobre tudo o que rodeou a tragédia de Pedrógão", o comunista lembra que o processo já está "em curso" no Parlamento: além da comissão técnica especializada, a ministra da Administração Interna estará na AR na quinta-feira à tarde para dar explicações sobre falhas do SIRESP.

Ora, se a MAI ali vai a pedido do PSD, "não se percebe que o PSD esteja já a pedir a comissão permanente [uma espécie de mini-plenário, com deputados de todos os partidos]", defende António Filipe que promete, ainda assim, "ouvir os argumentos do PSD amanhã, na conferência de líderes". Porém, quem decide se convoca ou não a comissão permanente é Ferro Rodrigues.

Escusando-se a dizer se o Governo deve ou não tornar públicos os nomes da lista de mortos, António Filipe defendeu ser uma decisão que compete ao Ministério Público, não quis comentar a ideia de uma moção de censura do CDS e deixou mesmo a acusação de que a exigência do PSD de divulgação da lista em segredo de justiça é uma tentativa de "ingerência" do poder legislativo sobre o poder judicial.

"Não pode valer tudo em política"

Demorou menos de meia hora a resposta da vice-secretária-geral do PS aos sociais-democratas, que exigiram a convocação da comissão permanente do Parlamento para discutir a questão da lista. “O surrealismo do PSD chegou mesmo ao ponto de fazer um ultimato ao Governo para que violasse o segredo de justiça. É inaceitável e verdadeiramente lamentável a insinuação por detrás desta tentativa de barragem mediática do PSD e CDS de que o Governo está a esconder o verdadeiro número de vítimas”, apontou a dirigente do PS, que desafiou os dois partidos a, “se têm alguma prova, apresentem-na pública e rapidamente. Caso contrário, não é aceitável que estejam a dar azo à especulação e à insegurança”.

Ana Catarina Mendes insistiu que “não vale tudo nem pode valer tudo em política” e considerou que esta atitude é a prova de que os dois partidos “estão sem rumo e tomados pelo mais absoluto populismo. Na sua desesperada tentativa de ganhar votos não hesitam em semear a desconfiança dos cidadãos no Estado democrático levando tudo à frente”, desde as forças de segurança e a protecção civil às Forças Armadas, passando pela Justiça.

A dirigente e deputada socialista defendeu ser tempo de “deixar trabalhar e confiar nas instituições” lembrando que foi criada por unanimidade uma comissão técnica no Parlamento para apurar tudo o que se passou em Pedrógão Grande e que “a Justiça está a fazer o seu trabalho”.

Ana Catarina Mendes desvalorizou a ameaça da moção de censura do CDS – “é um direito que assiste a todos os partidos” – e refutou qualquer tentativa de demissão de responsabilidades do Governo, como acusa o PSD. “O PS não aceita o aproveitamento político que a direita está a fazer das vítimas. (…) Para o PS toda a vida humana é um valor absoluto”, vincou a deputada criticando ainda a direita por assentar na “indignidade de se achar que a tragédia humana vivida pelas famílias atingidas seria maior ou menor se houvesse mais ou menos mortos”.

 

Notícia actualizada às 18h20 com reacções do PCP e Bloco.

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