PCP exige nacionalização “imediata” do Novo Banco

Partido quer que o processo de venda seja anulado para evitar um novo “atentado ao interesse nacional” como o do Banif. E defende que Novo Banco público deve funcionar em paralelo com a CGD, nunca fundido.

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Patrícia Martins

O PCP quer que o processo de venda do Novo Banco seja anulado imediatamente e que em simultâneo se nacionalize aquele banco, ficando a funcionar a par da Caixa Geral de Depósitos como banco público, sem qualquer tipo de fusão. Já sobre a CGD, Jorge Pires, membro da Comissão Política do Comité Central comunista, diz que o partido defende a sua recapitalização e que a reestruturação não inclua a redução de trabalhadores nem de agências.

Lembrando a subida de 90% dos lucros deste primeiro semestre do Santander, o banco que comprou o Banif no final do ano passado depois da injecção de capital público para limpar os activos tóxicos, o responsável comunista afirmou que o partido continuará a exigir a nacionalização da banca e, no imediato, a passagem formal para a esfera pública do Novo Banco. Uma exigência que vem no seguimento de afirmações públicas de outros bancos e fundos que estão interessados na compra do Novo Banco.

“O povo português não tem nem deve pagar a entrega de instituições saneadas com fundos públicos aos grandes tubarões bancários transnacionais, como aconteceu com a compra do Banif pelo Santander”, lembrou Jorge Pires. O PCP receia que venha a acontecer ao Novo Banco o mesmo que ao Banif – ser entregue por um valor irrisório “depois de o Estado português ter assumido uma parte muito significativa dos custos da resolução do BES, mais de 4000 milhões de euros”.

Para o PCP, a solução, além da nacionalização, é manter o Novo Banco independente da Caixa Geral de Depósitos, sem qualquer intenção de fusão. Jorge Pires argumentou que nos anos 70, na sequência da nacionalização, os vários bancos ficaram na órbita do Estado e “interagiam na economia, no apoio às famílias e empresas de forma diversificada, sem impedir que criassem valor”. Questionado pelo PÚBLICO sobre o facto de o panorama económico ser hoje diferente e se não há o risco de o Novo Banco – o terceiro maior banco português – e a CGD canibalizarem o mercado reciprocamente e, como consequência, ser necessário reduzir a estrutura de ambos, o responsável comunista recusou tal cenário. “Despedimentos, não. Falamos na valorização do banco, não desvalorização.”

“O processo de recapitalização é separável da reestruturação da empresa”, defendeu Jorge Pires. Uma coisa é recapitalizar para “suprir a necessidade de a Caixa ter capital para a sua actividade” – e “não faz sentido que o Estado, seu único accionista, não o possa fazer”. “Outra é a ideia de que a CGD deve diminuir a sua actividade no mercado por imposição do BCE”, afirma o responsável. “Isso está a ser entendido como se devesse encerrar balcões, reduzir trabalhadores e livrar-se de algumas actividades – como já aconteceu com o grupo segurador, um activo importante vendido a um fundo chinês.”

O responsável comunista aproveitou para criticar PSD e CDS por terem querido avançar com a comissão de inquérito à Caixa para “desacreditar e desvalorizar” o banco público e para “esconder o processo de privatização que o seu Governo tinha iniciado a partir de 2011 – de que a capitalização com o recurso a 900 milhões de euros não deixa dúvidas”. Jorge Pires lembra que esta capitalização foi feita através de CoCo’s, que são títulos convertíveis em capital quando o banco não consegue pagar ao Estado o dinheiro que ali injectou – foi assim que o capital do Banif passou para a esfera pública.

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