O pior resultado de sempre para Edgar mas Jerónimo não se dobra

“Havia condições” para Marcelo ser derrotado “se todos estivessem envolvidos”. Não há consequências para o acordo com o PS, garante Jerónimo, que admite que um candidato ou uma candidata “engraçadinha” podiam ajudar o PCP a ter mais votos.

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Jerónimo de Sousa queixou-se da cobertura da campanha da comunicação social Rui Gaudêncio
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Foi o pior resultado eleitoral de sempre para o PCP. Não chegou aos 200 mil votos nem aos 4%. Mesmo assim, Jerónimo de Sousa e Edgar Silva usaram o termo mais suave que conseguiram encontrar para reconhecerem que estas presidenciais não correram nada bem ao PCP – pelo seu resultado e pela eleição, já ontem, de Marcelo.

“Ficou aquém do desejável”, disseram ambos, no Centro de Trabalho Vitória, quando não havia dúvidas de que Marcelo era Presidente à primeira volta e que Edgar ficava em quinto lugar, atrás de Marisa Matias e Maria de Belém. E assim ficava confirmado que o PCP, se não ganha sempre, pelo menos nunca perde.

Não haverá explicação para o sucedido: num Centro de Trabalho Vitória com meia centena de militantes, sem uma bandeira ou reacção aos resultados, onde o PCP e Edgar Silva acompanharam o escrutínio, dirigentes do partido multiplicaram-se em declarações para televisões, rádios, imprensa, dizendo até ao último segundo que nada estava decidido e ainda havia hipóteses (remotas) de uma segunda volta, e que o candidato tinha feito uma campanha de mobilização como nenhum outro. Não chegou.

Jerónimo de Sousa haveria de reconhecer depois que esse entusiasmo e empenho dos militantes nas últimas semanas foram insuficientes. “Uma característica que temos é que trabalhamos muito e lutamos muito e nem sempre isso resulta no aumento do número de votos. O PCP tem muito mais influência social e política do que influência eleitoral.” Edgar Silva vincou: “Alguma justiça se terá que fazer no sentido de reconhecer que nem tudo dependia de nós…”

 “O objectivo central e fundamental era contribuir para a derrota do candidato PSD/CDS. A eleição estará garantida à primeira volta, esse resultado político estratégico e prioritário não foi alcançado”, admitiu Edgar, indo mais longe que Jerónimo. O candidato realçou a expressiva votação na Madeira, onde como candidato à Assembleia Legislativa regional costuma ter cerca de 7 mil votos e agora conseguiu 22 mil. “Na Madeira, milhares de pessoas superaram preconceitos pela primeira vez (…) Gente de vários partidos deu o seu voto de confiança à coerência e aos valores desta candidatura.” Mas também não chegou.

Edgar Silva, que é deputado da CDU na Madeira e membro do Comité Central, fugiu a responder se esta candidatura lhe abre as portas a outras tarefas no PCP ou se vê o seu futuro no continente – além da Madeira também teve um grande resultado no concelho de Avis, onde ganhou, brincou. Mantém como objectivo “continuar a sonhar coisas impossíveis”. “A História é feita de intermitências e não termina esta noite”, disse.

De Marcelo, Jerónimo disse ser um “factor negativo que não pode deixar de levantar legítimas inquietações quanto ao seu futuro mandato. Quer pelas concepções que assume quanto à Constituição, quer quanto ao indissociável percurso com a política de direita e o PSD”.

Sem consequências no acordo com o PS
Jerónimo de Sousa afastou qualquer ideia de o resultado ter consequências para si enquanto secretário-geral, prometendo o mesmo empenho no partido, “ao contrário de outros que à primeira dificuldade desertam e abandonam”. O resultado desastroso vai ser analisado na reunião do Comité Central de terça-feira.

Mais importante, o líder comunista recusa que o desaire tenha influência no relacionamento com o PS e no equilíbrio de forças dentro do acordo das esquerdas. Edgar teve menos de metade da votação de Marisa Matias, menos de metade da votação da CDU nas legislativas de Outubro. Jerónimo salientou que se esse entendimento com o PS não é medido pelo número de deputados e de votos nas legislativas também não são os resultados das presidenciais que vão ter peso. “Da nossa parte a forma, a sinceridade e seriedade com que nos dirigimos ao PS, nada altera aquilo que entendemos ser o nosso compromisso e convergência.” E acredita que o empenho do PS também não sofrerá qualquer abalo.

O PCP, apoiante da candidatura de Edgar Silva, colocara com objectivo principal evitar que Marcelo vencesse à primeira volta. Jerónimo de Sousa criticou o resto da esquerda, afirmando que “havia condições para [a candidatura da direita] ser derrotada se todos estivessem envolvidos”. Não esteve: o PS não se chegou à frente para apoiar formalmente, com a sua máquina, qualquer nome, e Marisa Matias, com o ataque cerrado a Maria de Belém por causa da polémica da subvenção vitalícia, ajudou a abrir um buraco gigantesco no flanco da esquerda, pontos preciosos que poderiam empurrar Marcelo para uma segunda volta. A acusação estava lá, nas entrelinhas.

Jerónimo não poderia deixar de se queixar também da comunicação social e soube dar o remoque certeiro quando, dois minutos depois de ter começado a falar, as três televisões mudaram os directos dali para Passos Coelho – “Já estamos acostumados”, criticou, e daí a minutos a emissão voltou ao Centro Vitória.

A crítica para a outra esquerda viria a ser retomada mais à frente, quando Jerónimo de Sousa disse que o partido não troca a “forma séria de estar na política, valores e princípios” por mais votos. “Podíamos apresentar uma candidata assim mais engraçadinha, um discurso populista, seria fácil aumentar votação. São opções e eu não quero criticá-las. Mas nós preferimos o combate de ideias”, sentenciou. “Conhecemos muitos êxitos, recuos, inêxitos, as vitórias nãos nos descansam e as derrotas não nos desanimam”, continuou, para rematar: “As palavras que utilizamos ‘A luta continua'… vão ver que se vão aplicar no concreto, à situação actual.”

Notícia corrigida dia 26: mudou-se a entrada retirando a expressão caras larocas para candidato ou candidata “mais engraçadinha"

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