Os apoios por detrás da campanha de Belém

Quem são os cidadãos que deram o pontapé de saída para a corrida presidencial da deputada socialista? E que matérias tentou esta regular no Parlamento na última legislatura?

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Maioria das iniciativas de Maria de Belém no Parlamento não teve a ver com a Saúde Miguel Manso

Professor Catedrático. Advogado. Gestora. Médico. Escritora. Foi sob esta forma genérica que surgiu o movimento de 100 subscritores, provenientes da sociedade civil, que apelaram à candidatura para a Presidência da República da socialista Maria de Belém. A iniciativa foi o preâmbulo para o anúncio da decisão da ex-ministra em avançar para o mais alto cargo político do país.

Atrás de nomes à partida desconhecidos encontram-se as ligações de muitos anos de actividade política e profissional da ex-presidente do PS. Nomes importantes da banca, da indústria e até das sociedades secretas que existem em Portugal.

A iniciativa “Esta é a hora da cidadania” coligiu o apoio de “100 cidadãs e cidadãos” que fizeram questão de destacar que o apelo estava “para além dos seus interesses pessoais, sectoriais, políticos ou religiosos”. Ainda assim, designações como “director bancário”, “farmacêutica” ou “advogado” não revelavam tudo sobre os apoiantes de Maria de Belém. O peso e influência destes 100 apoiantes é maior do que parece à primeira vista.

Ana Paula Martins surge identificada no manifesto como “farmacêutica”. Além disso é também directora para as relações externas da Associação Nacional de Farmácias e, até há um ano, directora para os Assuntos Externos e de Acesso ao Mercado da multinacional Merck. Uma das empresas a quem Maria de Belém prestou serviços de “consultadoria esporádica”, na declaração de Registo de Interesses depositada no Parlamento.

Por seu turno, Luís Rodeia surge identificado como “director bancário”. De forma mais precisa está ligado a uma entidade do universo BES – a BES Numismática – que gere o museu da moeda e que até 2006 foi presidente da ESEGUR. No registo de interesses apresentado à Assembleia da República por Maria de Belém, esta assinala a “consultadoria esporádica” a outra empresa da esfera BES, a “Espírito Santo-Unidades de Apoio à Terceira Idade, agora, Luz Saúde”.

A banca está ainda representada por Carlos Mascarenhas de Almeida. Identificado no apelo como “administrador da banca”, é o presidente do Conselho Fiscal do BPI e do Conselho de Administração do BFE, do mesmo grupo.

Jorge Armindo surge identificado como “empresário”, o que não deixando de ser verdade não reflecte toda o seu peso na economia portuguesa, uma vez que este apoiante é presidente da Amorim Turismo. Foi também o homem que comprou a fábrica de cerveja ao ex-presidente do Sporting, Sousa Cintra.

Outra figura importante desse sector é Júlia Valente-Rodrigues, que é apresentada como “gestora”. Uma identificação mais precisa coloca-a como administradora do Grupo Altis, cadeia de hotéis, onde aliás o PS costuma instalar o seu quartel-general nas noites eleitorais.

Ivo Pinho é referido como “economista”, apesar de ser um ex-director das Alfândegas, ex-presidente do IFADAP (Instituto de Financiamento e Apoio ao Desenvolvimento da Agricultura e Pescas) e ex-líder parlamentar do defunto PRD do ex-presidente da República, Ramalho Eanes.

Já Cipriano Oliveira, além de ser o “advogado” identificado no apelo, é também presidente da Sociedade Promotora de Escolas, associação educativa de inspiração maçónica, dependente do Grande Oriente Lusitano. E além disso gere o IPEM (Instituto Português de Estudos Maçónicos).

Também Adriano Eliseu surge como “publicitário” apesar de ser o fundador da agência de publicidade Markimage, uma das mais importantes da história do sector no país.

Tal como Maria de Belém, Eliseu passou pelo Ministério da Saúde, embora numa data posterior. Foi assessor para a área da comunicação daquele gabinete ministerial entre 2002 e 2004, durante o Governo de Durão Barroso.

O sector da Saúde foi, precisamente, um dos temas em que Maria de Belém trabalhou nos últimos quatro anos enquanto deputada. Foi a primeira proponente num conjunto de propostas do PS, embora essa primazia estivesse também ligada ao seu cargo de presidente do PS. Foi a primeira subscritora do projecto de lei sobre regime das directivas antecipadas de vontade em matéria de cuidados de saúde e que propunha a criação do Registo Nacional de Directivas Antecipadas de Vontade. A proposta resultou num texto final acordado entre partidos que foi aprovado por unanimidade.

Já a proposta, em que surge como segunda subscritora, de alteração do modelo de cobrança regular e coerciva de taxas moderadoras não teve a mesma sorte, tendo sido rejeitada com os votos da maioria.

Mas a maioria das iniciativas legais apresentadas pela agora candidata não se centrou na Saúde. Patrocinou e viu aprovada por unanimidade a alteração à Lei da Nacionalidade que permite a naturalização de descendentes de judeus sefarditas portugueses.

Também conseguiu fazer aprovar uma outra sua iniciativa revia a lei que regula os termos e condições em que grupos de cidadãos eleitores exercem o direito de iniciativa legislativa junto da Assembleia da República, eliminando a discriminação relativa aos portugueses residentes no estrangeiro.

Foi a primeira subscritora de uma proposta de criação de uma taxa adicional em sede de IRC, recusada pelo PSD e CDS. Avançou também com outras duas iniciativas com o objectivo de defender os postos de trabalho nos consulados portugueses.

E durante os últimos quatro anos de Parlamento fez 17 intervenções. Um número que será certamente ultrapassado nas semanas de campanha eleitoral para a Presidência da República.

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