Subconcessão dos estaleiros de Viana é "opção ideológica", diz Aguiar-Branco

Presidente da Câmara de Viana deposita coroa de flores pela morte da construção naval no país.

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A coroa de flores de José Maria Costa Rui Gaudêncio
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Assinatura do contrato Rui Gaudêncio

A subconcessão dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) é uma "opção ideológica", afirmou nesta sexta-feira o ministro da Defesa Nacional, José Pedro Aguiar-Branco, na sessão de assinatura do contrato entre o Estado e a empresa do universo Martifer, West Sea. Antes do início do evento, o presidente da Câmara de Viana do Castelo depositou uma coroa de flores pela morte da construção naval no país.

"O Estado não tem de saber construir navios, nem produzir cervejas, nem gerir empresas do sector das telecomunicações ou reparar aviões." Com estes exemplos, que dizem respeito às privatizações dos ENVC, PT ou OGMA, o governante apoiou aquilo que definiu como o "renascimento" da construção naval em Viana do Castelo.

Aguiar-Branco recordou que nos últimos 12 anos, a ENVC teve 12 conselhos de administração, 25 navios construídos, prejuízos acumulados de cem milhões de euros. "O Estado não é solução para os ENVC, nem para a construção naval em Portugal", reiterou o ministro.

Dois em 400 assinaram
Já Carlos Martins, administrador da Martifer, afirmou que está convencido do sucesso da subconcessão, mas foi prudente. "Não vamos desistir, temos o direito de entrar nos estaleiros", disse face às hipotéticas resistências à tomada de posse das instalações em Viana do Castelo. "Se isto caísse tudo, com algum investimento íamos para Aveiro [onde a empresa tem um estaleiro]."

"O Estado é uma pessoa de bem", prosseguiu o responsável, escusando-se a comentar o possível não cumprimento do acordo esta sexta-feira. Sobre as condições que vai oferecer aos trabalhadores, Carlos Martins assegura que os salários serão idênticos aos até agora praticados, admitindo que estes estavam "um pouco abaixo do mercado". No entanto, revelou que as actuais regalias dos trabalhadores dos ENVC não se manterão porque serão ajustadas às do universo Martifer. Por fim, assegurou que já dois dos 400 trabalhadores já assinaram contrato.

A morte dos ENVC
O que para Carlos Martins e para os ministros da Defesa e das Finanças é o "renascimento" dos estaleiros, para o presidente da Câmara de Viana do Castelo, José Maria Costa, é a morte. O autarca chegou ao forte de São Julião da Barra, em Oeiras, na manhã desta sexta-feira e depositou uma coroa de flores na Sala da Cisterna, onde fez um minuto de silêncio.

O gesto que antecedeu a cerimónia de assinatura do contrato de subconcessão dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), presidida pelo ministro da Defesa Nacional, Aguiar-Branco, foi explicado logo de seguida: "Vim a um velório pelo encerramento da construção naval", disse José Maria Costa. De seguida, o autarca socialista saiu da sala e, imediatamente, as flores foram retiradas.

José Maria Costa já havia anunciado que estaria presente no evento para ter a oportunidade de falar com o ministro, a quem pediu uma audiência no passado dia 2 de Abril de 2013.

Aguiar-Branco considerou o gesto um "facto menor" e "mediático", ao que o edil retorquiu, em declarações no final e já no exterior da Sala da Cisterna como "um acto mediático que demonstrou que ele [o ministro] fez uma opção".

O presidente da câmara admitiu que alguns dos trabalhadores poderão rumar aos estaleiros de Vigo, em Espanha, e concluiu: "Fui convidado para a sessão a que assistimos à morte dos ENVC. O senhor ministro vai ser responsável pelo encerramento de uma tradição pois o contrato para a utilização do espaço é apenas para a reparação naval."

Recorde-se que o advogado Garcia Pereira está a preparar uma providência cautelar para suspender a concessão dos estaleiros.
 

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