Presidente, Governo e partidos unânimes a condenar o presidente do Eurogrupo

Parlamento deverá aprovar, nesta sexta-feira, votos de repúdio de todas as bancadas às declarações de Jeroen Dijsselbloem.

Dijsselbloem diz que lamenta se insultou alguém, mas avisa que não se demite
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Dijsselbloem diz que lamenta se insultou alguém, mas avisa que não se demite Reuters/Francois Lenoir
Declarações do presidente do Eurogrupo mereceram críticas no Parlamento português
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Declarações do presidente do Eurogrupo mereceram críticas no Parlamento português LUSA/MIGUEL A. LOPES
Declarações do presidente do Eurogrupo mereceram críticas no Parlamento português
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Declarações do presidente do Eurogrupo mereceram críticas no Parlamento português LUSA/MIGUEL A. LOPES

Da esquerda à direita, do Governo ao Presidente da República: a condenação foi unânime – e isso é raro - às declarações do presidente do Eurogrupo sobre os países do Sul que pediram ajuda financeira. Nesta sexta-feira, a Assembleia da República deverá aprovar votos de repúdio às afirmações de Jeroen Dijsselbloem apresentados por todas as bancadas. O próprio disse nesta quarta-feira que lamenta se insultou alguém, mas garante que não se demite.

Foram fortes os adjectivos usados pelas mais altas figuras do Estado e lideranças dos partidos políticos portugueses para criticar o presidente do Eurogrupo e ministro holandês das Finanças que, numa entrevista ao diário alemão Frankfurter Allgemeine, publicada na segunda-feira, recorreu a uma metáfora para dizer que os países do Sul não podem gastar todo o seu dinheiro em “copos e mulheres e depois pedir ajuda”. O primeiro-ministro António Costa reiterou a posição já declarada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Santos Silva, na terça-feira, e que passa pela exigência de um pedido de desculpas e pelo afastamento de Jeroen Dijsselbloem.

Essa mesma posição foi subscrita nesta quarta-feira pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que está em visita oficial à Bélgica, no dia em que se assinalou um ano sobre os atentados terroristas em Bruxelas. Lembrando, por isso, que “há valores tão mais importantes do que isso, Marcelo Rebelo de Sousa disse subscrever as palavras do ministro dos Negócios Estrangeiros que “falou em nome do Estado português”.  

Na mesma altura, em Lisboa, o primeiro-ministro defendia o afastamento do presidente do Eurogrupo. “A Europa só será credível com um projecto comum no dia em que o senhor Djisselbloem deixe de ser presidente do Eurogrupo e haja um pedido de desculpas claro, relativamente a todos os países e povos que foram profundamente ofendidos por estas declarações", acentuou António Costa, em declarações feitas à margem do Football Talks, no Estoril. Com uma dureza pouco vista face a um responsável europeu, o primeiro-ministro considerou as afirmações de  “absolutamente inaceitáveis” e também “muito perigosas, porque demonstram bem qual é o perigo do populismo” que está também “naqueles que aparecem com pele de cordeiro, porque fazem discursos que são racistas, xenófobos e sexistas, como o discurso do senhor Dijsselbloem".

Já durante o debate quinzenal, no Parlamento, em que o assunto veio a lume por iniciativa dos partidos, António Costa acrescentou: “Com este presidente do Eurogrupo, o euro está condenado”. Foi nesse debate que o líder da bancada do PSD, Luís Montenegro, aproveitou, num ponto prévio da sua intervenção, para expressar a posição do partido que ainda não se tinha manifestado. Considerou as declarações “inaceitáveis”, com “graçolas de mau gosto”, palavras que viriam a constar no voto de condenação entregue pela bancada social-democrata e subscrito em primeiro lugar por Pedro Passos Coelho. De forma mais ou menos directa, os votos de PSD, CDS e BE exigem um pedido de desculpas do próprio Dijsselbloem e o seu afastamento da liderança do Eurogrupo. Já o voto do PS, na parte resolutiva do voto, exige um pedido de desculpas do ministro (socialista) mas também por parte do Governo holandês.

Apesar de as direcções das bancadas não adiantarem quais serão os sentidos de voto relativamente aos textos que serão apreciados na sexta-feira, tende a existir uma vontade de viabilizar os votos de protesto apresentados. Ao PÚBLICO, o CDS admitia não se opor ao texto proposto pelo BE, que foi o primeiro partido a avançar com um texto de condenação. O consenso – caso se venha a confirmar – será raro em plenário e acontecerá a uma semana da evocação dos 60 anos do Tratado de Roma, que irá dividir as bancadas.

A hipótese de demissão parece, pelo menos para já, afastada pelo próprio Dijsselbloem. O presidente do Eurogrupo disse à Reuters lamentar que “alguém se tenha sentido ofendido pelo comentário”, mas que foi “directo” e que este “pode ser explicado pela rigorosa cultura holandesa, calvinista, pela franqueza holandesa”. Só uma voz na Europa saiu em sua defesa. Foi o próprio presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que disse acreditar que o que “Dijsselbloem parece ter dito não reflecte o que ele pensa no fundo”.

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