O padrão Marcelo

A campanha do actual Presidente provou que as máquinas eleitorais são dispensáveis

Marcelo Rebelo de Sousa gastou apenas 179 mil euros para conquistar 2 413 956 eleitores e ser eleito Presidente da República à primeira volta. Para se ter uma ideia exacta da dimensão deste feito, basta ter em conta que Sampaio da Nóvoa, Marisa Matias e Maria de Belém, segundo, terceiro e quarto classificado, respectivamente, tiveram que despender 924,5 mil euros, 303 mil e 541 mil para arrecadarem, pela mesma ordem, 1 062 138, 469 814 e 196 765 votos. A diferença é abissal! Claro que Marcelo é uma figura particular, quer em termos de personalidade, quer pelo seu percurso político, quer pela singularidade da sua relação com os media, mas estas características, por si só, não explicam os modestíssimos gastos da sua campanha eleitoral. Sobretudo tendo em conta as despesas verdadeiramente astronómicas que têm atingido os vários sufrágios ao longo dos anos. E já que o mote é a eleição para a chefia do Estado, a exorbitância foi atingida, em 2006, por Cavaco Silva e Mário Soares que gastaram, respectivamente, 3 194 100 e 3 478 400 de euros, apesar de, ao tempo, serem as duas figuras políticas mais conhecidas e com maior influência da democracia portuguesa. O primeiro venceu o escrutínio, mas gastou cerca de dezoito vezes mais do que Marcelo, agora. Soares ficou-se pelo terceiro lugar.

A campanha de Marcelo provou duas coisas: a primeira é que a grande fatia dos gastos é engolida pelas máquinas eleitorais, esses organismos predadores de grande parte do esforço e prestígio dos candidatos; a segunda é que essas máquinas são absolutamente dispensáveis. Pelo menos na dimensão autofágica que lhes conhecemos. Claro que é mais fácil impor regras e erguer barreiras quando a eleição é nominal, mas seria útil que os dirigentes partidários tirassem as devidas lições do padrão instituído por Marcel. Até porque é natural que os portugueses estejam mais atentos do que nunca. A democracia tem custos, sim, e é importante que todos estejamos dispostos a pagá-los. Mas há limites.

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