Presidente sobre primeiro-ministro: “Não me venha dizer que roxo é violeta-rosa”

Marcelo reconhece que, às vezes, recorre à autoridade baseada na sua experiência face a Costa. E classifica-se a si próprio como da “esquerda da direita” ou da “direita social”, mas nunca da “direita liberal”.

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Marcelo com os alunos do Colégio Modeirno, em Lisboa Enric Vives-Rubio
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Roxo é roxo, não é violeta-rosa, e Marcelo não é daltónico. Esta quinta-feira, perante uma plateia de alunos do secundário no Colégio Moderno, em Lisboa, o Presidente da República recuperou o epíteto de “irritantemente optimista” com que já várias vezes classificou o primeiro-ministro, para reconhecer que, às vezes, tem de recorrer ao argumento da autoridade baseada na sua experiência para o chamar à realidade.

Acontece quando o chefe de Estado considera haver um problema e António Costa “encontra logo dez razões para dizer que não há um problema”. Marcelo, que se considera um “optimista realista”, contrapõe “cinco razões para não ser um problema tão grave e outras cinco para ser um problema”.

"Eu às vezes digo: não, o senhor primeiro-ministro irrita-me um bocadinho, porque é evidente que há problema e está a tentar explicar-me que não há esse problema, e não me entra na cabeça. E depois recorro a um argumento de autoridade, a que não se deve recorrer: é que eu ando a analisar a política portuguesa há 50 anos", disse.

"Ainda no tempo da ditadura já fazia análise, era cortada pela censura, mas fazia. Analisei todos os presidentes, analisei todos os primeiros-ministros, analisei todos os governos. Portanto, não me venha dizer que roxo não é roxo, é um violeta-sei-lá-o-quê. Como é que se chama a cor do PS? Rosa. É um violeta-rosa, é mais rosa do que roxo", prosseguiu, simulando um diálogo com o primeiro-ministro. "Não me venha dizer que roxo não é roxo, é um violeta-rosa. Não. É roxo! Já comparei roxo e rosa muitas vezes", insistiu.

O ginásio escolar, cheio de professores e alunos do 10.º, 11.º e 12.º anos, desatou a rir. Marcelo Rebelo de Sousa falava há quase três horas – primeiro dando uma aula sobre Mário Soares, filho do fundador do colégio, hoje dirigido pela filha do antigo Presidente, depois respondendo a perguntas que versaram mais sobre actualidade. Um aluno perguntara a Marcelo como era o seu relacionamento com o primeiro-ministro, vindo ambos de quadrantes políticos diferentes. Marcelo-professor explicou donde vêm e como evoluíram os conceitos de esquerda e direita e classificou-se a si próprio.

“O Presidente tem uma formação social-cristã, fui muito marcado pela pertença a movimentos sociais católicos”, disse, recordando o passado em comum com António Guterres, com percursos que só se afastaram depois do 25 de Abril. “Sou uma espécie de esquerda da direita, porque, tendo uma matriz mais de direita, sou sensível às preocupações sociais com maior intervenção do Estado”, afirmou. Por outras palavras: “Não sou da direita liberal, sou da direita social, percebo que certas preocupações sociais podem sacrificar interesses liberais”.

Uma lição sobre Europa

Vários alunos mostraram-se preocupados com os antieuropeísmos e extremismos que vão crescendo na Europa e Marcelo volta a vestir a bata de professor para explicar a evolução da União Europeia e encontrar aí algumas explicações. Por um lado, a passagem de 15 para 28 membros, após a queda do Muro de Berlim, foi um salto “difícil de fazer” e de digerir. “A criação da moeda única, sem mecanismos políticos para resolver crises, e a entrada de muitos novos países aumentou a insatisfação e alimentou nacionalismos fechados que apresentam propostas que não são exequíveis”, explicou.

Onde queria chegar era aos perigos que a saída do euro comporta. “A resposta mais simples é voltar às moedas nacionais. Mas como, se as dívidas, os créditos, está tudo em euros? Quanto vai valer a moeda? E se começar a cair? E se não valer nada?” Muitas interrogações para uma resposta: “A vida não volta para trás”. Nem mesmo em França: “Não é possível voltar ao franco”.

Marcelo Rebelo de Sousa terminou esta aula com uma última nota de graça e optimismo: "Tenho a certeza, quando um de vocês vier daqui a uns anos falar como Presidente da República no Colégio Moderno, o país será ainda muitíssimo melhor, e eu lá de cima estarei a aplaudir", concluiu, sob aplausos.

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