O antídoto de Marcelo

Marcelo assinalou um consenso político que não é assumido, mas também não é contestado no dia-a-dia da governação: o do pragmatismo. E pediu o que é decisivo: resultados.

Foi há uma semana, perante os seus “mestres” - como descreveu aqui no PÚBLICO o Paulo Pena - que Marcelo explicou por que resolveu ocupar todo o espaço que conseguir - o político e o mediático. 

Temos hoje "um problema de fundo” na democracia, disse Marcelo, dividindo-o em "tempo e espaço". Um problema de tempo porque este se acelerou, porque “os media são simplistas e criam disrupções permanentes”. Um problema de espaço, porque os países perderam a dimensão de “soberania" a que só se consegue responder se as instituições funcionarem.

Nesse final de manhã, numa reunião com alguns dos nomes mais importantes da ciência política do último século, o Presidente explicou que é por estas portas que o populismo entra: “Alimenta-se do vazio, prometendo um regresso a um passado que não volta”; “torna-se sedutor” quando as instituições não acompanham o novo ritmo. Daí que ele tente preencher o espaço. E deu um exemplo: lembra-se da queda da avioneta em Tires e de Marcelo ter ido a correr ver o acidente? "O poder político tem de estar pronto a responder a situações como esta”, explicou ele.

Ontem, na Assembleia da República, nas cerimónias do 25 de Abril, Marcelo voltou a preencher o espaço em branco. Depois de a esquerda ter apontado discursos à Europa que falha, depois do PSD ter disparado contra dois projectos “inconciliáveis” (o europeu e o eurocéptico, o do mercado livre e o do mercado dirigido, o do PS e o das esquerdas que o apoiam no Governo), o Presidente tratou de colar as peças e anotar o exemplo português. O bom exemplo, perante o que vemos no turbulento Ocidente.

Marcelo diferenciou alternativas e populismos. E, sem o dizer, assinalou um consenso político que não é assumido, mas também não é contestado no dia-a-dia da governação: o do pragmatismo. “Não trocamos o certo pelo incerto”, disse, como quem diz que o que nos une é ainda mais do que o que nos separa. 

Até agora. Mas os equilíbrios são frágeis e um político nunca consegue preencher o espaço eternamente. ”As democracias precisam de classes médias fortes e elas estão a desaparecer. Há que refazê-las”, dizia o Presidente há uma semana. Ontem completou o parágrafo, virando-se directamente para o Governo e a maioria de esquerda que o suporta: “Nestes dois anos e meio que faltam, terá de ser maior a criação de riqueza e maior a sua distribuição”. Porque é disso que os populismos se alimentam: da desresponsabilização, da ausência de resultados e do enfraquecimento da classe média. Marcelo sabe-o. Isso já é uma garantia.

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