Passos diz que atitude de Costa face à Altice é "quase terceiro-mundista"

Líder do PSD recusa responsabilidades na privatização da Portugal Telecom e diz que "não compete ao Governo estar a fazer publicamente uma espécie de bullying" sobre empresas como a Altice.

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LUSA/FERNANDO VELUDO

Criticar em público uma empresa como a Altice pode ser "uma espécie de bullying" ou pode ser uma coisa "quase terceiro-mundista". E a atitude do primeiro-ministro, António Costa, face à multinacional que chegou a acordo para comprar a Media Capital, dona da TVI, dá "uma péssima imagem". Quem o diz é Pedro Passos Coelho, presidente do PSD, o partido com mais assentos nas bancadas da oposição.

"Temos regras, leis e reguladores a quem cabe zelar pelo cumprimento dessas leis, não é ao Governo directamente nem ao primeiro-ministro que compete estar a fazer publicamente uma espécie de bullying sobre determinadas empresas, nomeadamente essa", afirma Passos Coelho, respondendo a uma pergunta sobre a Altice, que chegou a acordo com o grupo espanhol Prisa para a compra da Media Capital por 440 milhões de euros.

Não foi a primeira vez que o principal rival do socialista António Costa abordou o assunto. Já antes tinha criticado o actual primeiro-ministro por "admoestar" a Altice em pleno parlamento, durante o debate do estado da Nação.

Na quarta-feira, durante o debate, o primeiro-ministro manifestou-se apreensivo com o futuro da PT, agora propriedade da multinacional Altice, dizendo temer pelo futuro de postos de trabalho e apontando a uma das operadoras "falhas graves" no incêndio de Pedrógão Grande. "Receio bastante que a forma irresponsável como foi feita aquela 'privatização' possa dar origem a um novo caso Cimpor, com um novo desmembramento que ponha não só em causa os postos de trabalho, como o futuro da empresa", declarou o primeiro-ministro.

Passos entende que Costa não pode falar apenas com base em suspeitas ou receios. "Se o governo está preocupado, tem muita gente, ministros, secretários de estado, directores-gerais, que podem falar com a administração dessa empresa e saber o que se passa", salientou o líder social-democrata. 

"Eu não aceito que um Governo queira estar a discriminar negativamente empresas apenas porque há o receio de que alguma coisa possa não estar a ser cumprida. Se é assim, o Governo tem de dizer o que é e tem de assegurar o cumprimento das regras", afirmou.

O acordo Altice/Prisa ainda terá de ser aprovado por reguladores em Portugal e Espanha, bem como pelos accionistas da Prisa. E há obstáculos que podem condicionar esse acordo.

"Sem paciência para insinuações" 

À noite, em Valença, Pedro Passos Coelho, reiterou que não foi o Governo chefiado por ele que privatizou a Portugal Telecom (PT) e enviou mais uma farpa ao primeiro-ministro: "Já não há paciência para insinuações maldosas em relação ao passado."

"A PT não foi privatizada por mim enquanto estive no Governo. Relativamente à PT, o Governo que eu liderei só fez uma coisa: cumprir uma medida que estava no memorando de entendimento e que era acabar com a golden share que o Estado detinha. Foi um compromisso do engenheiro Sócrates e do professor Teixeira dos Santos no memorando de entendimento. Foram eles que puseram lá: acabar com a golden share. A privatização já tinha sido feita antes e nós cumprimos aquilo que estava no memorando de entendimento", disse.

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Arménio Belo / Lusa

No encerramento da convenção autárquica distrital do PSD de Viana do Castelo, Passos acusou o primeiro-ministro de estar "a atirar a responsabilidade sobre o que se passa hoje na PT" para o Governo anterior.

"Devia saber que não fomos nós que privatizámos a PT. Devia deixar de estar sempre a fazer insinuações sobre o passado porque já não há paciência para as insinuações maldosas que o Governo, no seu todo, faz em relação ao passado", disse, dirigindo-se a António Costa.

Na quarta-feira, durante o debate do estado da Nação, na Assembleia da República, António Costa manifestou-se apreensivo com o futuro da PT, agora propriedade da multinacional Altice, temendo mesmo pelo futuro de postos de trabalho.

"Receio bastante que a forma irresponsável como foi feita aquela privatização possa dar origem a um novo caso Cimpor, com um novo desmembramento que ponha não só em causa os postos de trabalho, como o futuro da empresa", declarou, na altura, o primeiro-ministro.

Esta noite, em Valença, Passos Coelho afirmou que o Governo "não só não faz nada que se veja, em termos estruturais, em termos relevantes, como continua com a chamada política de comunicação a querer apropriar - se do bom que outros fizeram e, por outro a lado, a acrescentar coisas más que o Governo anterior não fez, mas que ele quer que se acredite que fez".

"Uma pessoa mais desatenta pensaria que foi uma privatização que o Passos Coelho fez, mas o Passos Coelho não fez nenhuma privatização da PT", insistiu.

Passos Coelho afirmou ainda que o Governo "passa a vida" a dizer que é necessária "uma economia competitiva, inovadora, com qualificações elevadas, a gerar mais rendimentos, mas os resultados que se vêm não são esses".

"Quase dois anos depois o que vemos? Nunca houve tantos trabalhadores a ganhar Salário Mínimo Nacional (SMN) e o salário médio no país baixou. Porquê? Se o Governo está sempre a dizer que não podemos ter uma economia de baixos salários, que está a apostar na qualidade, na inovação, que está apostar nas qualificações e, portanto, no ensino superior e na investigação, porque é que as pessoas afinal ganham cada vez mais salários mais baixos, mesmo contando com o aumento do SMN? O que é que isto quer dizer? Quer dizer que vai uma distância imensa entre aquilo que se diz e aquilo que se faz", sustentou o líder do PSD.

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