Passos Coelho legitima maioria de esquerda

Na primeira noite do congresso social-democrata, o presidente do partido inverteu o discurso e assumiu-se como líder da oposição

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Pedro Passos Coelho não tem adversários neste congresso Martin Henrik
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Compromisso reformista é o título da moção de Passos Coelho Adriano Miranda
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Ex-primeiro-ministro dirige-se pela primeira vez aos congressistas Martin Henrik
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Congresso decorre na Nave Desportiva de Espinho Adriano Miranda
<i>Compromisso reformista</i> é o título da moção de Passos Coelho
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Passos Coelho antes de discursar Martin Henrik
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O presidente do PSD à chegada ao congresso Adriano Miranda
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José Eduardo Martins, uma das vozes críticas à direcção de Passos Adriano Miranda
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Marco António Costa Adriano Miranda
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Adriano Miranda
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Passos Coelho no final do primeiro dia do congresso Adriano Miranda

Pedro Passos Coelho subiu ao palco do 36.º congresso do PSD para se assumir como líder da oposição e legitimar a maioria de esquerda. O presidente do partido deixou o passado para trás na segunda meia hora do discurso, que durou mais de 60 minutos, e aproveitou ainda para traçar uma linha de demarcação na relação do Presidente da República com os partidos.

Depois de a maioria de esquerda ter sido apelidada de “negativa”, quando derrubou o Governo PSD/CDS, a mesma maioria é agora legitimada pelo líder do PSD. “Estamos na oposição e lidamos com o Governo que tem a legitimidade do Parlamento. Se a maioria que nos impediu de governar era nessa acepção negativa, a actual maioria evoluiu para uma maioria positiva”, declarou Pedro Passos Coelho na abertura do 36.º Congresso, que decorre este fim de-semana na Nave Desportiva de Espinho.

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O líder do PSD e ex-primeiro-ministro legitimou assim o Governo do PS apoiado pelo BE e pelo PCP e liderado por António Costa. Passos Coelho considerou mesmo que “essa maioria sustenta o Governo, identifica-se com o Governo”. Apesar de reconhecer que há “arestas não limadas”, o líder social-democrata considera que a maioria tem vindo a consolidar-se. “O PCP, PS e BE podem constituir uma maioria um pouco estranha mas consistente e suficiente para o primeiro-ministro poder dizer que não precisa dos votos do PSD”. E rematou sobre a maioria de esquerda, dizendo que “o país tem uma maioria clara” que “assegura a estabilidade política”.

Passos Coelho começou a sua intervenção afirmando: "Não embarcamos em revisionismos oportunistas", rejeitando seguir a opinião dos comentadores que pedem que o PSD se "reinvente", o presidente dos sociais-democratas afirmou: "Tenho consciência de ter contribuído para que o nosso país tenha uma perspectiva de futuro bem diferente daquela que herdámos quando chegámos ao Governo em 2011."

Reconhecendo, mais uma vez, que não fez "tudo bem", o líder social-democrata afirmou: "Não podemos repetir os erros de ter um modelo económico como no passado."

Falando perante um pavilhão cheio, depois de ter sido aplaudido de pé quando subiu ao palco, Passos Coelho disse que o seu Governo deixou "um instrumento fundamental" para o futuro com o Portugal 2020, salientando a sua preocupação com o Programa Nacional de Reformas agora lançado à discussão política pelo Governo do PS e pelo primeiro-ministro.

Passos Coelho não deixou de celebrar a eleição de um segundo Presidente do PSD, mas salientou que ele "deve exercer o mandato com a preocupação de unir os portugueses". Apesar de manifestar “orgulho” por ver eleito um ex-presidente do PSD pela segunda vez, o líder social-democrata não deixou de demarcar o terreno entre os partidos e aquele órgão de soberania. Marcelo Rebelo de Sousa “é Presidente de todos os portugueses e não um elemento de afirmação política dos sociais-democratas”, afirmou, defendendo que a eleição do Presidente da República “deve garantir um exercício à margem dos partidos”. E rematou: “Apesar de não poder legislar, pode e deve exigir-se o exercício de uma magistratura de influência onde não deve faltar espírito de entreajuda com os órgãos de soberania em que se destaca Governo e Parlamento e em que deve estar presente o interesse estratégico nacional e não a espuma dos dias”.

O líder do PSD anunciou ainda a constituição de uma comissão autárquica para preparar as eleições de 2017, que assumiu como objectivo do partido, e reafirmou a disponibilidade para um acordo com o PS sobre sustentabilidade financeira da Segurança Social. 

Espinho aqui tão perto

Apesar de ter tocado no tema do resgate, do legado do seu governo, da vitória do candidato do centro-direita nas presidenciais e de o facto de o PSD ter ganho as eleições para ficar na oposição, a intervenção de Pedro Passos Coelho teve como pretexto a apresentação da sua moção de estratégia global. Este tipo de texto tem uma especial importância, porque, em circunstâncias normais, pode lançar as bases de um futuro programa eleitoral. Mas Passos fez questão de dizer que “não há eleições legislativas à vista”. Só regionais (Açores) este ano e autárquicas, em 2017.

A moção Compromisso Reformista dedica-se às questões que o líder do partido considera prioritárias, entre elas a natalidade, a sustentabilidade do sistema público de pensões (Passos voltou a apelar ao PS para procurar um consenso com o PSD), a excelência do Serviço Nacional de Saúde, o crescimento verde e a qualificação das pessoas, sem esquecer o modelo económico. A maior surpresa foi ouvir o ex-primeiro-ministro dizer: “Estamos na oposição e lidamos com um Governo que tem a legitimidade do parlamento”. Essa sim, foi a grande mudança no seu discurso.

O congresso de Espinho começou morno, mas com música – houve dois momentos musicais antes da intervenção do líder –, e até a voz crítica mais esperada foi comedida à chegada. O ex-deputado José Eduardo Martins chegou à Nave Desportiva de Espinho antes de Passos e a primeira farpa foi para os ausentes: “Gostava que todos tivessem vindo discutir isso, Espinho é pertíssimo”.

De seguida, lembrou que "não há oposição nenhuma" no PSD. “Todos éramos livres de nos candidatar, isso não aconteceu. O partido só quis ter este líder, é este líder que vamos ter de apoiar e ajudar”, disse.  “O PSD está confrontado com o facto de haver um paradigma político, fruto da necessidade de sobrevivência de António Costa, onde temos um Governo PS apoiado pelo PCP. Este é o nosso primeiro congresso desde que isso aconteceu, espero que não nos seja alheio”.

O espectáculo já começou, em Espinho. Mas ainda não teve brilho.

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