PS, PSD e PCP vão a Luanda acompanhar eleições

CDS segue "com expectativa a consolidação de todo o processo democrático" e BE diz que "traços ditatoriais do regime levantam as maiores dúvidas sobre a credibilidade do processo"

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"Em Angola, [as eleições] nunca foram limpas e decentes. E estas continuam no mesmo modelo" Enric Vives-Rubio
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rcl Ricardo Castelo NFACTOS

Entre os partidos portugueses, PS, PSD e PCP deverão ter representantes em Luanda a acompanhar as eleições e os três partidos foram convidados pelo partido do Governo angolano. Os socialistas foram convidados pela Comissão Nacional de Eleições angolana e pelo MPLA e irão enviar Porfírio Silva, deputado e elemento da Comissão Permanente do PS, disse ao PÚBLICO o responsável pelas relações internacionais do PS. Francisco André especificou ainda que Porfírio Silva irá no âmbito de uma delegação parlamentar da CPLP. E o PCP contou que o deputado António Filipe se irá deslocar a Luanda para “acompanhar, na qualidade de observador internacional, a realização das eleições em Angola” a convite do MPLA.

Questionado sobre as expectativas em relação às eleições e ao futuro próximo de Angola, o PS afirma que “tem acompanhado com atenção o desenrolar do processo eleitoral” e desejou que este “decorra de forma tranquila e democrática”. O partido diz estar “empenhado em aprofundar as relações de amizade e cooperação” para uma “maior proximidade” entre os dois países e acredita que “este momento eleitoral será mais um passo importante no caminho do fortalecimento e da consolidação” dessas relações.

Por seu lado, o PSD também acompanhará o acto a convite do MPLA, enviando o deputado Luís Vales. O partido, no entanto, não quis pronunciar-se sobre o sufrágio e remeteu comentários para quando decorrer o acto eleitoral. As eleições estão a ter a atenção do CDS – mas o partido não faz análises sobre o que está em jogo no país. O deputado Pedro Mota Soares lembra que Portugal tem uma "ligação histórica e efectiva" com Angola. "O actual Presidente da República não se candidata e há dois partidos da oposição que podem surpreender", observa o antigo ministro da Solidariedade e Segurança Social. "Seguimos com muita expectativa a consolidação de todo o processo democrático", acrescentou.

Apesar de questionado sobre as expectativas e sobre o que representam para o futuro de Angola estas eleições, o PCP foi lacónico na resposta por escrito que enviou: "Naturalmente, as eleições na República de Angola são um importante momento de exercício de soberania do povo angolano quanto ao seu futuro, que só a este compete, no quadro do normal funcionamento das  suas instituições e das normas constitucionais e legais do seu país.”

O Bloco, o partido mais crítico do regime angolano e que nos dois últimos anos levou ao plenário da Assembleia da República votos de condenação pela repressão sobre activistas que motivaram acesas discussões, considera que estas eleições “trazem uma confirmação e uma novidade”. “Trazem a confirmação de que, independentemente do que venham a ser os resultados, os traços ditatoriais do regime levantam as maiores dúvidas sobre a credibilidade do processo eleitoral”, critica a eurodeputada Marisa Matias. “É conhecido o tratamento desigual dado às várias candidaturas e os ataques violentos sobre iniciativas de campanha” acrescenta a bloquista, lembrando que Angola “recusou assinar um memorando de entendimento com a União Europeia para observação do processo eleitoral”. Por isso, “a existência de vários partidos, por si só, não garante que se trate de um processo democrático”. Por outro lado, a “novidade é que se torna cada vez mais evidente a contradição entre a cleptocracia corrupta do regime e as aspirações de mudança protagonizadas pelos protestos dos últimos meses, pelo movimento dos 15+2 ou pela greve de fome de Luaty Beirão.”

Anteontem, o socialista João Soares criticou duramente o regime angolano em declarações à Lusa. "Em Angola, [as eleições] nunca foram limpas e decentes. E estas continuam no mesmo modelo: não há observação eleitoral internacional, não há cadernos eleitorais decentes, não há presença dos partidos de oposição nas estruturas da direcção do processo eleitoral", apontou o deputado e ex-ministro, que participou em várias missões de acompanhamento eleitoral em África e foi próximo da UNITA, o principal partido da oposição. “Aquilo é uma fraude montada de uma ponta a outra”, vincou, acrescentando que "durante muitos anos foi um poder de partido único, num regime comunista como do Leste da Europa e depois passou a ser um regime pluripartidário, com a presença de vários partidos políticos, mas nunca houve eleições legítimas e sérias”.

Há um ano, os maiores partidos portugueses foram convidados pelo MPLA para o seu congresso em Luanda. O PS enviou o presidente, Carlos César, e a secretária-geral-adjunta, Ana Catarina Mendes; pelo PSD estiveram os vice-presidentes Marco António Costa e Teresa Leal Coelho; os centristas enviaram o seu responsável para as relações internacionais, Luís Queiró, e o deputado Hélder Amaral, enquanto Paulo Portas foi convidado a título pessoal; e o PCP enviou Rui Fernandes, do Comité Central. Bloco, PEV e PAN não foram convidados. Com S.R., M.J.L. e L.V.

Notícia actualizada às 12h46 de domingo com a informação de que o PSD também irá acompanhar as eleições angolanas.

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