Portas diz adeus ao Parlamento, deputados respondem até já

Antigo líder do CDS-PP fez esta quinta-feira a sua última intervenção em plenário, duas décadas depois de ter sido eleito pela primeira vez.

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Portas no Parlamento em Janeiro, a cumprimentar a sucessora Rui Gaudêncio

Pela voz dos líderes de todas as bancadas – fossem mais próximas ou com “divergências profundas” – os deputados despediram-se de Paulo Portas que esta tarde fez a sua última intervenção na Assembleia da República. Foi um momento vivido com emoção pelo próprio que resumiu tudo numa palavra: “obrigado”.

O antigo líder do CDS-PP aproveitou o encerramento do debate marcado pela sua bancada sobre envelhecimento activo para fechar também um capítulo na sua vida política. “Quero deixar a todos sem distinção, aos meus colegas de bancada, parceiros de Governo, adversários políticos, funcionários desta casa e jornalistas, pelo seu sentido crítico, um 'obrigado'. Não deixo inimigos nem tenho consciência de que os fiz. Bem-haja a todos por Portugal”, disse, no seu último discurso parlamentar, 21 anos depois de ter sido eleito pela primeira vez deputado. Paulo Portas deverá renunciar ao seu lugar na bancada na próxima semana, depois de já ter deixado a liderança do CDS-PP no início deste ano.

Foi o próprio Presidente da Assembleia da República, o socialista Ferro Rodrigues, que tomou a iniciativa de elogiar o deputado, depois de a intervenção ter recebido aplausos de pé dos parlamentares do CDS, do PSD mas também de alguns socialistas. “Concorde-se ou não com as ideias, foi um político que contrariou circunstâncias adversas”, disse, lembrando que Portas tomou conta de um partido que nos anos 90 “parecia estar a definhar”. E elogiou as suas qualidades de orador e dos seus “famosos sound bytes de qualidade”.

A ronda de intervenções seguiu pelo PSD. Luís Montenegro (Passos Coelho esteve durante todo o debate sentado numa das últimas filas da bancada) expressou “respeito e admiração”. “Não obstante não termos estado sempre de acordo, foi um privilégio partilhar parte deste caminho consigo”, disse o social-democrata, dirigindo-se ao ex-ministro de Estado do anterior Governo. Na bancada do PS, Jorge Lacão disse ver Portas como uma “figura política controversa”, mas sublinhou as diferenças de opinião como um “fortalecimento democrático”. E deixou uma provocação, dizendo que os socialistas estão preparados para o “enfrentar politicamente no futuro”. Houve risos nas bancadas.

O mesmo tom sobre uma despedida que não será para sempre foi dado pelo líder da bancada do BE. “Ninguém nesta sala acredita que o político Paulo Portas entrou de sabática”, disse, lembrando que, apesar das “divergências profundas” entre os dois, foi “sempre um desafio enfrentar” o centrista na sua forma elevada de usar o português na política.

João Oliveira, líder da bancada comunista, gracejou ao confessar que quase cedeu à “tentação de fazer um trocadilho para recuperar a irrevogabilidade das decisões políticas”, mas não quis ofender. Até do outro lado do espectro político, o deputado ecologista José Luís Ferreira reconheceu Portas como “uma pessoa combativa e sempre muito cordial”.

Já com o antigo líder ao seu lado, de lágrimas no rosto, coube ao presidente do grupo parlamentar do CDS fazer o tributo a Portas. Nuno Magalhães lembrou o quanto os centristas admiram no ex-líder o "talento, inteligência, sentido de Estado e capacidade de valorizar virtudes e menorizar defeitos”. E, sem querer alongar-se em qualificativos, devolveu o agradecimento dos deputados e militantes do CDS: “Muito obrigado”.

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