O Funchal como barómetro para as lideranças políticas madeirenses

Não será decisivo, mas o resultado autárquico na capital do arquipélago pode clarificar o apoio que as lideranças regionais do PSD, PS e CDS têm das bases.

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O resultado autárquico do Funchal pode ter leituras regionais? Gregório Cunha

Quando as urnas fecharem no próximo dia 1 de Outubro, é para a contagem de votos do Funchal que os principais partidos madeirenses vão estar a olhar. É que no actual xadrez político regional, a capital madeirense reveste-se de uma importância nunca vista em 40 anos de autonomia, e por isso não se estranha que PSD, PS e CDS apostem forte no Funchal.

É verdade que não é líquido que as eleições autárquicas, e o Funchal em particular, sejam decisivas para as actuais lideranças partidárias regionais, mas os resultados que daí saírem podem ajudar a perceber melhor até que ponto os partidos estão mobilizados em torno de Miguel Albuquerque (PSD), Carlos Pereira (PS) e António Lopes da Fonseca (CDS).

Nestas contas, o independente Paulo Cafôfo que conquistou a autarquia funchalense em 2013 à cabeça de uma coligação de partidos montada pelo PS, é uma espécie de ‘joker’. Um outsider, embora cada vez mais rodeado de militantes socialistas na equipa, que é principal alvo a abater pelo PSD e CDS.

Os sociais-democratas anunciaram em Março o que há muito já se sabia. Rubina Leal, a popular secretária regional dos Assuntos Sociais e Inclusão do governo de Miguel Albuquerque, é o nome escolhido para (tentar) recuperar a capital madeirense para o PSD. Rubina Leal, que cumpriu dois mandatos como vereadora de Albuquerque no Funchal, tem conseguido passar ao lado da erosão que o executivo social-democrata tem sofrido nestes dois anos de governo. Dossiers como o novo hospital, as falhas na saúde, as ligações aéreas a Lisboa e a linha marítima de passageiros para o continente, são pedras no sapato do executivo, mas os ecos dessas críticas passam longe do gabinete da agora candidata.

Mesmo no interior do partido, que ainda guarda marcas do confronto eleitoral que marcou a sucessão de Alberto João Jardim, esta socióloga de 50 anos é uma figura consensual.

A proximidade junto da população mais desfavorecida, pelo percurso profissional e político ligado às causas sociais, tem-lhe granjeado popularidade, que saiu reforçada no pós-incêndios de Agosto do ano passado, quando foi o rosto do governo na reconstrução da ilha.

Mas do outro lado também mora popularidade. Paulo Cafôfo, o professor de História que saltou do sindicato e das salas de aulas para infligir a maior derrota eleitoral a Jardim, tem sabido gerir as expectativas dos funchalenses, apostando no contacto com as populações e num marketing político que lhe tem valido críticas à direita, que o acusa de anunciar mais do concretizar.

Cafôfo responde com a dívida herdada do anterior executivo, que tem conseguido reduzir, enquanto vai tentando reconstruir a coligação ‘Mudança’ que o elegeu em 2013. Dos seis partidos iniciais (PS, BE, PAN, MPT, PND e PTP) apenas socialistas e o Bloco já garantiram o apoio. O PND de Gil Canha e o PTP de José Manuel Coelho saíram com estrondo da vereação menos de um ano depois de terem sido eleitos, tornando-se feroz oposição da gestão camarária. O MPT, que surgiu na Madeira de uma dissidência do PS, recusa estar ao lado deste, e já lançou Roberto Vieira como candidato. Também o PAN, seguindo orientações nacionais, deverá avançar com uma candidatura própria.

Para contrapor estas saídas, Cafôfo tem negociado com outras forças políticas. Já garantiu o apoio do Nós, Cidadãos, do PDR e do JPP, o partido que, tal como Cafôfo surpreendeu a região em 2013, ao conquistar a câmara de Santa Cruz.

Mas este último apoio, negociado directamente por António Costa quando esteve na Madeira para o rebranding do Aeroporto da Madeira – Cristiano Ronaldo, à revelia do PS local, não agradou os socialistas, que olham para o JPP mais como um rival do que como um aliado.

A correr por fora, mas também com uma palavra a dizer num cenário pós-eleitoral, está o candidato do CDS. A Rui Barreto, actual líder parlamentar dos centristas no parlamento madeirense, reconhecem-se capacidade de trabalho e uma longa experiência política, com passagens por São Bento e pela vereação do Funchal.

Do mar laranja, a um oceano de cores

Em 2013 o PSD de Jardim perdeu sete dos 11 municípios madeirenses. A Madeira, que até aí era um mar laranja, passou a ter uma geografia autárquica de vários tons. Além do Funchal, as câmaras de Machico, Porto Santo, Porto Moniz (todos do PS), Santa Cruz (JPP), Santana (CDS) e São Vicente (movimento independente) mudaram de mãos.

Albuquerque quer recuperá-las e não se tem cansado de repetir que o objectivo do partido que governa a Madeira é voltar a liderar a maioria das autarquias. Não será fácil, mas também não é impossível.

Calheta, Câmara de Lobos e Ponta do Sol deverão continuar laranja, permanecendo a dúvida em relação à Ribeira Brava onde o PSD governa, mas optou por retirar a confiança ao actual autarca, Ricardo Nascimento, e lançar Nivalda Gonçalves. Nascimento está a tentar avançar como independente e deverá contar com o apoio do CDS e com militantes social-democratas insatisfeitos com esta decisão do partido.

Certas, mas para a oposição, parecem estar as autarquias do Porto Moniz e de Santana, com o PSD a ‘recuperar’ São Vicente, através do apoio ao actual presidente José António Garcês e militante do partido, que em 2013 concorreu sozinho em desacordo com Jardim.

As incógnitas ficam para Machico, Santa Cruz, Funchal e Porto Santo. Nesta última, uma luta fratricida entre socialistas poderá beneficiar o PSD.

 

 

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